DJ foi chamado de machista em um ‘ao vivo’. Por que ele não é um caso isolado da cena eletrônica

27 de março, 2017

Borgore não é o único. O ‘Nexo’ explica como sexismo na cena da Eletronic Dance Music é um problema maior

No domingo (26), a apresentadora Titi Muller criticou ao vivo o DJ israelense Borgore antes da transmissão de sua apresentação na edição de 2017 do Festival Lollapalooza, em São Paulo, pelo Canal Bis. Muller definiu as letras de Borgore como “extremamente machistas, misóginas” e sua manifestação se espalhou pelas redes sociais.

(Nexo, 27/03/2017 – acesse no site de origem)

O “problema” de Borgore descrito pela apresentadora já é conhecido: em 2014, ele foi declarado “o homem mais odiado do EDM” (Eletronic Dance Music, um subgênero da música eletrônica) pelo Buzzfeed.

O título se deve às letras de conteúdo sexista, como foi destacado por Titi Muller, mas também por comentários nas redes sociais do artista.

Borgore não é um caso excepcional dentro do gênero. O ‘EDM’ recebe críticas frequentes por minimizar a importância das mulheres de sua história, escalar uma grande maioria de DJs homens nos line-ups de festivais de música eletrônica e, ainda, por capas objetificadoras e letras abertamente degradantes para mulheres, com as do DJ e produtor israelense.

ONDE ESTÁ O MACHISMO NA ‘EDM’, EM 4 PONTOS

Pouco espaço dado às mulheres na cena

DJs e produtoras de música eletrônica não só existem, como, nos últimos anos, criaram seus próprios festivais e coletivos.

Ainda assim, listas de DJs relevantes feitas por veículos como Billboard e Forbes contam com presença ínfima de mulheres ano a ano.

Em 2016, a edição comemorativa dos 25 anos da revista “Dj Mag” exibia 25 DJs pioneiros em sua capa – e nenhuma mulher.

A disparidade se reflete na escalação dos festivais: segundo um levantamento feito pelo “Thump”, canal de música eletrônica da revista Vice, a porcentagem de DJs mulheres no line-up dos maiores festivais de dance music dos EUA está entre 2,6 e 9,6%.

Estética objetificadora

Fotos de mulheres em roupas de banho nas capas de coletâneas de Dance Music não são nada incomuns.

Um artigo do site especializado em música Pitchfork constatou que uma busca no YouTube por “electro house”, “deep house” ou “dance music” traz uma série de resultados ilustrados por mulheres seminuas em poses pretensamente sensuais.

Mesmo gravadoras do gênero, como a Ultra Music, exploram bastidores de ensaios fotográficos com mulheres para promover lançamentos.

Muitas das pioneiras do ‘EDM’ não são reconhecidas

Mulheres que fizeram algumas das primeiras experimentações que levaram à música eletrônica e à dance music, como Delia Derbyshire e Suzanne Ciani são largamente marginalizadas pela história oficial do gênero.

O mito de que mulheres ‘não estão interessadas’

Em 2015, uma enquete perguntou aos DJs eleitos pelo público para o Top 100 da revista “DJ Mag”, historicamente dominado por homens, por que não havia mais mulheres na lista. Segundo a editora Charlotte Lucy Cijffers, a descoberta mais decepcionante entre diversas respostas, era o consenso de que mulheres não se interessavam muito, em geral, por dance music.

Segundo a editora, esse consenso é desmentido pelo público dos festivais. Nos Estados Unidos, por exemplo, um número 10% maior de mulheres do que homens foram a festivais do gênero em 2016.

Juliana Domingos de Lima

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