13/08/2013 – Por trás das câmeras, mulheres lutam por oportunidades iguais em Hollywood

13 de agosto, 2013

(IG) Quando Sofia Coppola recebeu uma indicação ao Oscar de direção por “Encontros e Desencontros”, em 2004, a indústria cinematográfica comemorou mais do que o merecido reconhecimento de um bom trabalho. A notícia representou um marco: apenas a terceira vez na história que uma cineasta mulher foi lembrada pela Academia.

Quase dez anos depois, Coppola – que perdeu a estatueta para Peter Jackson – volta aos cinemas na sexta-feira com “The Bling Ring – A Gangue de Hollywood”. De lá para cá, o Oscar de direção finalmente caiu em mãos femininas : nas de Kathryn Bigelow, por “Guerra ao Terror” (2009). Mas as mulheres continuam sendo minoria por trás das câmeras e tendo menos oportunidades em uma indústria dominada por homens.

As mulheres representam apenas 18% de todos os diretores, produtores, roteiristas, diretores de fotografia e editores que trabalharam nos 250 filmes de maior bilheteria dos Estados Unidos em 2012.

Destes longas, 38% empregaram nenhuma ou apenas uma mulher em alguma dessas funções, de acordo com estudo de Martha Lauzen, pesquisadora da Universidade Estadual de San Diego.

As áreas em que menos encontram-se mulheres são direção e fotografia, com profissionais femininas ocupando tais cargos em apenas 9% e 2% dos filmes, respectivamente.

“As estatísticas não indicam nenhuma mudança significativa na participação das mulheres atrás das câmeras nos últimos 15 anos”, afirmou Lauzen, em entrevista ao iG . “Em geral, os chefes dos estúdios não consideram essa ‘subrepresentação’ um problema, e parece pouco provável que mudem o modo de fazer negócio.”

Aliás, os índices pesquisados por Lauzen tendem a diminuir conforme os blockbusters dominam cada vez mais as listas de campeões de bilheteria dos EUA. São justamente essas produções – franquias de ação, filmes baseados em quadrinhos – as que menos incluem mulheres por trás das câmeras, algo mais comum em longas de baixo orçamento e documentários.

“A mentalidade centrada nos blockbusters deixa as mulheres de lado porque ainda existe a ideia de que ação e super-heróis são coisas muito masculinas. Os estúdios não entregam essas histórias a elas”, afirmou Melissa Silverstein, criadora do site Women in Hollywood.

Segundo Silverstein, a proeminência que as mulheres tinham no cinema mudo foi sendo perdida conforme Hollywood se tornou uma indústria maior e mais cara.

Em 1919, por exemplo, a atriz Mary Pickford fundou seu próprio estúdio, United Artists, ao lado de D. W. Griffith, Douglas Fairbanks e Charlie Chaplin. Nos anos 1920, Lois Weber era uma diretora bem-sucedida, roteiristas como Frances Marion e Anita Loos trabalhavam com frequência e June Mathis, da MGM, era uma das executivas maios bem pagas de Hollywood.

As décadas seguintes tiveram outros nomes importantes, como as diretoras Dorothy Arzner e Ida Lupino, mas o crescimento da indústria cinematográfica não acompanhou o fortalecimento do movimento pelos direitos femininos a partir dos anos 1960.

“Tínhamos mais mulheres roteiristas e diretoras quando menos dinheiro circulava. Conforme o mercado cresceu, papéis diferentes foram dados para cada sexo. O controle ficou para homens milionários e tudo passou a girar em torno do que eles gostavam e queriam”, afirmou.

Mulheres no poder

As mulheres também chegaram à chefia dos estúdios, primeiro com Sherry Lansing, que assumiu a 20th Century Fox em 1980. No início dos anos 2000, três dos seis maiores estúdios eram comandados por mulheres – além de Lansing, Stacey Snider, na Universal, e Amy Pascal, na Sony/Columbia.

O efeito disso, porém, foi menos impactante do que o esperado.

“Hoje, todos os estúdios foram comprados e são uma pequena parte de corporações multinacionais, com a clara função de ganhar dinheiro. Amy Pascal é importante, mas ainda têm um chefe”, disse Silverstein. “As mulheres precisam fazer parte do processo de decisão. Ter diversidade é fundamental.”

Em recente entrevista à revista “Forbes”, Pascal – hoje a única mulher no comando dos principais estúdios – admitiu a desigualdade de gênero em Hollywood, mas ofereceu poucas respostas sobre como solucionar o problema.

“Uma mulher que queira dirigir um filme em Hollywood precisa passar por tantas camadas de rejeição – inclusive por mim, suponho – que fica muito difícil chegar lá. Não basta criar alguma coisa”, afirmou. “O sistema todo é feito para que elas fracassem.”

Filme de mulher x filme de homem

A Sony Pictures de Pascal distribuiu o filme mais recente de Bigelow, “A Hora Mais Escura” , um longa de ação protagonizado por uma mulher em papel tipicamente masculino – uma agente da CIA (agência de inteligência norte-americana) determinada a encontrar o líder terrorista Osama bin Laden.

O financiamento veio da milionária Megan Ellison, e não do estúdio, que entrou apenas na fase de distribuição. Ainda assim, foi um passo importante na carreira de Pascal, que anos antes havia sugerido à jornalista Manohla Dargis, do “New York Times”, que homens se enquadravam melhor como diretores de filmes de ação.

Por isso, o Oscar de Bigelow por “Guerra ao Terror” foi considerado duas vezes importante: primeiro por premiar uma diretora e, depois, pela possibilidade de ajudar a diminuir os estereótipos em relação aos “filmes de mulheres”.

Segundo o estudo de Lauzen, em 2012 as mulheres dirigiram mais documentários, dramas e animações e menos filmes de terror, ação e ficção científica. Para a pesquisadora, isso é fruto tanto de uma inclinação natural quanto da dificuldade de conseguir trabalho em certos gêneros.

“Há uma crença na cultura dos estúdios de que as mulheres são melhor qualificadas para dirigir, escrever e produzir certos tipos de histórias, como comédias românticas. Assim, tendem a não ser incluídas nas listas de diretores e roteiristas de filmes de grande orçamento”, afirmou. “Mas também há cineastas que simplesmente preferem trabalhar em gêneros tradicionalmente identificados como femininos.”

Mais oportunidades

Vencedora do Oscar em 2009 pelo documentário de curta-metragem “Smile Pinki”, a norte-americana Megan Mylan não acredita que o cinema esteja dividido por sexo. “Temos uma perspectiva feminina em comum, mas somos muito variadas”, afirmou.

Mylan integra a comissão do Oscar responsável pelas três categorias que premiam documentários. O fato de metade dos membros ser mulher mostra como o gênero, em geral mais barato do que a ficção, é menos desigual. Para a cineasta, o próprio “jeitinho feminino” combina com o documentário. “É um trabalho muito colaborativo e que exige muito ‘multitasking’, coisas que estamos acostumadas a fazer”, explicou.

Buscar mais espaço no cinema independente e documental pode ser uma das formas de ampliar a participação das mulheres em Hollywood, mas provavelmente não será suficiente.

“Uma mudança substancial e sustentável só acontecerá como resultado de uma intervenção externa que incite os estúdios a contratar mais mulheres”, disse Lauzen. Questionada sobre que tipo de intervenção – uma lei, por exemplo -, a pesquisadora preferiu não especificar.

Já Silverstein considera que, em primeiro lugar, é preciso educar quem “nem sabe que isso é um problema”. “A luta feminina por poder e liderança não se resume a Hollywood, mas os filmes têm alcance e impacto”, opinou. “É uma questão de confiar na visão e na voz das mulheres.”

A partir desta terça-feira (13), o iG publica uma série de reportagens sobre a participação feminina na indústria cinematográfica. Nesta quarta (14), saiba mais sobre o mercado brasileiro e leia depoimentos de diretoras e produtoras do País.

cinemamulheresig 13-08-2013

Acesse o PDF: Por trás das câmeras, mulheres lutam por oportunidades iguais em Hollywood (IG, 13/08/2013)

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