25/02/2012 – Fama de durona de Dilma aproxima “dama de ferro brasileira” de Margaret Thatcher

25 de fevereiro, 2012

(O Estado de S. Paulo) A fama de durona da presidente Dilma Rousseff já lhe dava o apelido de dama de ferro brasileira antes mesmo de assumir como a primeira presidente da República. Com o filme A Dama de Ferro nos cinemas, que conta a história da ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher, as semelhanças entre as duas ficaram mais evidentes, segundo especialistas.

O perfil “duro” das duas no poder, segundo cientistas políticos, é a maior semelhança entre elas. São mulheres firmes, conhecidas pelas poucas e duras palavras, paciência zero e exigentes quanto à competência das pessoas e realização das tarefas no governo.

O cientista político da UnB (Universidade de Brasília), Leonardo Barreto, acredita que a firmeza das mulheres no poder se deve a uma tática de sobrevivência.

– De uma forma ou de outra, muito pelo preconceito existente num ambiente político essencialmente masculino, essas mulheres são obrigadas a masculinizar suas imagens, a construir uma personalidade muito dura e forte para serem respeitadas.

Para o cientista político da USP (Universidade de São Paulo), Rubens Figueiredo, a semelhança existe, mas os motivos que levam cada uma a adotar uma postura forte são diferentes.

– Dilma é considerada durona, mas isso se restringe muito à área de gestão e à personalidade dela. Ela é rígida no dia a dia, de cobrar posturas e resultados dos ministros, por exemplo. No caso da Thatcher, a dureza se refletiu em todo um modelo de política, principalmente política econômica. São traços de personalidade e trajetória semelhantes que as duas têm, mas que se manifestam de forma diferente.

Em uma das cenas do filme, durante uma reunião com a cúpula do governo, Thatcher não poupa críticas a um dos homens que prepara mal a agenda do dia e comete, inclusive, erros na grafia de algumas palavras. Sem paciência com a “falta de comprometimento”, ela encerra a reunião e dispensa os presentes.

…Nos bastidores da política em Brasília, políticos e assessores comentam que não foram poucas as vezes que a presidente Dilma encerrou reuniões por erros de dados apresentados a ela, falta de informação, entre outras coisas. Nesses momentos, comenta-se que ela não poupa críticas aos colegas e técnicos e reclama de terem a feito “perder tempo para nada”.

Um dos episódios mais recentes deste estilo de Dilma foi o embate com os presidentes dos Clubes Militares. Insatisfeitos com fato de a presidente não ter censurado duas de suas ministras que defenderam a revogação da Lei da Anistia, os militares publicaram uma nota criticando Dilma.

Irritada, ela convocou o ministro da Defesa, Celso Amorim, para pedir explicações e afirmou que os militares, mesmo na reserva, não poderiam peitar a comandante suprema das Forças Armadas. Amorim se reuniu com os comandantes das três Forças, que negociaram com os presidentes dos clubes da Marinha, Exército e Aeronáutica, a “desautorização” da publicação do documento, que foi colocado no site do Clube Militar no dia 16 de fevereiro.

Trajetória política

Margaret Thatcher foi a primeira e, até agora, única mulher a assumir o cargo de primeiro-ministro na Inglaterra. Por 11 anos (de 1979 a 1990) ela governou os britânicos com “mãos de ferro” em uma época de turbulência econômica e Guerra Fria.

No filme “A Dama de Ferro”, apesar de se basear mais na trajetória pessoal e menos nos fatos políticos que marcaram a vida de Thatcher, a trama mostra os episódios cruciais que ela enfrentou, sempre como uma mulher determinada, teimosa, de convicções conversadoras e inabaláveis.

A inglesa, nascida em família humilde, se interessou pela política ainda nova e começou a trajetória como deputada até se tornar líder do partido conservador.

Já Dilma, apesar do interesse pela política e de ter se envolvido ainda jovem na luta contra a ditadura e ter ajudado a fundar o PDT no Rio Grande do Sul, por exemplo, chegou ao cargo máximo de poder no Brasil nos braços do grande aliado e padrinho, o ex-presidente Lula, e pelo perfil técnico que possui.

Para concorrer aos cargos de primeira-ministra e presidente, as duas fizeram toda uma transformação indicada pelos marqueteiros e assessores políticos. Mudaram cabelo, dentes, voz, postura e até mesmo as roupas.

Diferenças

Para o especialista Leonardo Barreto, a trajetória política dessas duas mulheres é um dos pontos mais claros que diferenciam Thatcher e Dilma.

– Thatcher é essencialmente política. Começou a vida como parlamentar, virou líder do partido e se construiu no Parlamento, com apoio da bancada a que pertencia. No poder, fez um governo totalmente reformista, com reformas tributárias, econômicas, liberais. Dilma não passou por isso. Ela ascendeu a partir da competência técnica, foi indicada por um padrinho para concorrer e tem um governo de total continuidade.

Filme

O filme A Dama de Ferro é um roteiro de Abi Morgan e direção de Phyllida Lloyd. Como Margaret Thatcher, Meryl Streep concorre no próximo domingo (26) ao Oscar de melhor atriz. A própria protagonista do filme, que interpreta a ex-primeira-ministra nos anos de poder e na velhice, comentou sobre o fato de mulheres assumirem o poder e falou da presidente Dilma, em entrevista à revista Isto É.

– Dilma é corajosa! Eu a felicito e às outras mulheres no poder por imaginar que ainda existe certo desconforto quando uma mulher conquista uma posição de liderança no cenário mundial. Cada mulher que consegue bater o pé, se fazer ouvir e se tornar uma líder abre um pouco mais a porta para as que virão depois.

Acesse o pdf: Fama de durona de Dilma aproxima “dama de ferro brasileira”  de Margaret Thatcher (O Estado de S. Paulo – 25/02/2012)

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