Produtora de série brasileira da Netflix é acusada de racismo

29 de outubro, 2015

(O Globo, 29/10/2015) Em e-mail, empresa cita ‘grau de dificuldade’ para encontrar atores negros bonitos

Um e-mail enviado pela empresa + Add Casting gerou revolta nas redes sociais por parte de internautas que apontam conteúdo racista na mensagem. Responsável pela formação do elenco da série “3%”, que será a primeira produção inteiramente brasileira da Netflix — em parceria com a Boutique Filmes —, a companhia busca um ator jovem para compor o elenco protagonista do thriller futurístico, que será estrelado por João Miguel e Bianca Comparato. No texto do e-mail, que circula desde quarta-feira na internet, um detalhe adicional chamou a atenção: “a direção gostaria que ele fosse negro, então o ideal seria ter um ator negro e muito bonito, mas, conscientes do grau de dificuldade, faremos teste também com os bons atores, lindos, que não sejam negros”.

E-mail que vazou nas redes sociais (Foto: Reprodução)

Desde então, a + Add Casting foi bombardeada de questionamentos sobre o citado “grau de dificuldade” do qual estavam “conscientes”. Nesta quinta, em sua página no Facebook, a produtora se defendeu das acusações e pediu desculpas pelo ocorrido, dizendo que o teor da mensagem foi “equivocadamente mal interpretado como racista” (leia a nota na íntegra). A publicação na rede social foi editada cinco vezes pelo administrador. Na original, a + Add Casting disse ainda: “sabemos que existem no Brasil muitos atores negros talentosos, bonitos, competentes que muitas vezes não têm oportunidade de mostrar seu trabalho. E a falta de oportunidade faz com que seja ainda mais difícil de esses atores serem encontrados para novos projetos. Estamos a procura desses atores, para que eles agreguem seu talento e capacidade ao nosso projeto”. Curiosamente, o trecho que diz que o teor teria sido equivocadamente mal interpretado só foi incluído posteriormente.

3% estreia em 2016, só na NetflixAgora é oficial: vem aí 3%, a primeira série brasileira Original Netflix.

Posted by Netflix on Quarta, 5 de agosto de 2015

A Netflix usou o Twitter para se pronunciar sobre o ocorrido: “O e-mail sobre o teste de elenco de ‘3%’ foi enviado sem o conhecimento ou aprovação da Netflix, e contradiz tudo em que acreditamos. Junto à Boutique Filmes estamos trabalhando para tomar as devidas providências, e lamentamos o que aconteceu”.

O GLOBO tentou contato telefônico com Diogo Ferreira, diretor da + Add Casting, que não atendeu as ligações.


“3%” é uma série de ficção científica prevista para estrear em 2016. O piloto do thriller foi divulgado no YouTube em 2011 e teve mais de 400 mil visualizações. A série segue o mesmo estilo de franquias bem sucedidas no cinema, como “Jogos vorazes”, “Divergente” e “Maze runner”.

Para a versão da Netflix, os episódios foram reescritos por Pedro Aguilera, criador da série, e serão regravados com novo elenco no início do ano que vem. Serão sete episódios ao todo, com direção do uruguaio Cesar Charlone, diretor de fotografia de filmes de Fernando Meirelles, como “Cidade de Deus” e “Ensaio sobre a cegueira”.

Acesse o PDF: Produtora de série brasileira da Netflix é acusada de racismo (O Globo, 29/10/2015)

Nossas Pesquisas de Opinião

Nossas Pesquisas de opinião

Ver todas
Veja mais pesquisas