‘Essa geração de jovens não viveu o pânico da primeira onda da Aids’, diz Jarbas Barbosa

27 de julho, 2014

(O Globo, 27/07/2014) Secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Jarbas Barbosa afirma que ações de prevenção e tratamento da Aids no Brasil vêm obtendo resultados positivos, apesar do aumento de casos entre jovens. De acordo com ele, uma das prioridades no momento é testar novas estratégias de tratamento, com a profilaxia pré-exposição ao HIV, além do aumento dos testes rápidos para diagnóstico da doença.

Qual a situação da epidemia de Aids hoje no Brasil?

O Brasil hoje tem uma epidemia concentrada. A prevalência da doença entre a população em geral é baixa, de 0,4%. Mas em grupos como os jovens gays, as profissionais do sexo e travestis, pode ser de 10%. A situação do país é parecida com a dos Estados Unidos e a da Europa.

O que explicaria o aumento dos casos entre os jovens?

Existem algumas hipóteses. Primeiro, que essa geração de jovens não viveu o pânico da primeira onda da Aids, em que ícones da juventude morreram da doença. Segundo, porque é mais difícil atingir os jovens em qualquer tipo de ação preventiva. Muitas vezes, eles se acham quase invulneráveis.

E os jovens homossexuais preocupam mais?

Sim. Estudos apontam que a probabilidade de um jovem gay adquirir o HIV é quase 20 vezes maior do que a população em geral.

Que medidas estão sendo tomadas para reverter esse quadro?

Em dezembro, começamos a adotar no Brasil duas medidas complementares. Uma, para aumentar o número de testes de HIV. Já tínhamos incorporado os testes rápidos na rede de saúde. Em três anos, passamos de cerca de 500 mil para 4 milhões de testes rápidos realizados. Agora, estamos trabalhando com 38 ongs, e mais 18 serão treinadas, para realizarem os testes com fluído oral. Essas organizações vão trabalhar principalmente com as populações mais vulneráveis. Além disso, em dezembro adotamos um novo protocolo, com ampliação do tratamento (com antirretrovirais) aos adultos com testes positivos de HIV, mesmo sem comprometimento do sistema imunológico. Assim, até junho, eram 35 mil novas pessoas em tratamento este ano no Brasil, quando a estimativa, com base no protocolo antigo, era de 40 mil para o ano inteiro. Nesse ritmo, em quatro anos chegaremos a uma situação em que quase todas as pessoas com HIV saberão da doença e iniciarão o tratamento.

Vem sendo discutida a oferta dos antirretrovirais a grupos que não tem HIV. Qual sua posição sobre o assunto?

Não se pode banalizar, como se fosse uma pílula do dia seguinte. Mas o uso do antirretroviral em pessoas sem HIV, dependendo do risco de infecção oferecido, é uma estratégia. Estamos apoiando dois estudos, um no Rio e outro em São Paulo, para verificar  se as pessoas com altíssimo risco de exposição vão aderir ao uso do antirretroviral. A ideia não é que seja algo obrigatório. Mas para uma doença que não tem uma vacina, se podemos ter mais uma estratégia de prevenção, que utilizemos todas.

Acesse o PDF: ‘Essa geração de jovens não viveu o pânico da primeira onda da Aids’ (O Globo, 27/07/2014)

 

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