27/12/2012 – Morre Zuleika Alambert, pioneira do feminismo e guerreira das causas democráticas

27 de dezembro, 2012

(O Estado de S. Paulo) Líder feminista Zuleika Alambert morre aos 90 anos

A escritora, política e líder feminista Zuleika Alambert morreu nesta quinta-feira, em sua casa, no Leme (zona sul do Rio), aos 90 anos, vítima de falência múltipla dos órgãos. Ela foi uma das duas primeiras mulheres a se eleger deputada estadual em São Paulo, em 1947 (junto com Conceição Santa Maria, eleita na mesma legislatura). No ano seguinte, porém, Zuleika foi cassada junto com todos os deputados do Partido Comunista Brasileiro (PCB), ao qual era filiada. O partido teve seu registro cancelado pela Justiça após declarar apoio à autonomia do Estado de São Paulo, então ameaçado de invasão por tropas federais.

Antes de ser cassada, Zuleika apresentou um projeto que previa um abono de Natal aos trabalhadores assalariados e foi o embrião do 13º salário. Nos anos 1950 ela foi secretária-geral da Juventude Comunista. Após o golpe militar de 1964, Zuleika saiu do Brasil para fugir da repressão e passou pela Hungria e pelo Chile. Em Santiago, em 1971, participou do Encontro da Juventude Mundial contra a Guerra no Vietnã e ajudou a criar o Comitê de Mulheres Brasileiras no Exílio. Em 1973, após o golpe militar no Chile, recebeu asilo na Embaixada da Venezuela. No ano seguinte foi para Paris na condição de refugiada, sob a proteção da ONU. Em 1979, beneficiada pela Lei da Anistia, Zuleika voltou ao Brasil e passou a participar de movimentos de apoio às mulheres. Fundou o Conselho Estadual da Condição Feminina do Estado de São Paulo e coordenou a Comissão Estadual de Educação, Cultura e Meio Ambiente do Estado de São Paulo.

Escreveu livros como “Uma jovem brasileira na URSS” (1953), “Estudantes fazem história” (1964), “Feminismo: O Ponto de Vista Marxista” (1986) e “Uma mulher na História” (2004). Ultimamente, Zuleika era a inspiradora do movimento de mulheres do Partido Popular Socialista (PPS), particularmente o Núcleo de Gênero Zuleika Alambert. Desde 2010 Zuleika estava com a saúde debilitada, inicialmente em função de uma fratura decorrente de uma queda. Ela também havia desenvolvido tumores no abdômen. Seu velório será nesta sexta (28), das 8h ao meio-dia, no cemitério Memorial do Carmo, no Caju (zona portuária do Rio). Depois o corpo da escritora será cremado.

Acesse em pdf: Líder feminista Zuleika Alambert morre aos 90 anos (O Estado de S. Paulo – 27/12/2012)


Veja também: Obituário de Zuleika Alambert (1922-2012) — Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República (28/12/2012)

 


 

(Assessoria PPS) O presidente nacional do PPS (Partido Popular Socialista), deputado federal Roberto Freire (SP), lamentou a morte de Zuleika Alambert ocorrida na manhã desta quinta-feira (27), no Rio de Janeiro. Freire lembrou a homenagem recente feita pelo partido pela passagem do aniversário da grande militante PCB/PPS. O dirigente destacou a luta de Alambert pelas causas democráticas e pela igualdade de gênero no país.

O local e horário do velório ainda estão sendo definidos por familiares e amigos.

“O PPS amanheceu nesta quinta-feira de luto pelo falecimento de Zuleika Alambert. Há poucos dias homenageamos esta brava mulher pela celebração de seus 90 anos e por sua trajetória pioneira na luta pela igualdade do gênero e hoje, lamentavelmente, nos despedimos. Levamos a nossa solidariedade aos familiares e a todos aqueles que acompanharam a trajetória de Zuleika Alambert.

Brasília, 27 de dezembro
Roberto Freire
Presidente Nacional do PPS”

Homenagem prestada pelo PPS aos 90 anos de Zuleika Alambert

A militante teve destacada atuação política desde os anos 1940, durante a II Grande Guerra, tendo participado de atos públicos e manifestações em defesa dos direitos humanos, das liberdades democráticas, da equidade.

Em 1947, foi eleita deputada estadual pela Baixada Santista, onde juntamente com Conceição Neves Santa Maria seriam as primeiras mulheres em São Paulo a terem assento no Palácio 9 de Julho. Alguns meses depois, o Supremo Tribunal Eleitoral votou a cassação do registro do PCB (Partido Comunista Brasileiro).

Em 1948, Zuleika teve o mandato cassado pela Assembléia Legislativa em cumprimento da sentença do STE, sendo obrigada a mergulhar na clandestinidade (o motivo essencial para a busca e ordem de prisão de todos os parlamentares comunistas do país, deu-se a partir de manifesto por toda a bancada em defesa da autonomia de São Paulo, diante da ameaça de invasão do estado por tropas federais). Quando deputada, apresentou projeto pioneiro que seria o embrião do 13º salário. Seu projeto era para um abono de Natal.

Com a breve redemocratização, ocorrida após o fim da ditadura Vargas, ela foi uma das organizadoras do trabalho do PCB junto aos jovens, sobretudo estudantes, contribuindo para organizar o Centro Popular de Cultura da UNE. Também ocupou o cargo de secretária-geral da Juventude Comunista, militando ao lado de figuras históricas como João Saldanha e Marcos Jaimovitch.

Na década de 1950, teve atuação redobrada em campanhas pela soberania nacional e pelo Estado de Direito. Atuou junto à diretoria da UNE em importantes movimentos, como em favor da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional; em defesa do monopólio estatal do petróleo e das areias monazíticas, contra a entrega de nossas riquezas às multinacionais; pelas Reformas de Base. No Plano Cultural, teve participação destacada na Campanha pela Alfabetização de Adultos; na criação, desenvolvimento e movimentos de cultura popular e CPCs.

Após o golpe de 1964, ela teve que deixar o país, por motivos políticos, tendo participado, em 1969, em Budapeste (Hungria), na Federação Mundial da Juventude Democrática, onde ajudou a organizar duas importantes campanhas: Pela Libertação de Ângela Davis e Pelo término da guerra do Vietnã.

Em 1971, foi a Santiago do Chile para participar do “Encontro da Juventude Mundial contra a Guerra no Vietnã”, permanecendo naquele país, onde desenvolveu a criação do Comitê de Mulheres Brasileiras no Exílio, dentre outras atividades. Em 1973, foi asilada na Embaixada da Venezuela após o golpe chileno e a retirada de todos os brasileiros para centros de refugiados e embaixadas. Em 1974, foi para Paris, como refugiada sob a proteção da ONU, tendo realizado várias importantes atividades, como a criação do Comitê de Mulheres Brasileiras no Exterior com trabalho de educação feminista com as mulheres que chegaram ao Chile, primeiro contato com feministas brasileiras e francesas; participação no Congresso Internacional da Mulher, em Berlim Oriental; apoio às brasileiras que, vindas do Chile, se asilaram em diferentes países da Europa. Trabalho Específico nos Comitês de Mulheres Brasileiras em Bruxelas, Lisboa e Milão. Na segunda metade dos anos 1970, Zuleika continua seu combate pela causa da liberdade, em geral, e assume definitivamente as bandeiras do feminismo, sob um prisma marxista. Por essa mesma época, integra o Secretariado do Partido Comunista Brasileiro, sendo a primeira mulher a fazê-lo na história do partido.

Em 1979, com a anistia decretada, Dalembert retornou ao Brasil sendo recebida no Galeão por todas as entidades feministas já existentes no Rio de Janeiro. Quinze dias depois na Casa Grande, fez exposição sobre o tema “Democracia e Mulher” para um público de mais de mil mulheres. Apresentou-se como uma marxista preocupada com a mulher. Como feminista, participou em mais de duzentos eventos internacionais e nacionais, a maior parte deles como expositora.

Desde então, vem se dedicando integralmente à promoção da condição da mulher. Tendo sido secretária de Estado, ocupando a pasta dos Negócios Metropolitanos de São Paulo, foi uma das fundadoras do Conselho Estadual da Condição Feminina do Estado de São Paulo, o primeiro a se criar no país e do qual se tornou presidente (1986-1987) e do qual foi conselheira durante vários anos, assim como coordenou a Comissão Estadual de Educação, Cultura e Meio Ambiente do Estado de São Paulo (1994-1996).

Autora de livros, como Uma jovem brasileira na URSS (1953), Estudantes fazem história (1964), A situação e organização da Mulher (1980), Feminismo: O Ponto de Vista Marxista (1986), Metodologia do Trabalho com Mulheres (Cadernos da União de Mulheres de São Paulo, 1990), Mulher: Uma trajetória épica (1996) e Uma mulher na História (2004), esta última obra editada pela Fundação Astrojildo Pereira, Zuleika já teve seus méritos reconhecidos por meio de títulos e condecorações, como a Medalha Anchieta e Diploma de Gratidão do Povo de São Paulo, por serviços prestados à cidade, Câmara Municipal de São Paulo (1986), Placa de Prata “Mulher do Ano na Área do Feminismo” Comitê Nacional de Mulheres Brasileiras, Rio de Janeiro (1988), Placa de Prata, “Jogos Femininos da Primavera”, Secretaria do Trabalho (1990), Placa de Prata, “8 de março”, em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (1992).

Zuleika Dalembert foi uma grande inspiradora do movimento de mulheres do Partido Popular Socialista, particularmente o Nugeza (Núcleo de Gênero Zuleika Alambert), onde pontificam Cleia Schiavo, Tereza Vitale, Almira Rodrigues, Irina Storni, Soninha Francine, Elaine Marinho, Jane Neves, Guiomar Monteiro, Renata Cabrera e tantas outras companheiras.

 

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