Carmen Silva escreve sobre as dificuldades estruturais do acesso das mulheres ao poder

20 de março, 2014

(Reforma Política, 20/03/2014) A Plataforma pela Reforma Política, no mês em que relembramos a luta pela igualdade de genero, fez uma entrevista com a educadora da organização SOS Corpo, Carmem Silva. Na pauta, a questão da participação das mulheres nos espaços de poder.

Em recente pesquisa, o demógrafo José Eustáquio Diniz Alves, coordenador dos cursos de pós-graduação da Escola Nacional de Ciências Estatísticas, ligada ao IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). apontou que o Brasil aparece atrás de países como o Mali, em relação a participação feminina nos espaços de poder, ocupando 124ª posição entre os 148 países pesquisados. Qual é a sua avaliação sobre esse cenário?

Este dado é uma das provas da desigualdade entre homens e mulheres e de como ela é estrutural. Ou seja, nós mulheres não temos condições paritárias de acesso aos espaços de poder porque vivemos sob esta condições estrutural de desigualdade que se expressa na responsabilização pela casa e pelos filhos, na ameaça de violência permanente, na produção simbólica da imagem do que é uma mulher, etc.

Ao longo dos anos, o movimento feminista se dividiu em torno de várias bandeiras em relação há algum tipo de emancipação feminina, seja pelo direito reprodutivo, pelo sufrágio, pela igualdade no mercado de trabalho, etc.. Atualmente, muitas organizações de mulheres estão cada vez mais discutindo a participação feminina nos espaços de poder. A mudança na pauta significa também uma mudança de paradigma e uma estratégia de luta para alcançar a igualdade?

Não concordo com a sua análise de que houve uma mudança de pauta…Na verdade o movimento feminista, ao longo de sua história no Brasil, se mobiliza por todas estas pautas que você citou e mais algumas. Inclusive, um marco inicial é exatamente a luta pela participação feminista nos espaços de poder, com o movimento sufragista e a luta pelo direito de voto para as mulheres. Como não acho que houve uma mudança de pauta também não vejo a mudança de paradigma indicada. Mas, é certo que temos uma estratégia de luta para alcançar a igualdade, mas todas as pautas citadas por você são parte desta mesma luta e não apenas a participação política, embora esta seja muito importante.

Uma das questões mais preponderantes em relação a proposta da Reforma Politica defendida pelas organizações que compõe a Plataforma dos Movimentos Sociais pela Reforma Política é a questão da lista alternada. o que envolve a questão da participação feminina no processo eleitoral. Explique pra gente o que significa a lista alternada e sua importância para a mudança do sistema político no Brasil.

Defendemos que as eleições seja organizada com a participação de partidos político através da disputa entre listas partidárias organizadas de forma a alternada entre os sexos, ou seja, as listas apresentadas por todos os partidos, deveriam ser compostas obrigatoriamente por uma mulher, um homem, do inicio ao fim. Isso faria com que, forçosamente, as câmaras legislativas fossem compostas por aproximadamente 50% de homens e de mulheres. Além disso, queremos também que estas listas incorporem a população negra e GBLT. Com estas e outras medidas poderemos ter um sistema representativo que se aproxime mais da representação real da população brasileira, em sua diversidade e desigualdade.

Acesse o site de origem: “Nós mulheres não temos condições paritárias de acesso aos espaços de poder porque vivemos sob condições estruturais de desigualdade”, diz Carmen Silva

 

 

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