Alunas da PUC espalham cartazes contra violência sexual em Perdizes

13 de maio, 2016

(Folha de S.Paulo, 13/05/2016)  “Perdizes é um dos bairros mais hipócritas que eu conheço, e é um desprazer frequentá-lo. Na noite de ontem [25 de abril], perto da PUC-SP, fui abordada por três infelizes e, bom, não é necessário ter muita criatividade para entender todo o contexto (três contra uma).”

O relato prossegue e dá conta do roubo e do assédio sofrido por uma aluna do curso de jornalismo noturno da faculdade, no bairro de classe média da zona oeste da cidade.

Segundo o que a estudante descreve, e foi publicado no site do VOA –coletivo feminista da universidade–, “o maior deles me segurava e fez o que sentiu vontade, com meu vestido levantado. Não, não houve penetração! Apanhei, fui tocada e, por sorte, tudo não demorou muito tempo pra acabar”.

Cerca de dez dias depois desse caso, ocorrido entre as ruas Itapicuru e Cardoso de Almeida, foram relatadas duas tentativas de abordagem, dessa vez na rua Bartira, a poucos metros da PUC.

Os suspeitos tinham as mesmas características do primeiro ataque: altos, bem vestidos e um deles com cabelos compridos até os ombros. De acordo com o relato da aluna de jornalismo, pareciam estar drogados.

“A gente não pode afirmar que são os mesmos caras, mas há semelhanças entre as situações. Pelo o que elas disseram é o tipo de gente que tem certeza da impunidade”, diz Bianca Gancedo, 21, que também cursa jornalismo.

Esses casos acenderam o alerta entre as estudantes, que passaram a se organizar para sair das aulas à noite. Por um grupo de WhatsApp, elas combinam de deixar juntas a PUC, em direção, por exemplo, ao ponto de ônibus.

Outra iniciativa foi colar cartazes pela região: “Atenção, fui assediada aqui – Em caso de agressão, abuso e assédio, ligue 180”. Esse é o número da Central de Atendimento à Mulher, que há dois anos funciona como disque-denúncia.

ROTINA

As alunas da PUC dizem que o assédio e a violência estão longe de ser uma raridade na região da universidade.

Natália Mota, 19, jornalismo; Bianca Gancedo, 21, jornalismo;Júlia Alimari, 20, direito; Anna Laura Moura, 21, jornalismo; Beatriz Inocêncio, 20, letras; Luciana Marx, 27, ciências sociais; Amanda Pina, 21, jornalismo. Integrantes do coletivo, três delas sofreram violências –que se não chegaram à crueldade do caso relatado no site, estão longe de serem esquecidas.

Beatriz conta que foi assediada enquanto colava os cartazes de alerta. Bianca, por sua vez, além de assediada foi agredida por um motoboy que a abordou próximo à PUC. “Era meio-dia, estava atravessando a rua com uma amiga quando um motoqueiro mexeu com a gente. Minha amiga mostrou o dedo do meio para ele”, diz

“Ele voltou e começou a falar coisas muito pesadas. Pedi para ele ir embora e ele continuou insistindo, dizendo que ia me levar para um canto e ‘mostrar como se faz’.” Quando ela disse que ligaria para a polícia, recebeu um tapa no rosto. A jovem registrou boletim de ocorrência, mas diz não acreditar que o agressor vá ser punido. Situação parecida relata Luciana.

A PUC afirma, em nota, que tem recebido denúncias e está tomando providências. “Lamentamos profundamente e ressaltamos, no entanto, que nenhum caso de assédio sexual foi registrado nas dependências da universidade”. A instituição diz ter recorrido à Polícia Militar, “para ampliação do patrulhamento no entorno” e à subprefeitura “a fim de que melhore a iluminação na região”.

Segundo a PUC, as alunas atingidas, dentro ou fora da universidade, podem procurar a direção. Também orienta que a polícia seja avisada. A Secretaria de Segurança Pública diz que o policiamento preventivo resultou em 59 prisões em flagrante neste ano na região. Afirma também que o 23º DP (Perdizes) não registrou nenhum boletim de ocorrência de violência sexual com as características citadas.

No entanto, após denúncia anônima recebida na última semana, a polícia investiga um homem que estaria perseguindo mulheres na área. No site do coletivo, a aluna de jornalismo assediada concluiu seu relato: “A minha dor valeu um pino de coca, ou não sei quanto de crack, ou não sei o quanto de que”.

EMILIO SANT’ANNA
DE SÃO PAULO

Acesse no site de origem: Alunas da PUC espalham cartazes contra violência sexual em Perdizes (Folha de S.Paulo, 13/05/2016)

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