Temas violência sexual e direitos à profilaxia pós-exposição marcam segundo dia do evento das Mulheres PositHIVas, no Rio

12 de março, 2014

(Agência de Notícias da Aids) Profissionais da saúde e lideranças feministas estiveram, nessa quarta-feira (12), na Escola de Enfermagem Anna Nery, no centro do Rio, para dar continuidade à ação de lançamento do projeto “Flores Vermelhas”, promovida pelo Movimento Nacional das Cidadãs PositHIVas (MNCP). No segundo dia de evento dedicado às mulheres soropositivas, foram debatidos temas polêmicos, como a violência sexual e a PEP sigla para Profilaxia Pós-Exposição.

“Já me prostitui e, devido ao meu trabalho, fui estuprada por um grupo de homens, numa comunidade. Só porque eles me viram na Vila Mimosa (local de prostituição na região central do Rio) se sentiram no direito de fazer isso comigo. Fui agredida de todas as formas.” Esse foi um dos desabafos de Luciana, uma ativista carioca.

De acordo com uma pesquisada publicada pela revista britânica, “The Lancet”, uma em cada 14 mulheres sofre violência sexual no mundo, 8,3% delas, no Brasil. Para a ginecologista Elaine Pires (foto ao lado), uma das responsáveis pelo Centro de Assistência Multiprofissional à Violência Sexual do Hospital Geral de Nova Iguaçu, o preconceito e a ignorância são dois dos maiores problemas que levam ao abuso sexual. “Infelizmente, a nossa cultura tem esse preconceito. Se uma jovem passar de minissaia e top numa rua à noite, as pessoas vão julgar e dizer que ela está procurando (ser abusada)…”

Elaine ainda afirmou, na mesa de discussão, que os hospitais públicos não estão preparados para atender às vítimas desses abusos. “O acompanhamento especializado para vítimas de abuso sexual não existe. As meninas vão para casa cheias de medicamentos, medos e traumas. Não há atendimento psicológico e assistência social para elas. Elas precisam de mais cuidados, só a PEP não basta.”

A profilaxia pós-exposição (PEP) é uma forma de prevenção da infecção pelo HIV usando quatro tipos de drogas em dois medicamentos diferentes. A medicação precisa ser tomada no período de 28 dias com orientação médica, e a dose emergencial, em até 72 horas após a violência sexual.

A PEP, segundo exposição de Elaine, foi desenvolvida no início dos anos 90. As primeiras tentativas foram realizadas em médicos, enfermeiros e técnicos de laboratório acidentalmente feridos por agulhas, ou que entraram em contato íntimo com líquidos corpóreos infectados. A partir de 1996, com o aparecimento dos novos antirretrovirais a profilaxia ganhou mais eficácia.

A ginecologista reiterou que,em casos de estupros, diversos fatores podem acabar ocasionando a infecção pelo HIV. “O agressor costuma ser promiscuo, o contato acaba sendo violento, acarretando possíveis ferimentos. Alguns também fazem uso de drogas injetáveis. Ou seja, está tudo ligado á exposição ao vírus.”

Para Elaine, a atitude de alguns portadores do vírus HIV que não contam ao seu parceiro sua condição, às vezes também pode representar uma forma de violência sexual. “A profilaxia também é feita nesses casos, aqui no Brasil.” Ela ainda afirmou que a educação é fundamental. “Quando as pessoas são educadas a usar o preservativo da forma correta é completamente possível evitar a infecção.”

A ativista e uma das organizadoras da Marcha das Vadias, Indianara Siqueira, comentou sobre o papel da polícia carioca em casos de violência sexual. “Existe um alto índice de estupro no Rio de Janeiro. Mulheres e adolescentes têm medo e vergonha de ir até a polícia. Muitos dos policias não sabem atender a uma vítima de estupro, não sabem como tratá-la.” Indianara ainda falou sobre sua experiência fora do Brasil. “Quando estive na França, precisei fazer a profilaxia pós-exposição mas não precisei me expor no hospital. Aqui, no Brasil, os profissionais da própria saúde não sabem lidar com a situação. Alguns ainda culpam a mulher.”

A médica Elaine Pires frisou que, no Brasil, a profilaxia faz parte das políticas públicas. “É uma obrigação internacional dos governos prover esse medicamento e um dever da vítima procurar ajuda. Ela, primeiro, deve ir até uma delegacia próxima, que vai encaminhá-la para um hospital.”

Ana Carolina Brito, Rio de Janeiro

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