Zika vírus: riscos e direitos de mulheres que querem interromper a gravidez

14 de fevereiro, 2016

(Gazeta de Minas, 14/02/2016) “As mulheres pobres serão as mais prejudicadas se a opção pelo aborto não for legalizada no caso da microcefalia”, alertou especialista.

Já existem brasileiras que optam pelo aborto quando descobrem que estão com o Zika vírus. Elas temem que a criança apresente um quadro de microcefalia. A interrupção da gravidez só é permitida no Brasil em casos de risco à vida da mãe, quando a concepção foi resultado de um estupro ou quando o feto é anencéfalo.

Entrevistado pelo jornalista Marco Aurélio Carvalho no programa Todas as Vozes, da Rádio MEC AM, na edição de terça-feira (2), o infectologista Victor Horácio, pediatra do Hospital Pequeno Príncipe, em Curitiba (PR), afirmou que “a opção pelo aborto tem sido frequente, de modo especial na América do Sul, onde houve um grande aumento dos casos. O Zika vírus pode estar associado à microcefalia, principalmente se a infecção durar até o terceiro mês de gestação. Nesses cenários, há 80% de possibilidades de o filho nascer com microcefalia”, alertou o infectologista.

Victor destaca que “a mãe corre risco de adquirir uma infecção no procedimento de interrupção de gravidez. Isso sem falar nos problemas psicológicos. Logo, a opção pelo aborto é sempre delicada”.

Jacqueline Pitanguy, socióloga e coordenadora executiva da organização não governamental CEPIA (Cidadania, Estudo, Pesquisa, Informação e Ação), também entrevistada no Todas as Vozes de terça-feira (2), disse que não concorda com alguns militantes dos movimentos pelos direitos das pessoas com deficiência que criticam mães que optam pelo aborto de bebês com microcefalia. “Optar é um direito. Inclusive é um direito dessas militantes não interromper a gravidez”, comentou. “É de 1940 a legislação sobre as circunstâncias em que o aborto é permitido no Brasil. É uma legislação muito atrasada. Na Europa, nos Estados Unidos e até em países vizinhos do Brasil há um avanço neste tema”, destacou Jacqueline.

“Essa escolha deve ser regulada, estabelecendo condicionantes para a permissão. Se tivéssemos avançado nesse tema, no país, essas mulheres teriam o direito de optar pela sequência ou não da gravidez, de forma legal e segura. A mãe, o pai e o núcleo familiar são os que têm que tomar essa decisão”, disse Jacqueline. “As mulheres mais pobres serão mais prejudicadas que as demais, se a opção pelo aborto não for legalizada no caso da microcefalia. Elas não terão estrutura mínima para lidar adequadamente com o bebê com microcefalia”, alertou a entrevistada.

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