Site oferece ajuda para vítimas de relacionamentos abusivos

11 de junho, 2015

(Portal Fórum, 11/06/2015) O projeto “Livre de Abuso” oferece orientações para identificar relacionamentos abusivos e lista estratégias para quem enfrenta esse tipo de situação em casa, no trabalho ou na escola, independente de seu gênero ou orientação sexual. O trabalho, que é voluntário, se divide entre traduzir artigos e prestar assistência jurídica às vítimas

Inspirado no projeto americano “Love is respect“, o site “Livre de Abuso” está no ar desde o último sábado (6), oferecendo orientações para identificar relacionamentos abusivos e buscar ajuda. Bruna de Lara, criadora do projeto, conta que o trabalho é voluntário e desenvolvido por seis colaboradoras, que se dividem para traduzir artigos, prestar assistência jurídica e atualizar as redes sociais.

No site, parentes e amigos de vítimas também recebem orientações para que intervenham de maneira segura nas relações de abuso. A intenção do projeto é aumentar a conscientização acerca do abuso em relacionamentos íntimos, para que as pessoas consigam reconhecer sinais de violência com mais facilidade – seja essa violência física, emocional, sexual, financeira ou digital.

“Houve um dia em que precisei fazer uma busca sobre relacionamentos abusivos e a falta de resultados relevantes me assustou. Foram necessárias horas de busca para achar algum conteúdo e, ainda assim, a maior parte estava em inglês”, relata Bruna de Lara. “Quanto mais via relatos de mulheres – por vezes, conhecidas – que passaram por abuso em um relacionamento íntimo, mais me revoltava por perceber que essa é uma violência muito comum e que não é feito o mínimo esforço no sentido de preveni-la. Quantas mulheres será que poderiam ter evitado relacionamentos assim, ou ao menos saído deles mais cedo, caso tivessem tido acesso a informações objetivas sobre o abuso?”, questiona.

Imagem: Reprodução / Facebook

Imagem do site traz dados sobre violência (Foto: Reprodução / Facebook)

Um das sessões do site também fala sobre perseguições, conhecidas em inglês pela palavra “stalking“: quando alguém passa a observar e seguir uma pessoa de maneira insistente, até mesmo pelas redes sociais ou contas de e-mail. “Stalking é traumático. Você pode experienciar pesadelos, perda de sono, ter depressão ou sentir que não controla mais a sua vida”, alerta o site. Bruna de Lara critica a banalização dessa violência, que, assim como a violência emocional, ainda não é devidamente reconhecida. “O fato de não termos tido até agora nenhum projeto ou pesquisa voltado para esse tema demonstra isso. As pesquisas sobre violência doméstica, por aqui, costumam focar na questão da agressão física. As pessoas não sabem que a violência doméstica não se restringe a isso ou que o abuso emocional pode ter consequências psicológicas tão graves para a vítima quanto uma agressão física”, explica.

Como a maior parte do conteúdo é traduzido do projeto inspirador, muitos dos dados e estatísticas ainda são relacionados à realidade dos EUA; para as administradoras do site, a realidade brasileira pode ser similar ou até pior. “Os EUA têm alguns projetos voltados à conscientização, prevenção e apoio às vítimas de relacionamentos abusivos, enquanto nós não temos nenhum”, afirmam. No entanto, Bruna de Lara informa que em breve começarão a produzir conteúdo próprio, voltado para a realidade brasileira e focado nas especificidades dos abusos entre pessoas LGBT.

Uma pesquisa realizada em 2013 pelo Instituto Avon e o Data Popular também é mencionada no “Livro de Abuso”, reunindo dados assustadores: 53% dos entrevistados afirmaram já ter xingado a parceria, 19% declararam ter empurrado e 5% assumiram ter humilhado a parceira em público. Um quadro muito preocupante, levando em consideração que esses números são apenas os casos de abuso declarados – muitos casos de violência simplesmente são omitidos.

Para as vítimas que procuram ajuda, o site lista estratégias para quem enfrenta abusos em casa, no trabalho ou na escola, independente de seu gênero ou orientação sexual. “É importante ressaltar que entendemos que o abuso pode ser sofrido por qualquer pessoa, não apenas por mulheres em relacionamentos heterossexuais. Entretanto, os dados nos mostram que mulheres, principalmente entre 16 e 24 anos, são as maiores vítimas desse tipo de violência. No Brasil, mais de metade dos homens de todas as classes sociais já cometeu algum tipo de agressão contra uma parceira”, ressalta.

Bruna de Lara também afirma que o projeto é feminista, pois tem como objetivo empoderar mulheres. O grupo do “Livre de Abuso” entende que a violência em relacionamentos íntimos é uma faceta comum da violência de gênero, proporcionada por uma sociedade machista e que ensina os homens a verem suas parceiras como propriedades.

Além disso, Bruna critica o papel da mídia na banalização dos abusos: “O relacionamento extremamente abusivo retratado em 50 Tons de Cinza, por exemplo, é vendido como um conto de fadas apimentado, ao qual toda mulher moderna deve aspirar. Por aqui, podemos citar o caso da Revista Capricho, que há 3 anos publicou um relato de abuso sexual como uma história de “primeira vez que deu errado”. Existe também um episódio de Malhação que é emblemático: um garoto sequestra e mantém sua ex-prisioneira para reconquistá-la e o site oficial da Globo divulga a história da seguinte forma: ‘Ufa! Pedro consegue capturar Karina – A esquentadinha se debate, mas a galera consegue colocá-la dentro de um saco’”, exemplifica. “Tudo isso faz com que os diferentes tipos de abuso sejam vistos como algo menor ou nem sequer sejam reconhecidos como abuso”.

Apesar das dificuldades para conscientizar a sociedade, o site já recebeu diversos depoimentos de vítimas que desejam compartilhar relatos para ajudar outras pessoas, além das que procuram assistência jurídica. Assim, passo a passo, as voluntárias do projeto desejam deixar claro que a culpa pelos abusos nunca é da vítima. “Caso você esteja nessa situação ou conheça alguém que esteja, procure as orientações dadas em nosso site e, se possível, não se cale: ligue 180 e denuncie”, conclui Bruna de Lara.

Jarid Arraes

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