20/12/2013 – Secretário do governo de PE perde cargo após culpar mulheres por estupro

20 de dezembro, 2013

(Folha de S.Paulo) Questionado sobre abusos sexuais praticados por policiais, o secretário disse que “o policial exerce um fascínio no sexo frágil” e que “mulher gosta de farda”. Diante da repercussão do caso, em nota, se desculpou pelos “termos inapropriados”, que não constituem “minha visão de mundo”

Responsável por uma das vitrines da gestão Eduardo Campos (PSB), o secretário de Defesa Social de Pernambuco deixou o cargo ontem após repercussão de entrevista sobre denúncias de estupros praticados por policiais.

Indagado pelo “Jornal do Commercio” sobre acusações de violência policial contra mulheres no Recife, Wilson Damázio (que ocupava o cargo desde abril de 2010) disse que “mulher gosta de farda”.

O jornal ouviu adolescentes que relataram ser obrigadas por PMs a mostrar os seios ou praticar sexo oral durante abordagens de rotina.

As denúncias recaem também sobre policiais do Patrulha do Bairro, lançado por Campos dentro do programa de redução de homicídios — uma das principais vitrines da gestão do provável candidato à Presidência em 2014.

Damázio disse ter desistido de colocar câmeras escondidas em veículos policiais para coibir irregularidades porque “agora tudo é garantia e direitos individuais”. E disse que mulheres possuem “fascínio” por policiais.

“O policial exerce fascínio no dito sexo frágil. Eu não sei por que mulher gosta tanto de farda. […] Para ela é o máximo, tá [sic], dando pra um policial. Dentro da viatura, então, o fetiche vai lá em cima, é coisa de doido”, disse.

Policial federal com mais de 30 anos de carreira, Damázio afirmou ainda que ele próprio era assediado por mulheres quando viajava para o sertão do Estado a trabalho.

Damázio disse ainda que há desvios de conduta em todo lugar: “Tem [desvio de conduta] na casa da gente, tem um irmão homossexual, tem outro que é ladrão, entendeu? Lógico que homossexualidade não quer dizer bandidagem, mas foge ao padrão de comportamento da família brasileira tradicional”.

REPERCUSSÃO

As declarações motivaram repúdio de entidades da sociedade civil e da oposição.

Nota assinada por 25 entidades, como Abong (Associação Brasileira de ONGs) e Gajop (órgão local de direitos humanos), classificou as colocações como “machistas e homofóbicas” e pediu a saída do secretário de Campos.

“O machismo institucional impregnado nas palavras do secretário é o mesmo presente na atuação da polícia”, diz o texto das entidades.

Líder da oposição ao governo Campos, o deputado Daniel Coelho (PSDB) cobrou desculpas: “Uma pérola de puro besteirol e desrespeito”, disse ele sobre a entrevista.

Em nota, Damázio se desculpou pelos “termos inapropriados” que “não constituem meu pensamento nem minha visão do mundo” e colocou o cargo à disposição.

Afirmou ter falado “em tom de brincadeira de conversações informais” durante intervalos da entrevista e reconheceu o uso de termos “inapropriados e inadequados”.

Uma nota de Campos agradeceu a Damázio “pelos bons serviços prestados” e nomeou o delegado da PF Alessandro Carvalho para a pasta. Segundo o governo, o Pacto Pela Vida reduziu as mortes violentas no Recife em 21% no segundo semestre de 2012.

Acesse o PDF: Secretário de Campos culpa mulheres por estupros e é afastado (Folha de S.Paulo, 20/12/2013)

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