Mídia sensacionalista explora estereótipo do negro bandido, diz relatora de CPI

15 de julho, 2015

(Último Segundo, 15/07/2015) Em seu parecer, Rosangela Gomes fala em discriminação institucional, destaca o papel do poder público para além do policiamento e critica veículos de comunicação

Rosangela Gomes (PRB-RJ) sugere um amplo diálogo entre o parlamento e a mídia na luta contra o racismo. Relatora da CPI que investiga a violência contra jovens negros e pobres, Rosangela fez diversas críticas à mídia em seu relatório. Segundo ela, os veículos de comunicação poderiam ser “grandes aliados” na luta pelo fim da discriminação contra negros, que resulta em violência.

“A mídia às vezes contribui (para o racismo) porque ela relata e passa o que recebe de informação, mas acho que isso pode ser sanado a partir do momento que nós parlamentares abrirmos um diálogo com os veículos, pedindo que se possa também mostrar o outro lado”, diz a relatora. Segundo ela, casos de jovens que conseguiram superar dificuldades ilustram exemplos que poderiam ser usados pela imprensa para combater os estereótipo.

“A mídia pode ajudar, por exemplo, nas novelas, nos filmes. Mostrar também o jovem que é negro e pobre de uma maneira mais positiva. Acho que esse papel a mídia tem toda a condição de fazer para que a gente possa efetivamente acabar com a questão de racismo. Desse racismo velado, escondido e silencioso que existe”, afirma Rosangela.

O relatório apresentado por Rosangela deveria ter sido votado nesta terça-feira, mas a discussão em torno do texto apresentado acabou transcorrendo para além do tempo em que requerimentos e o próprio relatório poderiam ter sido votados, quando começa a ordem do dia no Plenário da Câmara. Por isso, a votação será feita a partir do meio-dia desta quarta-feira. O volume tem 261 páginas e discute diferentes aspectos do racismo e a violência a ele relacionado. Ao final, há uma série de proposições, entre projetos de lei e propostas de emenda à Constituição.”

Em seu parecer, a deputada fala da existência do racismo institucional como um dos eixos da violência contra jovens negros e pobres. “É um deles. Citamos recentemente o exemplo da jornalista Maju (Maria Júlia Coutinho, que apresenta a previsão do tempo em telejornais da TV Globo). Se cruzarmos mais informações, relatórios de mortes maternas de mulheres negras… Eu mesmo, vira e mexe sou vítima de racismo. Enfim, ele existe (racismo institucional), é silencioso e escondido”, dispara a relatora.

Rosangela dedicou uma parte de seu relatório para a atuação do que classificou como “mídia sensacionalista e o estigma do jovem negro”. Além de trazer diversos depoimentos, o texto diz que “a CPI se pronuncia contrariamente à criação e à exploração do estereótipo do negro bandido e perigoso nos programas sensacionalistas”.

Rosangela faz uma avaliação de que, apesar do papel negativo que setores da mídia desempenham na questão do racismo que leva à violência de jovens negros e pobres, os veículos de comunicação poderão colaborar para reverter esse quadro. “Se num futuro próximo conversarmos com as principais representações da mídia brasileira, tenho certeza de que ela poderá desenvolver um papel importantíssimo nessa questão de combate à violência e também na questão de combate ao racismo”, declara.

Embora a CPI termine seus trabalhos nesta quarta-feira, Rosangela e outros integrantes da comissão pretendem estender os debates sobre os temas para as comissões especiais que serão criadas na esteira da legislação proposta no relatório. Nele, há a sugestão de cinco propostas de emenda à constituição (PEC). PEC são discutidas em comissões especiais. É lá que o debate deve continuar, já que a CPI não teve seu prazo prorrogado.

Entre as PEC sugeridas no relatório, propõe a separação da da perícia oficial de natureza criminal das polícias civis e federal e institui a perícia criminal como órgão de segurança pública. Outra dessas PEC pretende atribuir à Polícia Federal a apuração de crimes praticados por milícias privadas e grupos de extermínio.

Marcel Frota

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