Mulheres soropositivas da América Central são esterilizadas à força, segundo estudo

25 de julho, 2014

(Agência Aids, 25/07/2014) Mulheres vivendo com HIV na América Central estão sendo pressionadas a  fazerem a esterilização por profissionais de saúde consideradas  preconceituosas ou desinformadas sobre como evitar a transmissão vertical (TV). É o que conclui um estudo apresentado na Conferência Internacional de Aids, que terminou  nessa sexta-feira (25), na Austrália. 

Um estudo com 285 mulheres soropositivas em El Salvador, Honduras, México e Nicarágua mostrou que 2%  dessas mulheres sofreram pressão de médicos e enfermeiras para serem esterilizadas. 

O índice variou de 20% na Nicarágua para 28% no México, de acordo com a pesquisa da Aliança Mesoamericana pelos Direitos Reprodutivos de Mulheres Vivendo com HIV e da Women and Health Initiative da Escola de Saúde Pública de Harvard. 

“A consistência da taxa em uma área geográfica tão grande é apontada como um padrão sistemático de pressão e coerção”, disse Tamil Kendall, pesquisadora de Harvard.  “É realmente impensável que as mulheres vivendo com HIV estejam sendo pressionadas e forçadas a fazer a esterilização quando há tratamento que praticamente elimina a possibilidade de transmissão vertical. Além do fato de existirem opções para a concepção mais segura e a gravidez”, disse Kendall, apresentadora da pesquisa. 

“Hoje em dia não há motivo para as mulheres vivendo com HIV não  exercerem seus direitos reprodutivos”, disse ela à Fundação Thomson Reuters, acrescentando que é provável que a atitude de muitos dos trabalhadores reflita o estigma em torno do HIV que vem da sociedade. 

Esterilizadas sem saber

A estimativa é de que 17.7 milhões de mulheres no mundo tenham HIV, de acordo com a Organização Mundial de Saúde. Citando dados da ONU, Kendall disse que haviam 59.300 mulheres soropositivas no México, El Salvador, Honduras e Nicarágua em 2012.


O estudo disse que mulheres soropositivas grávidas – cuja sorologia era conhecida pelos trabalhadores da área da saúde – tinham quase 8 vezes mais chances de relatar uma experiência de pressão ou coerção para serem esterilizadas do que as que não estavam grávidas. 

Em um caso “particularmente horrível”, Kendall disse que uma mulher mexicana foi esterilizada sem o seu conhecimento enquanto estava anestesiada para sua cesariana. Quando ela acordou, seus polegares estavam mergulhados em tinta para que pudessem ser usados em um formulário de consentimento. 

Em outro caso, uma jovem Salvadorenha disse que as enfermeiras ameaçaram não fazer a cesárea a não ser que ela assinasse para ser esterilizada. 

Os trabalhadores da saúde comumente se aproveitam da desinformação das mulheres para coagí-las, disse Kendall, que tem conduzido pesquisas sobre mulheres vivendo com HIV na América Latina por mais de uma década. 

“Falam para as mulheres que se elas ficarem grávidas de novo morrerão ou as crianças geradas terão muita chance de contrair o HIV e morrer”, disse. “Os profissionais de saúde fazem uso desse tipo de pressão como tática para forçá-las à esterilização, e isso é simplesmente uma mentira científica”. 

Sem o tratamento, a probabilidade de uma mãe soropositiva transmitir o HIV para a criança durante a gravidez, parto ou amamentação varia entre 15% e 45%, diz a OMS. Com o tratamento adequado, a chance pode ser reduzida a menos que 5%. 

As mulheres analisadas na América Central vinham de diferentes classes sociais e dos meios urbano e rural. Mulheres indígenas e descendentes africanas também estavam representadas. Ainda que nenhuma etnia ou classe social e econômica tenha tido diferenças significativas sobre a pressão para que fossem esterilizadas, disse Kendall. 

“Isso reforça a ideia de que o que está guiando a discriminação é mesmo o HIV”, finalizou a pesquisadora.

Acesse no site de origem: Mulheres soropositivas da América Central são esterilizadas à força, segundo estudo (Agência Aids, 25/07/2014)

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