18/10/2013 – Revista Fórum: 93% dos leitores apóiam descriminalização do aborto

18 de outubro, 2013

(Revista Fórum) No dia 24 de setembro, foi publicada no Questão de Gênero uma enquete com algumas perguntas sobre o aborto, com o objetivo de compreender o que os leitores da Revista Fórum pensam sobre o assunto. A enquete teve a participação de 2.551 pessoas, com predominância das mulheres. De acordo com as palavras e frases atribuídas, a maioria dos participantes enxergam mulheres que abortam como pessoas guerreiras e corajosas. Palavras relacionadas a dor, sofrimento, confusão e dificuldades foram muito comuns, assim como “liberdade” e suas variações. Foram poucos os adjetivos moralmente negativos e a maioria dos participantes expressou empatia e compreensão.

Algumas coisas são particularmente curiosas nos resultados: embora 175 pessoas tenham dito que o aborto deve continuar sendo crime, apenas 85 acham que quem fez um aborto deve ir para a cadeia. Seria interessante ouvir o que essas pessoas têm a sugerir ou explicar a respeito de seus posicionamentos. Mas o que é absolutamente assustador é que 2% dos participantes acham que uma mulher que aborta e tem complicações de saúde merece morrer.

É interessante como os resultados mostram um número tão significativo de leitoras e leitores pró-legalização, que compreendem o aborto como uma questão de escolha e direito das mulheres sobre seus corpos. Até porque a lei brasileira já dá o direito ao aborto em casos de estupro ou risco de morte para a mãe; ou seja, seria redundante para os movimentos sociais lutar pela legalização do aborto por qualquer razão além da livre escolha.

É preciso compreender que quando o movimento feminista fala em descriminalização do aborto, a reivindicação é pelo aborto por escolha, devidamente regulamentado. Ou seja: se uma mulher fizer sexo consentido com alguém, descobrir que ficou grávida e não tiver condições de ter uma criança, o aborto deve ser uma alternativa. O ponto mais importante a ser mencionado é que, de certa forma, essa opção já existe: para as ricas, está nas viagens ao exterior ou nas clínicas que poderá pagar para abortar em sigilo; para as pobres, nos utensílios e substâncias químicas que podem levá-las à morte.

Não adianta encarar o assunto com hipocrisia ou fantasias: o aborto é uma realidade e continuará a ser praticado quando necessário, ainda que seja considerado crime. O que é preciso se questionar é se as mulheres devem continuar morrendo por conta de abortos clandestinos, ou se merecem acompanhamento médico legal e seguro para amparar suas necessidades.

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Quatro jovens mulheres afirmam: “Eu faria um aborto!”

A fim de debater sobre o tema, foram convidadas 5 jovens mulheres para falar do assunto. As convidadas vêm de várias regiões do país e têm entre 18 e 20 anos de idade.

Com esse objetivo em mente, foram feitas quatro perguntas iguais para todas as entrevistadas:

– O que você acha do aborto?

– Você acha que o aborto deve continuar sendo crime?

– Você faria um aborto? Por qual motivo?

– Conhece alguém que já fez um aborto?

 

Você pode conferir as respostas abaixo.

“O aborto, do meu ponto de vista, deve ser uma decisão única e exclusivamente da mulher, já que isso é algo que mexerá com seu corpo. Não acho que deve continuar sendo crime, pois com a legalização várias mulheres deixariam de morrer em decorrência de abortos clandestinos feitos por ‘açougueiros’. A mulher teria mais autonomia sobre seu corpo e com isso provavelmente o aborto deixaria de ser um problema de saúde publica. Eu faria um aborto caso fosse uma gravidez não plenejada e quando tinha 16 anos passei por isso: eu estava concluindo o primeiro ano do Ensino Médio e engravidei do cara que era meu namorado na época. Nós não trabalhávamos e nem tinhamos condições básicas para criar uma criança, então foi aí que minha mãe comprou um remédio abortivo para mim (com o meu consentimento). Não foi uma coisa muito boa, já que na época me importava muito com a opinião da sociedade. Tinha medo dos julgamentos que iriam surgir. Até hoje isso é uma coisa que poucos sabem que ocorreu, pois uma grande parcela da sociedade julga esse ato com uma barbárie. Mas que fique claro que não me arrependo de ter feito isso.” (Bianca Monteiro)

“So a favor do aborto, mas com cautela. O governo tem que investir em campanhas contra a gravidez indesejada, fazendo com que anticoncepcionais e outros métodos contraceptivos estejam mais acessíveis, principalmente nas periferias brasileiras, que é onde isso mais acontece. Com este tipo de campanha ficaria mais fácil a prevenção. Não acho que o aborto deve continuar sendo crime, na verdade nunca deveria ter sido taxado como crime. Uma mulher tem o direito de fazer o que quiser com o seu corpo, tem direito a tomar decisões no que diz respeito a sua vida, principalmente a maternidade. É um absurdo definir um embrião como uma “pessoa” com direitos iguais ao de uma pessoa que sente e tem consciência. E cá entre nós, proibir não elimina a possibilidade de um aborto, se uma mulher quiser fazê-lo ela irá fazer com ou sem segurança, o que pode ser prejudicial ou até mesmo fatal à sua saude. Uma gravidez indesejada pode acarretar sérios problemas para a criação da criança futuramente, pois o primeiro direito de uma criança, deveria ser o de ser desejada. Se ela não é, melhor parar por ali mesmo! Eu faria um aborto quantas vezes fosse preciso ou possivel; se acontecesse uma gravidez indesejada e no momento eu não pudesse oferecer tudo do melhor para a criança que gerasse, eu tiraria sim, sem problemas. Duas amigas minhas já fizeram aborto, uma tinha 14 anos na época e a outra fez há um ano. E quando nós paramos pra conversar sobre isso, só conseguimos chegar a uma conclusão: “ainda bem que o aborto foi feito, nenhuma das duas estavam preparadas financeira, emocional e familiarmente para filhos, hoje estariam com problemas muito piores tendo que ajudar a familia e ainda criar filhos.” (Yla da Silva)

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“Acho que o aborto é um direito da mulher, o corpo é dela e só ela pode decidir se quer ter um filho ou não. Tratam a gravidez da mulher que quer abortar como uma forma de castigo por ter feito sexo e eu acho isso errado. A justificativa ‘ela podia ter se prevenido’ não cola também, porque muitas mulheres ficam grávidas tomando pilula ou usando camisinha. Nenhum método anticoncepcional é 100% seguro. Não acho que o aborto deva continuar sendo crime, porque é um caso de saúde pública, principalmente para as mulheres pobres. As ricas conseguem muito bem abortar em clínicas e nunca são presas por isso, enquanto as mais pobres são presas e correm risco de morte. Conheci só uma menina que fez aborto e que estudou comigo quando eu tinha 15 anos. Ela engravidou do namorado e não tinha nenhum preparo psicológico e financeiro para cuidar de um bebê com 15 anos de idade. Mas eu jamais faria um aborto. Tenho dois motivos: o primeiro é porque eu sonho em ser mãe e o segundo é por causa da minha religião. Sou espírita-umbandista e no espiritismo acreditamos que se uma pessoa aborta, ela está atrapalhando não só o seu karma mas também do espírito que estava para vir e evoluir. Mas nunca seria tão egoísta de achar que as mulheres de um país inteiro devem ter o direito dos seus corpos negados só por causa da minha crença religiosa. É algo que só diz respeito a mim e comigo é que deve ficar, não interferindo nunca no direito do outro.” (T.H.L.)

“Acho que o aborto em si deveria ser apenas uma decisão difícil como qualquer outra na vida de uma mulher, mas que precisa ser tomada. Infelizmente essa escolha é arrancada das mulheres do Brasil, que seguem em gestações indesejadas ou mesmo fazem abortos clandestinos. Então o aborto também é uma questão de saúde pública das mulheres e não deve continuar sendo crime, porque a vida das mulheres vale muito, por mais que conservadores não pensem assim. Mulher nenhuma merece morrer por ter engravidado, e mulher nenhuma merece ter uma gestação indesejada. Não se obriga ninguém a doar órgãos para salvar a vida de doentes, mas se obriga a mulher a doar seu corpo (e muitas vezes sua vida, tanto no sentido de sobrevivência quanto no sentido de protagonizar sua vivência). Isso é muito injusto e desumano. Eu faria um aborto porque tenho planos e sonhos que seriam arruinados por um filho. Eu não quero arriscar parir um filho que não sei se irei amar. Não quero colocar mais uma criança para ser esquecida em sistemas de adoção. Que eu saiba, não conheço ninguém que tenha feito um aborto. Mas sei que provavelmente devo conviver com alguma pessoa que tenha abortado, já que é muito comum.” (Ana Carolina Marques)

“Apesar de não conseguir dar um conceito formal ou específico do aborto, posso afirmar que ele existe há mais tempo que o ser humano. Às vezes o próprio corpo não ‘se sente’ preparado pra ter um filho. Porém, os tempos são outros e os critérios para um aborto já não devem ser meramente biológicos. E algumas pessoas se esquecem disso. Enfim, pra mim, o aborto é uma ferramenta. Usa-se quando precisa e acho que os critérios para sua prática devem ser os critérios da praticante. Não acho que de forma alguma o aborto deva ser considerado crime. Colocar um feto frente a vida de uma mulher (não somente por riscos de saúde, mas questões psicológicas e econômicas mesmo) é um ato de extrema misoginia. Faria um aborto por motivos econômicos, por motivos psicológicos ou por simplesmente não querer um filho NAQUELA hora ou DAQUELA pessoa; só não conheço ninguém que tenha feito um aborto. Mas talvez isso se dê por eu ter crescido numa camada social e economicamente privilegiada. Talvez eu não conheça porque ninguém sofreu complicações com um aborto de “fundo de quintal”. (Carolina Teshima)

Oportunidades como essa são pertinentes porque servem para agregar e demonstrar os posicionamentos políticos de uma geração. É de extrema importância dedicar tempo para ouvir e opinar; afinal, a livre expressão de opiniões faz parte de uma realidade social mais justa.

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Acesse o PDF: O que você pensa sobre o aborto? (Revista Fórum – 18/10/2013)   

 

 

 

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