Festival Latinidades destaca feminismo negro

23 de julho, 2014

(Correio Braziliense, 23/07/2014) Com a chegada do Dia Internacional da mulher Latino-Americana e Caribenha, o festival Latinidades começa hoje e segue até 28 de julho com programação gratuita no auditório principal do Museu Nacional da República. A sétima edição terá conferências, mesas de debates, oficinas e atrações musicais dedicadas à promoção da igualdade social.

Leia mais: Elas Têm o poder (Correio Braziliense, 23/07/2014)

Como acontece desde 2008 – quando nasceu o festival -, uma temática regerá todas as atividades. O assunto escolhido pela organização do Latinidades é Griôs da diáspora negra (Leia mais na página 2). “Todo ano a gente trabalha um tema. Desta vez, vamos debater o papel da mulher negra como detentora do saber ancestral e tradicional. Dentro dessa proposta, estamos trazendo griôs de vários âmbitos do saber desde mestres de capoeira até intelectuais”, explica Jaqueline Fernandes, idealizadora e coordenadora do festival.

Durante os seis dias, o evento terá discussões sobre a literatura negra, a política e a sustentabilidade e o feminismo negro, com participação de nomes de destaque nacional e internacional. Entre as convidadas estão a escritora moçambicana Paulina Chiziane, autora de Balada de amor ao vento – o primeiro romance publicado por uma mulher em Moçambique -; a socióloga norte-americana Patricia Hill Collins, dona de estudos sobre o feminismo negro; a doutora Jurema Werneck, integrante da ONG Criola; e a filósofa Angela Davis, uma das militantes do movimento negro mais conhecida do mundo.

“Acho que a programação está muito bem composta. Está dialogando com vários tipos de saberes. Teremos aspectos tradicionais, como o debate sobre saúde integral com médicos e benzedeiras. Por outro lado, teremos palestras voltadas mais para o âmbito acadêmico”, continua Jaqueline. A idealizadora destaca do cronograma a primeira vez que Patricia Hill Collins vem ao Brasil e também a participação de Angela Davis exatamente no Dia Internacional da mulher Negra. “Além disso, teremos os shows”, completa ao citar Elza Soares, Fabiana Cozza e Naná Vasconcelos, algumas das atrações musicais.

A abertura está marcada para as 9h30 de hoje com a chamada saudação à ancestralidade. A programação consiste em uma performance de tambores feita por integrantes de um terreiro do Distrito Federal. Ainda no primeiro dia, o evento receberá quatro nomes ligados à literatura negra: Inaldete Pinheiro, Nina Silva, Shirley Campbell Barr e Sulia Maciel Caicedo; um trecho de Quadros; e a conferência com a presença de Paulina e Ana Maria Gonçalves.

Mais visibilidade

Com seis edições, o Latinidades – Festival da mulher Afro-Latino-Americana e Caribenha tem como objetivo dar visibilidade ao movimento negro. “Em primeiro lugar, a gente tem feito com que diversas redes de mulheres negras do Brasil ganhem destaque. Trazer esses coletivos é um dos fatores de crescimento do festival, que hoje tem apoio da esfera institucional”, afirma Jaqueline Fernandes. Neste ano, o projeto tem patrocínio das secretarias de Cultura e Igualdade Social, Funarte, Fundação dos Palmares e Petrobras.

Embora o evento tenha crescido e  ajudado a trazer o assunto à tona, a falta de acesso das mulheres negras a políticas públicas ainda é grande. Para Jaqueline, as mulheres continuam estando na base da pirâmide. “Ainda se verifica essa grande vulnerabilidade feminina. Um evento, infelizmente, não dará conta de suprir essa demanda causada por anos de racismo, opressão e de uma sociedade escravagista. Mas é um espaço de resistência, de acolhimento e de proposição”, defende a idealizadora.

A carioca Jurema Werneck, atração da sexta-feira no festival, concorda. “O Latinidades é fundamental. Todo ano, ele abre esse espaço para que a sociedade reflita sobre a participação e o legado das mulheres negras e também sobre as transformações que ainda precisam ser feitas”, completa a médica e doutora em Comunicação Social.

Resistência

Em 25 de julho é celebrado o Dia Internacional da mulher Latino-Americana e Caribenha. A data surgiu inspirada no 1º Encontro de mulheres negras da América Latina e do Caribe realizado em 1992, na República Dominicana. O objetivo da reunião era discutir e propor políticas públicas que dessem visibilidade ao gênero. No Brasil, a data foi instituída oficialmente em 2 de junho do ano passado.

Duas perguntas // Jaqueline Fernandes:

A pauta negra e feminista está ganhando maior visibilidade?

Acho que a pauta negra tem conseguido mais destaque, inclusive, porque os movimentos negros são muitos e hoje ocupam vários espaços. É algo muito diverso. Está desde a comunicação e a cultura até o direito. Essa visibilidade que se tem é um reflexo da luta do movimento negro. E as redes sociais, claro, ajudam. Elas são a democratização da produção de conteúdo. No momento em que não se depende apenas dos meios tradicionais, naturalmente, se democratiza.

Quais são os planos para as próximas edições?

Já temos um tema para o ano que vem. Será o cinema negro. É claro que ainda não temos a programação, pois estamos focados neste no. Mas temos muitas ideias do que discutir. Desde a produção negra quanto o papel da mulher negra nos longa-metragens. 

Festival Latinidades

Auditório principal do Museu Nacional da República (Esplanada dos Ministérios). De hoje a 28 de julho com conferências, oficinas e atrações musicais. Entrada franca.

Hoje

9h30 – Abertura com saudação à ancestralidade.

10h – Letras e vozes da Diáspora negra com mediação de Raíssa Gomes. Convidadas: Inaldete Pinheiro, literatura negra infanto-juvenil (PE); Nina Silva, literatura feminina negra e erotismo (RJ); Shirley Campbell Barr, literatura feminina negra em Costa Rica e na Diáspora (Costa Rica); e Sulia Maribel Caicedo, literatura afro-equatoriana (Equador).

15h – Perfomance Quadros, de Jessé Oliveira, com as atrizes Vera Lopes e Pâmela Amaro em comemoração ao centenário de Carolina Maria de Jesus.

16h – Conferência de abertura: Diálogos afro-atlânticos com mediação de Ana Flávia Magalhães Pinto. Convidadas: Ana Maria Gonçalves (À força e a fórceps: mulher negra) e Paulina Chiziane (A identidade africana e as religiões mundiais).

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