O estupro como arma de guerra contra os corpos das mulheres Yanomamis, por Milly Lacombe

violencia_domestica

Foto: Mídia Ninja

24 de janeiro, 2023 Uol Por Milly Lacombe

Estamos apenas começando a finalmente acessar todo o horror e toda a destruição dos últimos quatro anos.

Relatos, dados, imagens e números represados desde 2018 – ou talvez desde 2016 – nos são oferecidos sem cerimônia e sem preocupação de como serão recebidos.

Cada um lida com as imagens que vê e os relatos que ouve do jeito que pode.

Relatos trágicos seguirão chegando: o que se descobriu em território Yanomami é o começo.

Corpos famintos e envenenados pela atuação ilegal de garimpeiros em nossas florestas.

Ilegal, mas protegida por homens poderosos cujos nomes saberemos em breve.

Saques, exploração, usurpação.

Entram, machucam a terra, as pessoas e todos os seres que nela vivem, roubam, matam, ferem, estupram e saem deixando um rastro de devastação a fim de colher seus lucros.

Parte do território Yanomami esteve isolado de cuidados durante o governo Bolsonaro. Remédios não chegavam; denúncias não saíam.

Postos de comunicação foram controlados pelo invasor. O exército brasileiro deu os ombros.

Quem morria, morria uma morte lenta, suja e fedorenta.

Brasileiros esquecidos, corpos matáveis, corpos descartáveis, corpos violáveis.

Bolsonaro nunca negou o que pensa de indígenas. Assim como de gays, de negros e de mulheres.

Não foi acidente, foi planejamento

O discurso é claríssimo desde sempre, mas alguns optaram por deixar isso pra lá “pra acabar de vez com a corrupção em nome da minha família e de Deus”.

O Nazismo prometia a mesma coisa: acabar com a corrupção. Proteger a família. Em nome de alguma coisa sagrada, de uma pátria higienizada.

E, assim como em toda a guerra, nessa travada contra corpos e espíritos Yanomamis há os estupros cometidos pelos invasores.

O coletivo de jornalistas Sumaúma – que fala desde o coração da Amazônia – em setembro de 2022 já havia feito matéria a respeito dos regulares relatos de estupro contados pelas mulheres Yanomamis.

“Por que os garimpeiros comem nossas vaginas?”, perguntava uma habitante do território à reportagem da Sumaúma.

Relatos de estupros coletivos (que envolvem crianças), de envenenamento seguido de estupro, de muita aniquilação e dominação.

Relatos que mal ecoavam e que, quando ecoavam, eram ignorados.

Nessa guerra contra nossas florestas e povos originários, homens morrem de bala, mulheres morrem de pênis.

O corpo do homem capturado para o trabalho, o da mulher capturado para a violação.

O gozo estridente que exala poder e controle.

Historicamente, toda guerra terminada deixa um rastro de mulheres estupradas.

Estupro é tática de batalha.

É uma das formas usadas para desmoralizar o adversário: diminui e desonra a vítima, a família e a sociedade que está sendo aniquilada. É prêmio dado aos soldados vencedores.

Embora seja usado desde a antiguidade como tática de guerra, só em 1998 o uso do estupro em batalha foi considerado crime contra a humanidade.

E apenas em 2014 o tribunal penal internacional reconheceu o estupro como arma de guerra.

Acesse a matéria completa no site de origem.

Nossas Pesquisas de Opinião

Nossas Pesquisas de opinião

Ver todas
Veja mais pesquisas