10/02/2013 – Organizações pedem mais visibilidade para mulheres no segundo mandato de Obama

10 de fevereiro, 2013

(Uol notícias) A coisa começou antes da posse: um ruído persistente proveniente de feministas e organizações que monitoram os direitos das mulheres. Em pouco tempo, esse ruído aumentou e se transformou em um zumbido ensurdecedor que quase abafou outros grandes ruídos que se fazem ouvir em Washington.

Tudo se resumia a uma pergunta desconfortável: onde estão as mulheres?

Os nomeados pelo presidente Barack Obama para ocupar os cargos de primeiro escalão de seu gabinete de segundo mandato – todos eles homens e brancos – causaram alvoroço entre os defensores das mulheres.

Seria razoável esperar que as mulheres se beneficiariam após terem apoiado maciçamente Obama durante sua candidatura à reeleição? Será que as mulheres vão ficar com a pior parte do bolo mais uma vez? Será que elas serão nomeadas para cargos de segundo e terceiro escalão, assim como aconteceu com os membros de outros blocos que apoiaram Obama, como os negros e hispânicos, cujo poder para atrair votos raramente se equipara a sua influência e visibilidade em cargos de primeiro escalão?

“O presidente Obama conseguiu dar um passo para trás em relação ao seu primeiro mandato”, disse Rosa Brooks em coluna publicada na revista Foreign Policy. Brooks é membro sênior da New America Foundation e professora da Georgetown University Law Center.

“Para secretário de defesa, ele inexplicavelmente escolheu o ex-senador republicano Chuck Hagel em detrimento de Michèle Flournoy, a universalmente respeitada ex-subsecretária de defesa para a política”, escreveu Brooks, que já atuou como conselheira de Flournoy no Departamento de Defesa.

“O presidente Obama perdeu a oportunidade histórica de ser o primeiro presidente a nomear uma mulher como secretária de defesa dos Estados Unidos”, acrescentou Brooks, ecoando outros defensores de Flournoy, que esperavam que ela seria a nova líder do gabinete de Obama – que já não conta com Hillary Clinton.

O presidente “realmente não é um feminista”, disse Brooks na semana passada. “O que eu quero dizer com isso é que, embora ele claramente acredite na importância da igualdade formal, ele não parece ter uma grande percepção instintiva relacionada às barreiras estruturais mais sutis que travam o avanço das mulheres nem para atribuir uma alta prioridade às questões de gênero”.

O presidente, talvez aborrecido com as críticas das mulheres, que formaram um dos pilares de sua reeleição, defendeu seu histórico de apoio à diversidade ao citar a nomeação de duas mulheres para o Supremo Tribunal dos EUA em seu primeiro mandato e sugeriu que poderá anunciar alguns nomes femininos em breve. Ele reforçou esse argumento em seu discurso de posse, no qual abordou de forma inédita os direitos das mulheres, dos gays e dos negros.

Mas, quatro dias depois da posse, as feministas obtiveram uma vitória revolucionária. Em 24 de janeiro passado, o secretário de Defesa Leon E. Panetta e o general Martin E. Dempsey, chefe do Estado Maior, anunciaram o fim da proibição oficial imposta pelas foças armadas norte-americanas à participação de mulheres em combate, o que criará milhares de funções na linha de frente para elas, além de outras ocupações.

O anúncio fez a conversa migrar do tema “onde estão as mulheres (no gabinete de Obama)?” para os elogios ao governo progressista dos EUA. O fato chamou a atenção da mídia e abafou as queixas sobre a falta de mulheres em cargos de primeiro escalão no governo Obama.

Brooks, que está escrevendo um livro sobre a mudança do papel das forças armadas, disse que imaginou que esse processo poderia realmente sofrer uma aceleração.

“É apenas especulação”, disse ela, “mas eu fico me perguntando se as críticas dirigidas a Obama sobre a escassez de mulheres em altos cargos da área de segurança nacional influenciaram o momento desse anúncio do Pentágono. O presidente ficou claramente incomodado com as críticas, e ele pode ter sentido que o anúncio do Pentágono ajudaria a amenizar um pouco a situação”.

Mesmo que o anúncio tenha sido politicamente motivado, ele constituiu um avanço que derrubou uma regra imposta em 1994 pelo Pentágono, segundo a qual as mulheres só podiam desempenhar funções na artilharia, na infantaria e em blindados, além de tarefas militares similares (embora as mulheres tenham, de fato, lutado ocasionalmente na linha de frente no Iraque e no Afeganistão).

Mas nada disso vai acontecer rapidamente. Agora as forças armadas norte-americanas precisam elaborar um plano para permitir que as mulheres se candidatem a posições de combate, e terão até janeiro de 2016 para explicar por que alguns postos deverão permanecer interditados para militares do sexo feminino.

Brooks, que já atuou como vice-secretária assistente de defesa para a política, disse que permitir mulheres em campo de batalha “elimina barreiras formais”. Mas, acrescentou ela, isso não garante que mais mulheres vão querer se alistar nas forças armadas dos EUA. Ela cita fatores estruturais que podem constituir barreiras ao avanço das mulheres, como as rígidas exigências de admissão e um sistema que obriga os militares, quer estejam em combate ou não, a se mudarem com frequência. “Isso pode ser algo punitivo”, disse ela.

É claro que nem todo mundo está feliz com as recentes mudanças. Os críticos dessa decisão ressaltam a questão da aptidão física das mulheres para o combate. Eles costumam dizer que as mulheres não têm força suficiente na parte superior do corpo, que elas são emocionais e sujeitas a ciclos hormonais mensais, e que os militares dos EUA teriam que baixar seus padrões se as mulheres passassem a ser aceitas nos campos de batalha.

A nova regra é “mudar o paradigma, fazendo-o passar da exclusividade para a inclusão”, disse o general Dempsey no domingo passado no programa “Meet the Press”, da NBC. Ele acrescentou que as forças armadas dos EUA não vão baixar seus padrões por conta da mudança.

Uma coisa parece certa. “Isso significa que, agora, será possível para as mulheres se tornarem chefes do Estado Maior”, disse Laura A. Liswood, co-fundadora e secretária-geral do Conselho de Mulheres Líderes Mundiais. “É uma mudança radical”.

Acesse emm pdf: Organizações pedem mais visibilidade para mulheres no segundo mandato de Obama (Uol notícias – 10/02/2013)

 

 

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