Quase metade dos feminicídios em SP ocorre por separação, aponta MP

02 de março, 2018

Levantamento indica ainda que em 66% dos casos, vítimas foram atacadas dentro de casa, o que revela ‘ato de covardia’, segundo promotora.

(G1, 02/03/2018 – acesse no site de origem)

Um estudo feito pelo Ministério Público revela que 45% dos casos de feminicídio no estado de São Paulo ocorrem por separação ou pedido de separação. O levantamento “Raio X do Feminicídio” mapeou onde, quando e por que esses crimes acontecem.

Feminicídio é o termo usado para o assassinato de mulheres por causa do gênero – ou seja, a mulher é morta, geralmente pelo namorado, marido ou ex-companheiro, por ser mulher e não conseguir se defender.

Leia mais: 45% dos feminicídios ocorrem durante processo de separação (Destak, 01/03/2018)

Segundo o “Raio-X do Feminicídio”, em São Paulo 45% dos crimes ocorreram por separação ou pedido de separação, 30% por ciúmes ou posse e 17% em meio a uma discussão.

A pesquisa feita pelo Núcleo de Gênero do Ministério Público analisou 364 casos de feminicídio em 121 cidades no estado de São Paulo, incluindo tanto os casos em que as mulheres foram mortas pelos agressores, quanto aqueles em que elas sobreviveram, mas havia vontade dos agressores de matá-las.

No estudo foram observados os locais onde os crimes ocorreram, as motivações e as armas utilizadas com o objetivo de entender este tipo de crime, como acontece e se as medidas protetivas funcionam, de fato.

66% atacadas dentro de casa

O estudo indica ainda que em 66% dos casos, as vítimas foram atacadas dentro de casa, 6% em via pública, 5% no trabalho e 5% em estabelecimentos públicos. De acordo com a promotora Valéria Scarance, o dado desmistifica a violência contra a mulher, frequentemente justificado como um “ato de amor”.

“Em regra, a mulher morre dentro de casa, com mais de um instrumento, com repetição de golpes. Isso mostra que o feminicídio é um ato covarde, praticado quando a mulher não consegue se defender”, explica a promotora de Justiça. “A violência contra a mulher não é um ato de amor, não é um ato de paixão, mas sim, uma violência cruel”, continua.

O levantamento também identificou que, na maior parte das vezes, as agressões acontecem durante a semana, e não como a maioria das pessoas pensa e tenta justificar os atos do homem, como sendo atos nos finais de semana causados pelo consumo de bebidas alcoólicas.

Outra conclusão do grupo de promotores foi que a violência contra mulher não atinge apenas a mulher.

“A cada quatro feminicídios, um tem outra vítima, além da mulher – filhos e filhas, mães, parentes, um novo parceiro, um vizinho que tenta ajudar”, disse a promotora Valéria Scarace. “Esse dado nos surpreendeu e mostra que o feminicídio não é uma violência só contra a mulher, o que já é muito, mas também um crime contra a família, contra a sociedade, um crime devastador. Um generocídio”, completou.

O estudo “Raio X do Feminicídio” mostra a importância de que as mulheres denunciem os casos de agressão e ameaça, que antecedem as fatalidades, pois grande parte das vítimas que morreram, identificadas no levantamento, não haviam registrado e registrem um boletim de ocorrência e, assim, não tinham medida protetiva.

Adriana Perroni

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