Alunas da USP levam filhos para sala de aula por falta de vaga em creche

27 de fevereiro, 2015

(UOL, 27/02/2015) Brinquedos, comidinhas, fraldas e mamadeiras se tornaram itens para as aulas da alunas — e mães de filhos pequenos — da USP (Universidade de São Paulo) nesse começo de semestre. Por falta de vagas na creche da instituição, elas estão improvisando e combinando professor a professor a autorização para que os bebês as acompanhem nas disciplinas.

Nesta semana, a estudante de física Ione Messias, 28, e a aluna de filosofia Daniele Santana, 27, levaram os filhos de sete meses e de dois anos para uma aula na Faculdade de Educação, na Cidade Universitária, que fica na zona oeste de São Paulo.

Como seria a primeira aula do semestre, a dupla, que se conheceu na organização dos pais que defendem a abertura de novas vagas, pediu autorização à professora e aos colegas para que pudessem permanecer na sala com os filhos. Todos consentiram.

Dá para prestar atenção na aula?

“Foi super cansativo mas pelo menos houve compreensão dos alunos e da professora”, comentou Ione sobre a experiência na Faculdade de Educação na terça-feira (24).

Já em outra aula, a que ela assistiu no IME (Instituto de Matemática e Estatística), a situação foi um pouca mais complicada: “Prestar atenção, cuidar do bebê que saiu cedo da cama, anotar as aulas com uma criança no colo? Socorro! A saída foi fotografar as lousas enormes!”, disse Ione Messias.

Para Daniele Santana, a situação parece inviável. “Consegui interagir um pouquinho, mas perdi as discussões, não ouvi meus colegas. A aula durou metade do período e devo ter saído umas 5 vezes”, conta a mãe de Chico, de 2 anos. “Foi mais tempo fora que dentro [da sala].”

A doutoranda em comunicação Alice Zózima, 40, está no mesmo barco — mas ainda não sabe se conseguirá levar a pequena Aryauna, de 1 ano e 1 mês, para as aulas. Por enquanto, o plano é revezar com o marido, Eric Paris, 43.

Ela, como Ione e Daniele, contava com a vaga na creche da USP para ter condições de estudar: Sem bolsa de estudos e com a exigência da pós-graduação, ela e o marido se dedicam exclusivamente à pequisa e não têm como pagar uma escolinha para a filha. “Não temos família em São Paulo [para ajudar a cuidar da filha]”, disse.

A reportagem do UOL questionou a USP sobre a situação das alunas na terça (24). Por meio de sua assessoria de imprensa, comunicou que não irá se pronunciar a respeito.

Na quarta-feira (25), houve um protesto na reitoria — mães e crianças fizeram um “crechaço” com ocupação da entrada do prédio da Reitoria da USP. Segundo os manifestantes, uma reunião ficou marcada para a segunda-feira. A reportagem ainda não conseguiu confirmar a reunião com a USP.

Karina Yamamoto

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