Japão quer mais mulheres ativas no mercado de trabalho

22 de fevereiro, 2018

Aumentar a participação das super qualificadas mulheres japonesas no mercado de trabalho do país é uma das metas do governo do primeiro ministro Shinzo Abe. Dados divulgados em novembro do ano passado pelo governo japonês mostram que o país tinha 28,8 milhões de mulheres trabalhando em 2016, o equivalente a 44,3% da população feminina. Mas a pesquisa mostra que outras 2,7 milhões querem trabalhar mas não conseguem emprego.

(Valor Econômico, 22/02/2018 – acesse no site de origem)

O fenômeno, que no Japão é atribuído a questões como falta de creches, sejam públicas ou nos locais de trabalho, somadas à inexistência de horários flexíveis, não ocorre em outros países desenvolvidos como a Suécia, França, Alemanha e Estados Unidos.

O governo calcula que se a participação masculina e a feminina no mercado de trabalho convergirem até 2030, o PIB do Japão pode aumentar em quase 20%, enquanto a oferta de mão de obra diminuiria 5% quando comparada com um percentual de participação feminina inalterado. A queda da oferta de mão de obra aconteceria mesmo com a entrada de mais mulheres no mercado, uma vez que a população japonesa está em trajetória de declínio.

Uma pesquisa do Ministério de Assuntos Internos e Comunicações do Japão mostra que a participação feminina na força de trabalho faz uma curva em “M” nas idades em que as mulheres costumam casar ou ter o primeiro filho, o que as leva a deixar o emprego. A pesquisa mostra que se 81,7% das mulheres entre 20 e 24 anos estão no mercado de trabalho, esse percentual cai para 73,2% entre 30 e 34 anos e 71,8% entre 35 e 39 anos, subindo depois para 78,5% entre 45 e 49 anos.

O esforço para empregar e promover mais mulheres está sendo levado a sério em um país que tem uma população de 65 milhões de mulheres, segundo dados deste ano, muitas delas com alto grau de educação. Em 2015 o gabinete do primeiro ministro Shinzo Abe aprovou o “Quarto Plano Básico para Igualdade de Gênero”, que pretende reformar algumas práticas do mercado de trabalho, inclusive rural, incluindo a tendência a cumprir longas jornadas. Para alcançar o objetivo, algumas obrigações foram impostas para órgãos públicos e corporações privadas com mais de 300 empregados, entre elas a de contratar mais mulheres e aumentar a participação delas em cargos gerenciais e executivos.

Entre as metas para 2020 está, por exemplo, aumentar de 72,7% para 77% a taxa de emprego de mulheres com idade entre 25 anos e 44 anos; e também a participação de mulheres em cargos de direção de empresas privadas dos 10,3% verificados em 2016 para 15%. A preocupação com a integração de mais mulheres tem razões facilmente identificáveis, como assinala Kyoko Hokugo, diretora da divisão de difusão de gênero do Ministério de Relações Exteriores do Japão.

“A sociedade está envelhecendo e menos crianças estão nascendo. Tradicionalmente a mulher ficava em casa e uma minoria trabalhava fora. Mas agora mais delas trabalham fora de casa e achamos muito importante que elas queiram isso, pois ter mulheres qualificadas em casa é uma perda para a força de trabalho”, afirma Kyoko.

Dados de uma pesquisa sobre fertilidade no Japão mostram que o percentual de mulheres que continuam trabalhando após o nascimento do primeiro filho variava em torno de 40%, mas aumentou para 53,1% no período entre 2010 e 2014. Já o percentual de mulheres que deixaram o emprego depois de engravidar caiu de 42,8% no período de 2005-2009, para 33,9% nos cinco anos seguintes.

A jornalista Nami Abe, chefe do Centro de Inovação Editorial da Nikkei Inc., uma organização de mídia que tem 3,2 milhões de assinantes das edições impressa e digital, afirma que quando começou a trabalhar como repórter na empresa, em 1999, muitas mulheres saíam do emprego justo quando se tornavam produtivas para as companhias. Hoje, diz ela, alguns líderes de empresas japonesas acham que é preciso mudar o sistema de recursos humanos. “Trabalho flexível não é uma questão de gênero”, afirma.

Nami Abe afirma que o Japão está passando por uma fase de transição, e explica que a mentalidade já começou a mudar nas empresas japonesas com atuação global, mas o ritmo é mais lento entre as que operam apenas no país. Kyoko Hokugo, do Ministério de Relações Exteriores, explica que o primeiro ministro Abe tenta promover mulheres, mas muitos homens que hoje estão na liderança de empresas ainda têm “ideias antigas”.

Cláudia Schuffner

Nossas Pesquisas de Opinião

Nossas Pesquisas de opinião

Ver todas
Veja mais pesquisas