CRIOLA: ONG carioca é destaque na imprensa berlinense

02 de dezembro, 2015

(O Estado de S. Paulo, 02/12/2015) A ONG, fundada em 1992 e com escritório na Av. Presidente Vargas no centro do RJ foi destaque em matéria vinculada na versão digital do jornal mais popular da capital, o Berliner Morgenpost. No artigo publicado na tarde de terça-feira (01), o autor era só elogios para a criatividade de perseverança da ONG em exibir os comentários odiosos feitos na internet em grandes outdoors, em frente ou nos arredores das casas de suas autoras e autores.

Crime cibernético em solos germânicos

O foco principal dos crimes cibernéticos na Alemanha são os imigrantes, os refugiados, mas existe na Internet, em geral, um clima muito agressivo banhado por uma perigosa dialética da polaridade. A discussão em torno dos refugiados acontece em torno de quem é contra e de quem é a favor. Uma disputa acirrada pode “explodir” quando a prefeitura de um bairro sul de Berlim, decide proibir o passeio de cachorros à beira de um lago muito frequentado e muito amado pelos naturalistas da capital, que não querem nadar ao lado dos quatro patas nem muito menos serem molestados por seus pulos nas redondezas. A polarização, por vezes, chega a ter um antagonismo de água e vinho.

Diferenças 

Ao contrário da Alemanha, onde as rivalidades e até crimes cibernéticos tem em grande Partei foco político e social, no Brasil, a grande maioria dos barracos, que podem ou não resultar em crime cibernético são em sua esmagadora maioria de ataque pessoal, até mesmo (ou principalmente) quando o assunto é política.

No caso da atriz Tais Araújo, algum usuário pediu o cabelo dela como Bombril para limpar o chão. Com a atriz Cris Vianna, atualmente vivendo a pragmática Indira em “A Regra do Jogo” foi a mesma coisa. Esse tipo de ataque pessoal na Alemanha é raro. Aqui são atacadas especialmente idéias e convicções. Já no Brasil, predomina  o ataque Pessoa na lata. Eu mesma fui vitima de esculacho por um leitor do meu artigo sobre a comemoração do 7 de setembro na embaixada brasileira. Mostrando não “somente” qualquer resquício de educação e total ausência de uma cultura discutiva, o leitor Abdo Rocha me acusou de estar “juntamente com Chico Buarque e Milton Nascimento e outros que recebem sempre caches do Bco do Brasil etc” , e estar “realmente mamando nas tetas do pobre povo brasileiro” esse quer teria “por Signal”  pago a minha caipirinha e ainda foi taxativo: “Voce deveria ter vergonha!!!! “ Como vir a julgar, de forma tão pessoal e taxativa, alguém que você não conhece? É preciso de maturidade intelectual e bom senso para saber distinguir o não concordar com o assunto ou achincalhar a pessoa pela opinião que ela tem.

O que é bom pro Brasil é bom pra Alemanha?

Usuários que comentaram o artigo de Lars Wienand, via Facebook, eram só elogios para a campanha da Criola.

Existem muitas maneiras de lidar com os imbecis da internet. No Brasil foi encontrada uma maneira de deixar racistas do Facebook, bem famosos” inicia o artigo. Alguns usuários até se mostraram solícitos para uma adaptação alemã desta campanha.

O que já existe nas terras daqui são listas e listas exibidas sobre hate-posts, divulgadas por portais de cunho temático. Silvio Lang, porta-voz da iniciativa “Nazifrei- Dresden stellt sich quer” (Livre de nazistas/Dresden se posiciona)” menciona que a plataforma http://perlen-aus-freital.tumblr.com/ publica uma vasta coletânea de mensagens de cunho nazista e, ao contrário da campanha da ONG carioca, com nome completo do usuário e foto do perfil do Facebook. As consequências do conteúdo publicado para os criminosos cibernéticos “vão de perda de emprego a constrangimento social, além de instigar a discussão sobre o que se pode ou não nas redes”, assegura Silvio.

É preciso diferenciar os hating-posts dos neonazistas dos outros temas menos polarizantes discutidos nas redes sociais na Alemanha. Os neonazistas não poupam em xingamentos pessoais e até em ameaças de morte à jornalistas que protagonizam editoriais antagônicos à ideologia marrom de quem vai destilando seu veneno pela rede. Vale mencionar que esse caráter acirrado, de algo entre ser ou não ser, não é comum em temas menos polêmicos e de natureza menos ideológica.

Oásis cibernético-social

Quando você acha que nada mais tem lugar na imprensa a não ser mais um escândalo que estourou. Mais um caso de corrupção e se Eduardo Cunha (PMDB_RJ) finalmente vai cair ou não, vai aceitar o pedido de Impeachment ou não e quem andou ou não no jatinho de quem e quando, o artigo no Berliner Morgenpost é um verdadeiro colírio para os olhos. Existem pessoas, nasse caso mulheres, dando um duro danado para fazer da sociedade brasileira um lugar mais digno e menos sofrido pela chaga da impunidade crônica. CRIOLA é um desses oásis composto de mulheres de currículos e caminhos muito diferenciados, mas que não estão dispostas a negociar  quando se trata de racismo e de preconceito. Criola quer posicionamento. Atitude. Mobilização.

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Jurema Werneck, coordenadora da ONG Criola (Foto: Reprodução)

Jurema Werneck, Médica, mestre em Engenharia de Produção pela Coordenação dos Programas de Pós-graduação de Engenharia, UFRJ (2000), doutorada em Comunicação e Cultura pela Escola de Comunicação da UFRJ (2007) é uma das cabeças da ONG. No final da tarde de terça-feira (01), via Skype, Jurema conversou exclusivo com Blog e com os pés bem fincados no chão e discurso sem rodeios sobre o que almeja e porque faz o que faz.

FL: O que o momento do alto nível de digitalização influenciou no trabalho da ONG?

JW: A medida em que a Internet se expande no Brasil e o uso das redes sociais ficam mais frequentes, junto com esse desenvolvimento vem manifestações de racismo. Com o ataque a Maria Julia Coutinho vimos, além de um fato lamentável, também uma oportunidade de mobilizar pessoas para a luta contro racismo, especialmente as pessoas que anteriormente não percebiam essa luta. Nesse contexto foi quer criamos a campanha para fins de mobilização.

O que tem de consequência no trabalho de vocês, quando os ataques  são  sofridos por “globais” como as atrizes Tais Araújo e Cris Vianna?

É muito ruim que elas passem por isso, como também  que pessoas comuns e desconhecidas da mídia, também passem. O que podemos tirar disto é mobilizar mais gente na luta.

Vocês puderam somar um perfil dos principais protagonistas desses ataques?

Nós não fizemos pesquisa estatisticamente refinada. O que eu tenho, porém de perspectiva empírica está disponibilizada no nosso site, é um maior numero de homens atacando mulheres, mas também mulheres tem demonstrado muito racismo na internet.

Como vocês conseguem o suporte financeiro para a campanha?

Toda a campanha é produzida com trabalho voluntário. Não temos recursos financeiros e nem orçamento. A agência de publicidade 3Whaus produz os materiais pró-bono e tem custeado boa parte dos serviços ligados a eles. Os espaços públicos são cedidos, sem custo, pelas empresas proprietárias do espaço, sejam bancas de jornais e empresas de outdoor.

A que deve a menção no jornal berlinense Berliner Morgenpost?

O autor da matéria entrou em contato comigo via Twitter. Eu penso que esse interesse veio como desdobramento da entrevista que a BBC anteriormente fez conosco. Queremos mostrar que o racismo é crime também na Internet e chamar atenção da policia, essa que tem ferramentas bem mais eficientes para investigá-lo… Queremos que os órgãos cumpram seus papéis e  queremos mostrar que os criminosos podem ser localizados facilmente.

Como reagem as vitimas comuns dos crimes cibernéticos?

As vitimas nos pedem orientação de como processar, ir a polícia, denunciar e como garantir que a policia cumpra o seu papel.

O Brasil tem uma longa tradição de impunidade de crimes. Como é a experiência de vocês nesse contexto do crime de racismo que pela legislação brasileira e inafiançável. Vocês percebem a vontade e o empenho dos órgãos responsáveis como policia e Ministério Publico em investigar e punir os culpados?

Essa vontade não existe e a nossa campanha e a maior prova disto: um grupo de mulheres negras, juntamente com uma agencia de publicidade nova, conseguimos localizar os autores dos crimes. A policia que tem o dever de punir e proteger a Internet disso. No caso da atriz Taís Araújo, o empenho deles foi muito claro. Logo declararam na mídia já terem encontrados os autores do crime. Mas nós queremos que isso valha para todos. Com o nosso esforço, conseguimos localizar essas pessoas. Queremos mostrar que não há anonimato na Internet e que o criminosos podem ser localizados facilmente. No final da entrevista, Jurema enfatizou que já pintou contato e interesse de países como Rússia, Israel, além da Inglaterra, Alemanha. Agora é oficial: a CRIOLA ganhou o mundo!

Fátima Lacerda

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