Parada mistura festa e demanda contra homofobia

05 de maio, 2014

(O Estado de S.Paulo, 05/05/2014) A Parada Gay de São Paulo trouxe ontem, em sua 18º edi­ção, a mistura da crescente responsabilidade política, com cobranças pela criminalização da homofobia, e as raí­zes de festa, marcada por fantasias e performances artísti­cas. Segundo a Polícia Mili­tar, cerca de 100 mil pessoas foram à Avenida Paulista. Já os organizadores estimam en­tre 3 e 4 milhões.

Leia também: Dilma recomenda Disque 100 contra homofobia: 2012 teve 9,9 mil denúncias (Agência Brasil, 04/05/2014)

O dia de festa, no entanto, ter­minou em desentendimento en­tre a organização e a Prefeitura sobre a coordenação do show de encerramento, na Praça da República.

Nas cerimônias que antecede­ram a festa na manhã de ontem, o presidente da Associação da Parada do Orgulho GLBT, Fer­nando Quaresma, reivindicou a criminalização da homofobia e a aprovação da Lei de Identida­de de Gêneros, que facilita cirur­gia e mudança de registro civil para transexuais.

O governador Geraldo Alckmin (PSDB) ainda anunciou on­tem que o Casarão Franco de Mello, no número 1.919 da Ave­nida Paulista, abrigará o Museu da Diversidade, hoje em um es­paço expositivo na Estação Re­pública do Metrô. “Ela vai ser todinha restaurada.” Alckmin não deu prazo para a abertura do imóvel, que não foi desapro­priado pelo governo. O prefeito Fernando Haddad (PT) e a ministra Ideli Salvatti, da Secretaria de Direitos Humanos, tam­bém participaram do evento.

Mobilização. Em ano eleitoral, representantes de partidos polí­ticos aproveitaram a festa para distribuir santinhos de apoio à causa LGBT. Um boneco inflável do deputado Marco Felicia­no (PSC-SP), que presidiu em 2013 a Comissão de Direitos Hu­manos e Minorias da Câmara sob críticas de movimentos so­ciais, foi visto entre a multidão.

A impressão era de que o público recuou em relação aos últi­mos anos. “Antecipamos em um mês por causa da Copa e es­távamos incertos em relação ao público”, disse Marcos Freire, um dos diretores do evento. “Mas não temos essa preocupação numérica. O importante é que as pessoas estejam na rua.” “Estava bem mais cheio nos anos anteriores”, reconheceu o garçom Marcos Queiroz, de 32 anos, que foi à festa na Paulista pela oitava vez.

Mesmo sem falar o idioma da maioria, o escocês Neil Chris­tensen, de 37 anos, curtiu a fes­ta. ‘Viajei só pela parada e é mui­to animada. Gostaria de vir ou­tra vez”, disse ele, acompanha­do de brasileiros e estrangeiros.

Encerramento. No fim do dia, participantes se concentraram na Praça da República para os shows de encerramento. A prin­cipal atração foi a cantora Wanessa Camargo.

No entanto, os organizadores reclamaram da estrutura or­ganizada pela Prefeitura. “Não conseguimos nem acompanhar o show da Wanessa, porque os seguranças nos impediram de entrar na área na frente do pal­co”, disse o presidente da asso­ciação.

“Faltavam várias coisas, co­mo telão. Os seguranças eram despreparados, alguns até bêba­dos. No camarote, de 600 convi­tes, recebemos só 170”, afirmou Quaresma, que também criti­cou a cantora por cancelar uma entrevista coletiva ao fim do evento.

O coordenador de políticas LGBT da Secretaria de Direitos Humanos, Alessandro Mel­chior, nega. “Fizemos um acor­do sobre as cores de pulseirinhas que seriam liberadas no backstage e eles não obedece­ram. Muita gente tentou entrar sem pulseira e nossos seguran­ças estavam barrando. Mas nossos seguranças acabaram sen­do constrangidos a liberar muita gente, o que gerou vários pro­blemas de segurança na área do palco”, disse Melchior. “A Prefeitura paga dois terços desse evento e nem subiu no palco.”

Por drogas e risco de ataques, PM detém seis pessoas

A Polícia Militar deteve seis pessoas até 19h de ontem na Pa­rada Gay, segundo o tenente-co­ronel Marcelo Pignatari, respon­sável pelo patrulhamento da re­gião. Um dos detidos foi por por­te de drogas. Os outros cinco, segundo Pignatari, faziam parte de um grupo radical e foram fla­grados com soco inglês e macha­dinhas. No trio elétrico, os animadores alertaram o público sobre os riscos de ataques. “Andem em grupos e não aceitem provo­cações. Sabemos que alguns não gostam da gente”, disseram.

Também foram registradas ocorrências de furto e comércio irregular de bebidas, como vinho químico. Quase 1,5 mil PMs e 730 guardas-civis estavam no esquema de segurança. Para atendimentos de saúde, na maio­ria casos de embriaguez, havia 28 ambulâncias e cinco postos médicos. O investimento em infraestrutura, segundo a Prefeitu­ra, foi de R$ 2 milhões. / M.A. e v.v.

Denúncia

A presidente Dilma Rousseff fa­lou ontem, no Twitter, sobre a Parada Gay. Ela lembrou que o módulo LGBT do Disque 100 é a “principal ferramenta no comba­te à violência homofóbica”.

Acesse o PDF: Parada mistura festa e demanda contra homofobia (O Estado de S.Paulo, 05/05/2014)

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