Brasil teve 119 mil nascimentos a menos entre 2015 e 2016, período de maior circulação do zika

30 de maio, 2018

Adiamento da gravidez e abortos podem explicar queda, analisa levantamento publicado no ‘PNAS’. Maior diminuição ocorreu a partir de abril de 2016.

(Bem Estar, 30/05/2018 – acesse no site de origem)

A chegada do vírus da zika entre 2015 e 2016 pode ter puxado o número de nascimentos para baixo no Brasil: nesse período, o país teve 119.095 nascimentos a menos que o esperado, diz estudo publicado no “Proceedings of the National Academy of Sciences” (PNAS).

Pesquisadores analisaram banco de dados brasileiros a partir de setembro de 2015 — segundo a análise, a queda começou a ficar mais acentuada a partir de abril de 2016 (com uma diminuição de 0,05).

A pesquisa teve como primeiro autora Marcia Castro, da Universidade de Harvard. Outros pesquisadores, incluindo brasileiros participaram do trabalho: Lucas Carvalho (Universidade Federal de Minas Gerais), Cesar Victora (Universidade Federal de Pelotas), Giovanny França (Ministério da Saúde no Brasil) e Qiuyi Han (Harvard).

Mapa publicado no estudo mostra a distribuição brasileira dos casos de anomalias em crianças associadas ao zika; o marrom mais escuro indica as regiões com maior concentração de casos (Foto: Marcia C. Castro et al/PNAS)

Mapa publicado no estudo mostra a distribuição brasileira dos casos de anomalias em crianças associadas ao zika; o marrom mais escuro indica as regiões com maior concentração de casos (Foto: Marcia C. Castro et al/PNAS)

Apesar do estudo não ter estudado especificamente a influência do zika, pesquisadores acreditam que a epidemia por zika e sua divulgação influenciaram a queda nos nascimentos — principalmente no que tange às más-formações de fetos e crianças.

“Argumentamos que o adiamento da gravidez e um aumento nos abortos podem ter contribuído para o declínio dos nascimentos”, concluem os autores no estudo.

“Também é provável que tenha ocorrido um aumento nos abortos seguros, ainda que seletivos por status socioeconômico”, disseram.

O achado da pesquisa é corroborado por outras: um levantamento brasileiro entre 30 de março e 3 de junho de 2016 mostrou que 18% mais mulheres passaram a utilizar contraceptivos no Nordeste.

No entanto, a crise econômica, um outro fator que conhecidamente afeta a decisão de ter filhos, pode ser elencada também como uma das razões para a queda dos nascimentos, diz o estudo.

Aborto e desigualdades regionais

Para estimar a quantidade de abortos no período, pesquisadores contabilizaram o número de hospitalizações que podem ter ocorrido por tentativas de interrupção da gravidez.

Com a análise, a pesquisa concluiu que a hospitalização por aborto foi menor que a esperada — o que implica numa maior ocorrência de abortos seguros, posto que essas mulheres não precisariam procurar o hospital.

Para os autores, o dado mostra a possibilidade de um maior número de abortos em regiões de maior renda, fator que pode ter influenciado para uma desigualdade regional da microcefalia — com um maior número sendo registrado na região Nordeste, por exemplo (veja mapa acima).

“A epidemia do zika resultou em uma geração de bebês com síndrome do zika congênita (CZS) que refletem e exacerbam as desigualdades regionais e sociais”, escreveram os autores.

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