Campanha critica padrões de representação da mulher na mídia

06 de maio, 2014

(O Globo, 06/05/2014) ‘Somos diferentes demais para caber num padrão de cabelo, corpo e comportamento’, diz criadora da campanha #TerçaSemMake

Os rostos e corpos perfeitos (e retocados com Photoshop) exibidos pelas revistas de moda estão com os dias contados, se depender da atitude das três mulheres que comandam o blog “Girls With Style”. Cansadas de ver na TV, no cinema e nas publicações um padrão de beleza inexistente no mundo real, elas decidiram ir contra a “indústria da perfeição” e exibir suas rugas, pontas duplas e espinhas. E criaram a campanha “Terça Sem Make”, em que estimulam suas leitoras a sair de casa sem maquiagem toda terça-feira, postando fotos do “rosto lavado” no Instagram acompanhadas da hashtag #TerçaSemMake. O objetivo é que as mulheres, principalmente as mais jovens, se libertem de uma rotina de beleza exaustiva e passem a aceitar melhor suas próprias imperfeições.

— Somos todas diferentes demais para achar que vamos caber dentro de um padrão preestabelecido de cabelo, corpo, comportamento. Eu, por exemplo, sou alta e grande e me sentia péssima por isso quando mais nova, porque a maioria das meninas era mignon. Quanto tempo perdi sofrendo, fazendo dietas malucas e até ficando com problema de postura para parecer menor! — conta a jornalista Nuta Vasconcellos, que faz o blog junto com a produtora Marie Victorino e a especialista em marketing Carol Guido.

Desde que começaram a campanha, em janeiro, as blogueiras vêm ouvindo e lendo relatos de garotas que se sentem prisioneiras da beleza. Uma das meninas nunca deixou o namorado vê-la sem maquiagem, então acorda mais cedo que ele só para se arrumar.

— Isso acontece porque somos diariamente bombardeadas com imagens de mulheres de mentira nas revistas, na TV e no cinema — afirma Nuta.

Mas algumas publicações e personalidades estão a fim de combater esse sistema. Scarlett Johansson, Julia Roberts e Kate Winslet, entre outras celebridades invejadas por sua beleza, posaram para a edição de fevereiro passado da revista “Vanity Fair” de cara lavada. Aqui no Brasil, recentemente algumas estrelas também toparam se despir de suas máscaras feitas de base e rímel para a revista “Glamour”. Entre elas estão Sabrina Sato, Ticiane Pinheiro e Paloma Bernardi, que embarcou no projeto para mostrar ao público feminino que não existe perfeição.

— Na minha vida real tenho olheiras e manchas no rosto e me amo mesmo assim. Devemos descobrir nossa beleza além da maquiagem. Ela não tem que ser uma máscara — diz Paloma Bernardi, que, na adolescência, detestava seu cabelo cacheado e volumoso. — Os meninos me chamavam de vassoura, e isso me incomodava. Demorei para aceitar meu cabelo. Mas, com o tempo, fui descobrindo que ele também era bonito e, hoje, eu o adoro.

Para a psicanalista Joana de Vilhena Novaes, coordenadora do Núcleo de Doenças da Beleza da PUC-Rio, a busca de um padrão inatingível de beleza leva as pessoas a adoecerem, principalmente as meninas de 15 a 25 anos.

— Se você não se aceita, tende a se isolar. E isso pode causar baixa autoestima, fobia, depressão grave, autoflagelação, além de transtornos alimentares, como bulimia e anorexia. Hoje, os consultórios estão pipocando com casos de alcoolismo entre jovens e de cutting, que é a automutilação.

Depois de sofrer muito com padrões de beleza sobre-humanos e de se apertarem em jeans pequenos demais, as cariocas Maristela Abreu e Patricia Feitosa criaram o blog “Tamanho P”, sobre moda plus size, que tem 21 mil seguidores no Facebook.

— Cinquenta e dois por cento da população brasileira são obesos. Por que metade do país tem que se apertar em um tamanho menor? — questiona Patricia, de 28 anos. — A gente cansou de ler nas revistas de moda que só meninas altas e magras podem usar certos tipos de roupas. Aliás, onde estão essas garotas? Porque eu não vejo muitas delas nas ruas.

Acesse o PDF: Campanha critica padrões de representação da mulher na mídia (O Globo, 06/05/2014)

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