Mulheres moradoras de favelas movimentam R$ 24 bi e demandam cidadania

05 de agosto, 2014

(Agência Patrícia Galvão, 05/08/2014) Nesta quinta (7), às 18h30, na Livraria da Vila do Shopping JK Iguatemi (SP), Renato Meirelles e Celso Athayde lançam Um país chamado favela (Gente Editora, 168 p.). O livro reúne os principais dados da maior pesquisa já realizada sobre a realidade das favelas brasileiras. O Instituto Patrícia Galvão participou do projeto buscando identificar quem são as mulheres que residem nessas comunidades. Os dados mostram a força política e econômica desse segmento da população e suas demandas por cidadania efetiva. No dia 14, o lançamento acontece no Rio de Janeiro, na Livraria da Travessa do Shopping Leblon.

Hoje o Brasil tem cerca de 6 milhões de mulheres vivendo em favelas, majoritariamente concentradas nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro. Em sua maioria elas são negras, casadas e mães, somam um montante de renda anual de R$ 24 bilhões e chefiam 40% dos lares. Entre as que contam com trabalho remunerado, 44% têm emprego formal. E em dez anos dobrou a escolarização de nível médio dessas mulheres, saltando de 16% para 30%. No entanto, demandas básicas de políticas públicas que poderiam assegurar maior autonomia e cidadania a essas brasileiras ainda não foram atendidas. Mesmo o mercado parece não enxergar as necessidades e potencialidades desse segmento, realçando o preconceito historicamente sentido pelos que vivem nessas áreas.

Ainda de acordo com o estudo, a melhoria das condições de vida, possibilitada pelo aumento da média salarial em 54,7% desde 2003, leva a que 2 em cada 3 moradoras entrevistadas não desejem sair da comunidade onde vivem para morar em outro bairro. “Morar na favela não foi uma escolha, e sim uma necessidade. Mas embora ainda enfrentem preconceito e as dificuldades não tenham desaparecido, os moradores e moradoras tendem a avaliar o momento atual como marcado por dias melhores”, afirma o diretor do Data Popular Renato Meirelles.

51% conhecem uma mulher que sofreu agressão doméstica

Entre os entrevistados (homens e mulheres), 51% dos moradores de favelas afirmaram conhecer alguma mulher que já sofreu agressão de um atual ou ex-parceiro e 46% conhecem algum homem que já agrediu a parceira. Esses patamares são muito similares aos verificados em outras pesquisas de caráter nacional, não apontando desequilíbrio entre os índices de violência doméstica nas comunidades e fora delas.

Ainda no aspecto da violência, chama a atenção o fato de 20% dos moradores das favelas conhecerem ao menos uma mulher que já foi estuprada. O dado pode refletir o efeito dos laços de solidariedade ressaltados pelas mulheres durante a pesquisa, que favorecem a relação de confiança das vítimas para relatar o ocorrido a amigas e familiares. Entre as entrevistadas, 66% têm parentes morando na mesma localidade.

Hospitais, postos policiais, creches e serviços são principais demandas

Mais de 87% dos entrevistados (homens e mulheres) relataram ter disponíveis serviços como saneamento básico, coleta de lixo, energia elétrica, posto de saúde, escola e transporte públicos na rua ou na favela onde moram. No entanto, 55% afirmaram não ter acesso a hospital público na comunidade, 50% relataram ausência de posto policial na favela e 32% mencionaram a falta de creches públicas.

Os números estão em consonância com a demanda dessas mulheres por autonomia econômica e segurança/proteção contra a violência, e evidenciam também forte demanda por cidadania.

“Tem crescido na sociedade brasileira como um todo o espaço ocupado pela mulher, e o número de mulheres chefes de família é maior nas favelas que no asfalto.Mas, elas ainda encontram um conjunto de dificuldades para conseguir desempenhar todos os papeis que têm. Temos 25% de mães solteiras nas favelas, por exemplo. E que tipo de políticas públicas temos para essas mulheres? Elas reclamam da ausência de creches, do transporte público que faz com que levem muito mais tempo para ir e voltar do trabalho. E, para falar de igualdade de gênero e do papel da mulher na sociedade, é preciso discutir o conjunto de políticas públicas de suporte à promoção dessa igualdade”, destaca Meirelles.

24% têm Bolsa Família e para 53% já faltou dinheiro para compra de alimentos

A pesquisa levantou ainda que 24% são beneficiários do Bolsa Família (recebem ou vivem no mesmo domicílio com alguém que recebe o benefício). Esse dado, associado ao índice de 44% de participação no mercado de trabalho, aponta no sentido oposto do senso comum que reputa ao programa um “incentivo à acomodação”. Entre as entrevistadas, 74% avaliaram que a vida melhorou no último ano e, dentre elas, a maioria absoluta credita essa melhora ao esforço próprio e à fé.

O índice de recebimento do Bolsa Família também demonstra que a vida na favela, apesar da melhoria das condições sociais, ainda é difícil – 53% afirmaram já ter vivido o drama de não ter dinheiro para comprar alimentos.

O mercado não enxerga a favela

A pesquisa foi realizada com a perspectiva de mostrar como as favelas são também espaços de oportunidades. E os resultados revelam o que Renato Meirelles qualifica como “ignorância e desprezo” dos planejadores de negócios. A maioria dos moradores (homens e mulheres) relatou que só têm acesso à compra de vestuário, calçados e eletroeletrônicos fora da comunidade ou em bairros distantes de suas residências. “Tem muita gente morando nas favelas, pessoas que consomem roupas, serviços bancários e de turismo etc., e que exigem e necessitam do mesmo conforto e praticidade para adquirir que os moradores do asfalto. As empresas que souberem entender essa demanda têm muito mais chance de dar certo. Até porque, se é verdade que as mulheres estão mais no mercado de trabalho, não é verdade que os homens dividiram as tarefas domésticas com elas”, ressalta Renato.

A pesquisa

O levantamento quantitativo domiciliar foi realizado em parceria entre o Instituto Patrícia Galvão, o Data Popular e o Data Favela de 10 a 18/05/2013, em 100 municípios escolhidos através de sorteio amostral. Foram entrevistadas 1.501 pessoas maiores de 18 anos. Os dados receberam ponderação para as variáveis sexo, idade, PEA e região, segundo parâmetros obtidos na PNAD/IBGE para as áreas urbanas. A margem de erro é de 3 pontos percentuais para mais ou menos.

Sugestão de fonte
Renato Meirelles, diretor do Data Popular e do Data Favela
Ascom: (11) 3218.2222 / 2950.2849 / Ana Paula Soares ([email protected]) / Luciana Silva ([email protected])

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