Brasil ocupa 141º lugar em ranking da ONU sobre voto em mulheres

13 de setembro, 2014

(Rede Brasil Atual, 13/09/2014) Sou feminista assumida desde os meus 8 anos. Mas só em 2010, dois anos depois de ter começado um dos maiores blogs feministas do país, tomei uma decisão: só vou votar em candidatas mulheres, pelo menos para cargos legislativos. Até então, votava mais em homens. E já falei que sempre fui feminista? Pois é. Se nem eu faço o mínimo esforço, como vou reclamar que apenas 11 das 81 vagas no Senado sejam ocupadas por mulheres?

Claro, nunca votaria em alguém só por ser mulher. Se eu fosse britânica, não teria votado em Margaret Thatcher… Quando avisei que só iria votar em mulheres, vieram as acusações de costume: “Isso é sexismo!” “É discriminação de gênero!” “Se alguém dissesse que só votaria em homem, você faria um escândalo”. “Viu? Eu sabia! Você odeia homenzzz.”

Quem disparou essas bobagens partia do princípio de que vivemos em igualdade. E nem termos uma mulher na presidência e várias ministras importantes no governo melhora nossa condição no mundo. A ONU ranqueou 188 países em matéria de participação das mulheres na política. E acredite: estamos no 141º lugar, atrás do Afeganistão.

Nas eleições de 2010, o número de candidatas até aumentou para 21% do total (eram 11% em 2002 e 12% em 2006). Mas as que acabaram eleitas foi o mesmo percentual de 2006, apenas 8,8%.

Mas por quê? Primeiro, não é verdade aquela pérola de que “mulher não vota em mulher.” Vota sim. Segundo, graças às deusas, já se passou o tempo em que homens deixavam de votar numa mulher. Tanto é que, naquele ano, duas candidatas levaram dois terços dos votos a presidência, disputando contra sete homens. Nesta eleição, temos o recorde de contar com três mulheres disputando o posto máximo do país. E segundo as pesquisas, uma delas será, ou continuará sendo, presidenta em 2015.

As mulheres candidatas aos cargos legislativos são 29%, embora a Lei 12.034/09 obrigue não só que cada partido tenha, no mínimo, 30% de mulheres candidatas. E de que adianta ter 29% de candidatas, se não vamos elegê-las? Continuaremos com menos de 10% de mulheres na Câmara.

Em maio, fui a Brasília, a convite de um grupo de feministas, principalmente para discutir estratégias para legalizar o aborto. Acabamos nos reunindo com três deputadas federais, todas do PT. E o que elas disseram foi desolador: que as votações são todas dominadas pela bancada religiosa, que elas não conseguem aprovar nada, no máximo ­impedir que os reacionários aprovem algo, que acreditam que a participação feminina na Câmara vai diminuir… E pediram que os protestos não fossem só na rua. Deveria haver pressão popular também nas sessões do Congresso. (O voto em lista poderia ser uma saída para aumentar o número de mulheres, pois se votaria no partido e o congresso de cada legenda seria obrigado a seguir a porcentagem de 30% das vagas femininas.)

É o seguinte: vamos aposentar aquilo de “eu voto na pessoa, não importa se for homem ou mulher, branco ou negro”?. Enquanto pensarmos assim, nosso Congresso continuará sendo quase exclusivamente masculino, branco e hétero.

Precisamos votar em mulheres para mudar a desigualdade que tanto atinge as brasileiras. Em mulheres feministas, de esquerda (redundância, eu sei, já que desconheço feministas de direita), comprometidas com causas sociais e com projetos para mulheres. Se a candidata for ligada a movimentos negros e LGBT, melhor ainda. Também estamos sub-sub-sub representadas nesses quesitos.

Quando, quem sabe, as mulheres alcançarem 50% das cadeiras no Congresso, posso votar em homens. Ou seja, vou votar em mulheres até morrer, porque certamente não será durante a minha vida que chegaremos a tão sonhada igualdade.

Lola Aronovich

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