26/12/2013 – Suécia desenvolve classificação indicativa para filme machista

26 de dezembro, 2013

(Correio Braziliense) Em tempos de busca pela igualdade entre os gêneros, a Suécia lança mão de uma nova ferramenta cultural. O país desenvolveu uma classificação para filmes que mostra se a obra tem ou não aspectos de preconceito contra a mulher. Com a iniciativa de vanguarda, o país não indica apenas se a produção tem cenas de nudez, sexo ou violência, mas também mostra se há, no longa, vida feminina inteligente.

A diretora do cinema Bio Rio, na Suécia, Ellen Tejle, foi uma uma das primeiras a adotar a faixa indicativa, conhecida como A-rating. Em conversa com o Diversão & Arte, ela explicou a ideia e os resultados da indicação até agora. “Nosso objetivo sempre foi mostrar filmes que tenham um efeito profundo no espectador. Apesar de andarmos grandes distâncias para ter certeza que nossas histórias representem a sociedade como um todo, temos encontrado dificuldade em encontrar filmes gravados da perspectiva feminina”, justifica a especialista.

A nova classificação surge a partir do teste Bechdel – prova que diz se uma obra de ficção tem diálogos entre mulheres nos quais elas não estejam falando de um homem. Parece fácil, mas vários filmes conhecidos reprovam no experimento. Ellen diz que dos 30 filmes suecos mais populares da última década, apenas dez passaram na avaliação.

Bianca Cardoso, coordenadora do blog defensor da igualdade de gênero Blogueiras feministas diz que o teste é uma iniciativa engrandecedora. “O teste analisa uma questão de gênero. É uma iniciativa bacana e interessante. Não é uma avaliação se o filme é bom ou ruim. Afinal, essa é outra questão. Porém, é uma maneira de avaliar a participação feminina nos filmes”, argumenta.

O método

Na avaliação, quatro quesitos são abordados: quando existem menos de duas mulheres no filme; quando existem mais de duas mulheres no filme, mas não há diálogo entre elas; quando existem mais de duas mulheres no filme e elas falam uma com a outra, mas só conversam sobre um homem; e a avaliação mais positiva: quando existem duas mulheres nos filmes e elas têm ao menos um diálogo entre si sobre qualquer assunto que não seja um homem. Há ainda um questionamento para os filmes que pertencem ao último quesito, mas é duvidoso, pois a mulher é mostrada de forma condescendente (como essa observação é mais subjetiva, ela não gera uma reprovação, apenas uma ressalva).

O teste foi criado pelo cartunista americano Allisson Bechdel, em 1985, num de seus trabalhos e será usado como classificação pela primeira vez na Suécia. Alguns canais de televisão do país também adotarão o teste. Para Ellen, a experiência é válida porque a discriminação contra a mulher ainda é latente. “O reconhecimento dos direitos da mulher e de igualdade na representação política ainda não está em voga em lugar nenhum. Até na Escandinávia – região considerada mais evoluída na questão sexual – , a igualdade de pagamento ainda é uma luta básica. Nos filmes, a maioria das histórias é liderada por homens, criadas e perpetuadas por escritores, diretores e produtores do sexo masculino”, analisa a diretora.

Dois conhecidos filmes não passaram no Bechdel neste ano. O cavaleiro solitário, no qual existe a presença de mais de duas mulheres, no entanto, elas não falam entre si. Ou a animação Os Croods, na qual duas personagens do sexo feminino conversam apenas sobre outros homens.

Para Bianca, é importante que exista mais de uma maneira de mostrar a distinção entre gêneros. “O teste é mais uma forma de avaliar isso. Se a gente for ver, tem filmes como Harry Potter que tem uma personagem maravilhosa como a Hermione, mas ela não conversa com outras mulheres. Por outro lado, Thor 2 passa no teste. São quatro mulheres que conversam entre si sobre várias coisas, até física”, aponta a coordenadora, ressaltando a importância em se dar o bom exemplo.

Ellen concorda. A diretora afirma que é importante não esquecer nunca a influência das produções cinematográficas na formação da sociedade. “Desigualdade de gênero é obviamente um problema e as produções certamente têm responsabilidade nisso. Os filmes influenciam pessoas e, portanto, uma indústria de cinema conservadora impedirá o progresso. O A-rating é um método para ilustrar normas de gênero e de estruturas. Nosso objetivo é que o filme se torne algo maior e melhor que as histórias de homens feitas por homens”, conclui.

Veja também31/12/2013 – Mulheres são criticadas por papéis na TV norte-americana

Acesse em pdf: Suécia desenvolve classificação indicativa para filme machista e violento (Correio Braziliense – 26/12/2013)

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