Contra regras sobre vestimenta, servidores protestam de véu na Câmara

09 de setembro, 2015

(O Globo, 09/09/2015) Na Casa, manifestantes entoam em coro: ‘cuide do seu decoro que eu cuido do meu decote’ e ‘mais ética e menos estética’

Com lenços na cabeça, numa referência às burcas, mas vestindo minissaias e decotes, cerca de 60 funcionários da Câmara, a maioria mulheres, protestaram na manhã desta quarta-feira contra a proposta, em estudo na Mesa Diretora da Casa, de impor regras de vestimenta para mulheres e homens na Casa. No protesto, muitos cartazes e a repetição do grito de guerra: “cuide do seu decoro que eu cuido do meu decote” e “mais ética e menos estética”.

Leia mais: 
Servidoras protestam contra restrição a minissaia na Câmara (UOL, 09/09/2015)
Servidoras protestam contra tentativa da Câmara de regular vestimenta (Folha de S. Paulo, 09/09/2015)

A ideia de um “dress code” foi defendida pela deputada Cristiane Brasil (PTB- RJ) e está sendo estudada pela Mesa Diretora. Uma das propostas é proibir vestidos curtos ou acima do joelho, decotes acentuados e, no caso de homens, proibição do uso de chapéus e camisetas de futebol. Outra regra em análise seria evitar o uso de tênis com cores chamativas, por isso algumas das servidoras foram ao protesto com tênis de cor cítrica.

— Essa é uma manifestação que envolve vários fatores, não só de roupa, mas de gênero. A mulher está sendo vista mais uma vez como objeto. E esse tipo de proibição irá restringir o acesso do povo à Casa. Não pode camiseta, chinelo _ criticou a servidora Dirna Mara, que trabalha há 30 anos na Câmara e hoje está na Comissão de Constituição e Justiça.

A servidora questiona o estabelecimento desse tipo de regra e provoca:

— Quem é que vai decidir se o decote é acentuado ou se o tamanho da minha saia está de acordo com a regra? São os funcionários do Depol ( Departamento de Polícia Legislativa) ? Vão ficar olhando o meu decote, onde está minha saia.

Os deputados Érika Kaokay (PT-DF) e Jean Wyllys (PSOL-RJ) fizeram questão de prestigiar o ato das servidoras. Em nota, o Centro de Feministas de Estudos e Assessoria (CFEMEA) protestou contra a possibilidade de aprovação desse tipo de medida pela Câmara, sustentando que o Parlamento brasileiro tem sua existência fundada na representação popular, que a vestimenta não se restringe a uma questão estética, mas é condição de identidade e que é “histórica a justificativa fraudulenta de violência contra a mulher baseada no uso de suas vestimentas e não na realidade machista e patriarcal em nossa sociedade, que concebe a mulher como propriedade doméstica aos interesses do homem”.

Na nota, o movimento destaca que representantes de diversos movimentos sociais frequentam o Congresso e utilizam tênis, calça jeans, sandálias e “e vestimentas não convencionais, se considerado o chamado padrão “dress code”. E que esse tipo de restrição poderá afastar os representantes desses movimento de debates importantes no Congresso.

“Se os parlamentares desejam garantir austeridade e respeitabilidade ao Poder Legislativo, não será por meio de medidas constrangedoras, conservadoras e moralistas, será por meio da construção e aprovação de propostas necessárias e prioritárias para o bem da sociedade brasileira”, diz um trecho da nota, que pede que os deputados rejeitem tal proposta.

Evandro Éboli e Isabel Braga

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