Como o fim dos empregos precários pode impulsionar a igualdade de gênero

25 de julho, 2017

O movimento para acabar com os empregos precários é importantíssimo para as mulheres e para a igualdade de gênero.

(HuffPost Brasil, 25/07/2017 – acesse no site de origem)

É muito provável que você conheça alguém que trabalha meio período, em contratos temporários ou em um emprego mal pago. As pesquisas revelam que é altamente provável que essa pessoa seja uma mulher. No Canadá, 70% das pessoas que trabalham meio período e 60% das que recebem salário mínimo são mulheres. O movimento para acabar com os empregos precários é importantíssimo para as mulheres – e para a igualdade de gênero.

Em Ontário, organizações comunitárias, sindicatos e ativistas lideram campanhas para promover condições de trabalho justas e estão mostrando que sua militância rende frutos. O governo de Ontário promulgou recentemente uma lei que propõe elevar o salário mínimo dos $11,40 (11,40 dólares canadenses, o equivalente a R$28) por hora atuais para $15 por hora até 2019, entre várias outras reformas trabalhistas. A promessa está sendo saudada como algo que pode mudar as regras do jogo e beneficiar vidas.

“As mulheres estão encurraladas em trabalhos em que se exige flexibilidade delas, mas não há flexibilidade que as beneficie.”

Andrea Reynolds e Catherine McLean, YWCA Toronto

Nos programas de Emprego e Treinamento da YWCA (Associação Cristã de Mulheres Jovens) de Toronto, acompanhamos de perto os desafios cotidianos das mulheres no mercado de trabalho. Nas palavras de minhas colegas Andrea Reynolds e Catherine McLean: “As mulheres com emprego precário estão paradas em ponto morto, enquanto à sua volta um país rico prospera e avança. A maioria delas não tem uma solução alternativa com a qual contar para o caso de ficarem sem trabalho ou de um ente querido adoecer. Muitas delas não têm a estabilidade necessária para traçar planos financeiros. Não existe esquema de boa qualidade para cuidar de seus filhos pequenos. Elas são encurraladas em empregos ou trabalhos em que se exige flexibilidade delas, mas não há flexibilidade que as beneficie.”

O trabalho precário impacta determinados grupos de mulheres mais fortemente que outros. Por exemplo, as mulheres de minorias raciais estão desproporcionalmente presentes entre os 20 tipos de trabalho mais mal pagos, incluindo caixas, garçonetes, atendentes de balcões de comida e pessoas que cuidam de crianças. E um estudo da ONG United Way na região de Toronto e York concluiu que mulheres de minorias raciais na região da Grande Toronto e Hamilton viram seu nível de emprego precário subir quase 20% entre 2011 e 2014.

Organizações indígenas reivindicam há anos melhores oportunidades de formação profissional e emprego, para que as mulheres indígenas possam ter acesso a bons empregos com benefícios. Um relatório de 2016 do Conselho Nacional de Desenvolvimento Econômico Aborígene aponta para disparidades econômicas de renda, educação e formação entre as populações indígena e não indígena do Canadá.

As mulheres chegadas recentemente aos programas da YWCA em Toronto nos contam que não é fácil penetrar no mercado de trabalho canadense. Os empregadores frequentemente exigem “experiência no Canadá” para quem quer um emprego, não levando em conta a experiência de trabalho que uma mulher pode ter tido em outro país e ignorando que “o Microsoft Word é igual em todo lugar”, como disse uma mulher. Essa discriminação no mercado de trabalho deixa as mulheres encurraladas em trabalhos precários e mal pagos, limitando suas opções para construírem vida nova no Canadá.

“Quem é contra a iniciativa precisa saber que ela beneficia as mulheres e também a economia.”

Em vista deste contexto mais amplo, a promessa de salário mínimo de $15 por hora nos dá esperança de que isso ajude a arrancar as mulheres da pobreza. Quem é contra a iniciativa precisa saber que ela beneficia as mulheres e também a economia, fato afirmado por mais de 50 economistas destacados. Em um editorial recente, quatro economistas escrevem: “Estudos cuidadosos constatam que os aumentos recentes do salário mínimo elevam o poder de compra dos trabalhadores de baixa renda e reduzem a desigualdade”.

Há muito que podemos fazer para promover essa causa. Una-se ao movimento pelo salário mínimo de $15 e a paridade nos locais de trabalho de Ontário. Seja um consumidor consciente – compre em estabelecimentos que pagam a seus funcionários um salário digno, mais benefícios. E no setor sem fins lucrativos, que enfrenta dificuldades devido à adoção do financiamento baseado em projetos, há um movimento em curso para reivindicar condições de trabalho decente. Dê seu apoio ao movimento.

Um salário mínimo de $15 é um passo progressista no sentido de acabar com o trabalho precário, uma causa feminista que todos deveríamos defender. É uma questão de salários justos, padrões de trabalho e benefícios. É uma questão do direito de se sindicalizar, do direito à dignidade e segurança. E é o reconhecimento de fato de que, quando as mulheres se fortalecem, a mesma coisa acontece com as crianças, as famílias e a comunidade.

Por Etana Cain, Executiva sênior de defesa de causas e comunicações na YWCA Toronto

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