Um quilombo político possível, por Maíra Vida

Marcha das Mulheres Negras SP Foto Mídia Ninja

Marcha das Mulheres Negras/SP. Foto: Mídia Ninja

21 de setembro, 2022 Folha de S. Paulo

Iniciativas dos movimentos negros e de mulheres negras tornam possível uma outra cultura política

(Maíra Vida/Folha de S. Paulo) São um atrevimento e um privilégio negro a memória e as lutas do presente que expressam a experiência de existência e resistência coletivista, inclusiva e solidária dos quilombos no Brasil. Quilombo é tanto o módulo de resistência que dá musculatura ao movimento de rebeldia permanente e organizada da quilombagem, como diz Clovis Moura no livro “História do Negro Brasileiro”, como, também, território político de sociabilidade disruptiva, diverso e complexo, nutrido por ética, afetividade, justiça e equidade, alicerçado em formulações pragmáticas de bem-viver e responsabilidade comunitária.

Tanto libertário e altivo quanto habilidoso politicamente para seguir em paralelo ao paradigma dominante, o quilombo sustenta a preservação do conjunto de saberes e fazeres comunitários ancestrais enquanto incide engenhosamente no Estado, compelindo as instituições a um deslocamento em direção ao reconhecimento de humanidade e cidadania dos que estão fora da métrica da universalidade.

Conflitos e contradições existem nos quilombos, pois a similitude comunitária não é sinônimo de uniformidade: há sólida compreensão da pluralidade de indivíduos e de coletividades. Os conflitos presentes em toda composição social heterogênea proporcionam crescimento do quilombo, pela afirmação de outras formas organizativas de cultura política, que aproveitam o conjunto tenaz de potencialidades reunidas. O aprofundamento das relações nos desafiará a permanecer e a seguir até onde deveríamos estar, não fosse pelo racismo. A gente se amplia em movimento, se desenvolve, atrita e repactua quando necessário.

O quilombo é um lugar para não esquecer que as opressões que sofremos na base da categorização social são frentes de lutas inseparáveis e que nossas jornadas, ainda assim, podem ser vibrantes e emancipatórias, se enquanto indivíduos e coletividades nos comprometermos a sermos “acendedores de sóis” uns dos outros e do nosso povo, como ensina Aza Njeri.

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