Como homens podem ser aliados na luta contra a violência de gênero, por Milly Lacombe

30 de janeiro, 2023 Milly Lacombe Por Uol

As acusações de estupro feitas contra Daniel Alves estão chacoalhando a imprensa esportiva e o meio futebolístico. Jogadores, dirigentes, clubes e CBF são cobrados para se manifestarem, para emitir alguma opinião sobre as graves denúncias.

O que se escuta dessa turma que é capaz de se organizar rapidamente para dizer o que pensa das críticas feitas por Casagrande é, até aqui, silêncio.

É apenas natural imaginar que muitos não dizem nada porque, no passado, já abusaram de mulheres e temem que seus nomes sejam expostos por algumas delas. Melhor deixar passar a maré.

Outros tantos não se manifestam porque, além de já terem feito coisas parecidas, não acham que é errado forçar uma mulher a atos libidinosos. O corpo feminino está pra jogo mesmo e danem-se todas vocês chatas pra caramba que só reclamam de tudo. Única mulher que se salva é a minha mãe.

Mas há aquela parcela que quer colaborar com a luta contra a violência de gênero patriarcal e não sabe muito bem como.

Há muitas formas.

A primeira, claro, é não praticar violência de gênero. Pode parecer óbvio, mas é aspecto tinhoso.

Vejam um exemplo simples: você está na balada, vê uma menina interessante e vai falar com ela. Oferece bebidas, leva para um canto, xaveca, xaveca, xaveca. A menina, já mais alcoolizada, parece não querer exatamente o que você quer. Mas ela talvez queira, você pensa, e dá uma forçada. Ela resiste, mas não com firmeza e você interpreta a falta de contundência como “ah, ela quer sim”. Você força um pouco mais.

No final, você pratica atos libidinosos com ela sem saber – ou se importar – se havia consentimento.

Estupro não exige penetração, e é importante saber disso. Qualquer ato libidinoso não consentido pode se enquadrar.

Depois de conseguir o que queria, você se manda.

Essa cena é muito comum. Abusadores não andam por aí com aparência de monstros. Eles são como você.

Então, a primeira coisa a ser feita é entender que a mulher é sujeito pleno.

Não é não e só sim é sim. A mensagem nunca é confusa, você é capaz de saber quando o consentimento é dado e quando, mesmo não tendo sido, você força a barra.

Claro que há aqueles que já erraram e querem ser pessoas melhores. Não é preciso ser leal ao homem que você quer deixar de ser nem ser fiel a erros passados.

Uma segunda coisa a ser feita é se manifestar quando casos como o de Daniel Alves aparecem.

Não é necessário declarar que ele é culpado – coisa que só a justiça espanhola poderá fazer – para se pronunciar contra violência de gênero.

Seria interessante, para começar, ler a farta literatura sobre o tema.

Leiam Paul Preciado, Rebecca Solnit, Virginie Despentes, Françoise Verges, bell hooks, Audre Lorde, Amia Srnivasan.

Aprendam como falsas acusações são raríssimas, como uma mulher é estuprada a cada nove minutos, como a maior parte dos estupros acontece em ambientes familiares, como a maior parte das vítimas é feita de crianças.

Acesse a matéria completa no site de origem.

 

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