09/06/2012 – Mulheres precisam atravessar a fronteira da tecnologia

09 de junho, 2012

(Dana Goldstein, Slate/O Estado de S. Paulo) Setor ainda não viu surgir equivalentes femininos a Jobs, Gates e Zuckerberg

Os Estados Unidos produziram candidatas viáveis à presidência, mulheres atletas que comandam milhões de dólares em patrocínios esportivos, e a primeira economista a ganhar o Prêmio Nobel. Mas ainda não existe uma equivalente feminina de homens como Steve Jobs, Bill Gates e Mark Zuckerberg.

As mulheres continuam atrás dos homens na ciência da computação, setor no qual a parcela feminina da força de trabalho chegou a diminuir nos últimos 25 anos. Hoje em dia, as mulheres detêm 27% de todas as posições de trabalho ligadas à ciência da computação, proporção que era de 30% uma década atrás, e correspondem a apenas 20% dos estudantes universitários de computação, uma queda em relação aos 36% observados em 1986.

A diferenciação tecnológica tem início em casa, onde os meninos ganham seus primeiros computadores e videogames mais cedo do que as meninas, tendo também uma maior probabilidade de se divertir com brinquedos que desenvolvem as capacidades de raciocínio espacial, como o Lego. Ela continua na escola, onde as alunas demonstram menos confiança na matemática, na ciência e na computação, tendência que perdura no universo corporativo.

Mesmo entre os nomes da geração mais jovem de empresas de tecnologia, como Facebook, Google e Twitter, menos de 10% dos programadores – principal emprego do setor – são mulheres, de acordo com especialistas na indústria.

Os efeitos dessa diferença entre os gêneros vão muito além do baixo número de mulheres que criam jogos de videogame e aplicativos para a web junto a equipes masculinas (e que tornam a tecnologia mais consciente das necessidades das usuárias – basta pensar nas respostas que a Siri oferece para perguntas relacionadas ao aborto e as mensagens machistas publicadas pela Asus na sua conta do Twitter).

Nos últimos dez anos, o número de empregos criados nos setores correspondentes à sigla Stem (ciência, tecnologia, engenharia e matemática, em inglês) foi três vezes maior do que aquele ligado aos demais setores, e os trabalhadores dos setores Stem apresentaram uma probabilidade muito menor de enfrentar o desemprego. As mulheres que trabalham em setores Stem têm salários melhores do que as demais: sua renda média é de US$ 31,11 por hora, comparada aos US$ 19,26 das mulheres de setores fora do Stem.

A lacuna salarial entre os gêneros também é menor nos setores Stem: apenas 14%, comparados à diferença de 21% entre os salários pagos a homens e mulheres do restante da força de trabalho.

Os economistas calculam que essa tendência deve continuar na próxima década. E, se as mulheres americanas não forem capazes de dar conta da demanda crescente pela mão de obra nestes setores, as concorrentes o farão. Brasil, Índia e Malásia estão entre as potências emergentes que contam com meninas muito mais bem preparadas para lidar com as ciências da computação.

Fronteira. Sheryl Sandberg, diretora de operações do Facebook, chama a luta para atrair as meninas e as jovens para carreiras no setor da tecnologia de “a grande fronteira da igualdade de oportunidades para as mulheres de nossa geração”.

E Sheryl tem uma sugestão incomum para a superação desta diferença: “Deixem suas filhas jogar videogame. Incentivem suas filhas a jogar videogame!” foi o que ela me disse numa entrevista concedida no segundo semestre do ano passado.

Embora a maioria dos pais fosse capaz de fazer qualquer coisa para evitar que os filhos passassem o dia todo na frente de uma tela jogando games, a experiência com os jogos e com a linguagem dos computadores na infância foi o que motivou muitos programadores a entrar para o ramo, entre eles o chefe de Sheryl, Mark Zuckerberg, fundador do Facebook.

O salto para a computação mais avançada não vem apenas da interação com os jogos – hoje em dia, 94% das meninas brincam com games, comparado a 99% dos meninos -, e sim da curiosidade em relação ao seu funcionamento e das tentativas de manipular o código para alterar o resultado dos games.

Os meninos ainda apresentam uma probabilidade muito maior de se interessar pela exploração deste tipo de programação simples de computador, e nem todas as meninas curiosas em relação ao funcionamento dos computadores têm em casa um pai que as incentive nem o equipamento necessário para dar vazão a esses impulsos.

Os educadores do ensino fundamental e médio sabem da importância de levar as meninas a se interessar pelo tipo de “raciocínio computacional” que torna possível a programação. A Academia de Engenharia de Software, escola pública cujo currículo será criado em torno da programação de computadores e do desenvolvimento para a web, vai abrir setembro em Nova York.

Apenas um quarto da primeira turma será composto por mulheres, mas os fundadores da escola, que têm vínculos próximos com a comunidade tecnológica nova-iorquina, têm planos ambiciosos para reunir as estudantes com orientadoras que trabalhem no setor com o objetivo de reduzir o atrito, conduzir as garotas para carreiras de destaque e recrutar mais alunas para as turmas futuras da escola.  

TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Acesse em pdf: Tecnologia precisa atrair mais mulheres (O Estado de S. Paulo – 09/06/2012)

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