Levantamento quantitativo pioneiro na América Latina mapeia comunidade ALGBT no Brasil

Foto: Sayonara Moreno/Agência Brasil

25 de outubro, 2022 Jornal Unesp Por Malena Stariolo

Resultados apontam que o grupo de pessoas assexuais é o maior, correspondendo a quase 5,8% da população brasileira adulta. Dados mostram que chance de pessoas trans sofrerem violência sexual é 25 vezes superior à de homens hetessexuais e cisgênero

O percentual de brasileiros adultos que se declaram assexuais, lésbicas, gays, bissexuais e transgênero é de 12%, ou cerca de 19 milhões de pessoas, levando-se em conta os dados populacionais do IBGE. É o que mostra um levantamento inédito conduzido por pesquisadores da Unesp e da USP e publicado na revista científica Nature Scientific Reports. Segundo o psiquiatra Giancarlo Spizzirri, da Faculdade de Medicina da USP e autor principal do artigo, esta é a primeira vez que um levantamento do tipo é realizado em um país latino-americano. A pesquisa é fruto do pós-doutorado de Spizzirri, realizado na Faculdade de Medicina da Unesp (FMB-Unesp), em Botucatu. “A maior parte dessas pesquisas ocorrem em países como Estados Unidos, Inglaterra, Holanda, Nova Zelândia e Austrália”, diz o pesquisador.

O estudo buscou mapear a diversidade sexual e de gênero no país, designada pela sigla ALGBT, a partir de uma amostra representativa da população brasileira. Para isso, foram entrevistadas 6.000 pessoas maiores de idade, em 129 cidades, espalhadas nas cinco regiões do Brasil. Os questionários foram realizados pela equipe do Instituto Datafolha, entre novembro e dezembro de 2018.

Em 2019, o IBGE conduziu a primeira coleta de dados sobre orientação sexual. No levantamento, 1,8% da população adulta se declarou homossexual ou bissexual. Entretanto, o instituto não levantou dados sobre aspectos de identidade de gênero, o que envolve categorias como pessoas trans e não-binárias. Tampouco foram levantadas informações sobre outros comportamentos sexuais, como a assexualidade. O IBGE diz que tais resultados têm caráter ainda experimental e que ainda estão sendo conduzidos estudos para aprimorar a metodologia de coleta. Os dados coletados pelo IBGE foram divulgados em maio de 2022 e, desde então, não houve novas pesquisas.

Para Maria Cristina Pereira Lima, diretora da FMB-Unesp, que também participou do levantamento, a importância do estudo está em tirar grupos ALGBT da invisibilidade e permitir a elaboração de políticas públicas direcionadas às necessidades específicas dessas pessoas. “Quando você não identifica quantas pessoas pertencem a um determinado grupo em meio à população, você as invisibiliza. Isso dificulta que se estabeleçam políticas públicas para esse grupo, e que se faça um trabalho de formação de profissionais para atender suas necessidades”, comenta.

Ao comentar o levantamento, Spizzirri destaca dois resultados. O primeiro diz respeito à parcela da população categorizada como assexual, que atingiu uma taxa de 5,76% – o maior percentual dentro da comunidade ALGBT. O segundo envolve os índices de episódios de violência reportados pelos entrevistados. O estudo apontou que pessoas trans podem chegar a sofrer até 25 vezes mais episódios de violência sexual do que homens hétero cis. “Pessoas ALGBT enfrentam piores condições de vida e índices de violência mais altos. O grupo luta contra a desigualdade socioeconômica, o estigma e a discriminação. Isso tem um efeito negativo na escola e no trabalho, bem como no acesso aos serviços de saúde. Como consequência, indivíduos ALGBT têm taxas mais altas de problemas de saúde física e mental”, comentam os autores.

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