Alunas de escola pública de SP denunciam professores que teriam banalizado estupro e assédio: ‘sangue ferveu’

14 de março, 2018

Meninas da Etesp afirmam que docentes foram machistas e desrespeitosos. Instituição de ensino diz que os profissionais se retrataram.

(G1, 14/03/2018 – acesse no site de origem)

Alunas da Escola Técnica Estadual de São Paulo (Etesp), no centro da capital paulista, protestaram contra dois professores da instituição, em 7 e 8 de março. Após ouvirem deles afirmações como “quem precisa apagar a lousa são as alunas” e “estupro não acontece” se uma das pessoas não quiser, as estudantes se levantaram e caminharam em direção à coordenação. O vídeo que mostra os gritos de protesto viralizou nas redes sociais.

Em nota, o Centro Paula Souza admitiu que o desrespeito ocorreu e que os professores “já se retrataram com as alunas” (veja nota abaixo)

‘Mulher que apaga a lousa’

O primeiro episódio ocorreu no dia 7 deste mês, quando um professor de logística chamou uma das meninas para apagar a lousa. “Ele chegou perto da aluna e disse ‘limpa direito’, com os braços cruzados, olhando como se estivesse analisando o trabalho dela”, conta uma das jovens da sala. “Logo depois, falou para o resto da turma: ‘toda vez que tiver desenho na lousa, vou chamar uma aluna para limpar’ e deu ênfase que seria aluna, não aluno”, completa.

Logo em seguida, a turma questionou a postura do docente. Em resposta, ele teria dito: “Mulher que faz esse tipo de coisa. É trabalho de mulher limpar.”

Estupro x aceitação

Em 8 de março, Dia Internacional da Mulher, outro professor, dessa vez na aula de tecnologia de processos, teria pedido para que a turma escolhesse um tópico para ser debatido. Os jovens elegeram o tema “mulheres que fizeram história na luta”.

Segundo alunas da classe, o debate começou pacífico, sem comentários machistas. Mas, no decorrer da aula, o docente passou a fazer “provocações para promover a discussão”. “Ele comparou estupro com uma linha e agulha, alegando que ‘se um não for, nada vai acontecer’”, conta uma estudante. “Como se o estupro não ocorresse caso um não permitisse.”

Ao debaterem sobre isso, o professor teria dito também que, se alguma mulher visse outra ser estuprada, não deveria ajudar, já que “ela sabe se defender sozinha”.

‘Se o problema é olhar para mulher na rua, melhor a gente usar óculos escuros’

Na mesma discussão sobre feminismo, o professor teria dito que a culpa de uma mulher ser assediada ou estuprada é inteiramente dela. “Ele falou que se a gente sai de shorts na rua, tá assumindo o risco de que algo aconteça”, denuncia o grupo de meninas da turma.

“Ele disse também que ‘se o problema é olhar para as meninas, então melhor usar óculos escuros, porque desse jeito não dá para ser percebido”, completa.

‘Vai ver ele só queria comemorar o Dia da Mulher passando a mão em você ‘

A revolta maior da classe ocorreu logo após uma das alunas dizer que, no ano anterior, havia sido assediada voltando para casa, no metrô. Ela teria perguntado ao professor: “Se o senhor fosse mulher e sofresse assédio, no ‘seu dia’, como se sentiria?”.

A resposta, segundo a classe, foi a seguinte: “Vai ver ele só queria comemorar o Dia das Mulheres passando a mão em você”.

Todas juntas na diretoria

Após essa última provocação do professor, as alunas saíram da sala quando ainda faltavam 50 minutos para a aula terminar. Elas se juntaram a outras garotas da escola e entoaram gritos de protesto na sala da coordenação:

“A gente não abaixa a cabeça.”

Pedido de desculpas

Segundo o Centro Paula Souza, responsável pela gestão da escola, os professores entraram nas salas de aula para pedir desculpas às alunas.

Veja a nota divulgada pela instituição, reproduzida na íntegra:

“A Assessoria de Comunicação do Centro Paula Souza informa que a instituição não compactua com nenhuma forma de desrespeito à mulher e a qualquer pessoa.

Seguindo normas regimentais, tão logo a direção da Etec tomou conhecimento do ocorrido, convocou e orientou os professores mencionados, que já se retrataram com as alunas.”

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