Notificação de casos de zika passa a ser compulsória no Brasil

18 de fevereiro, 2016

(El País, 18/02/2016) Mortes e infecções agudas em gestantes deverão ser comunicadas em 24 horas

O zika entrou na lista de doenças de notificação compulsória no país. Diante do avanço de enfermidades graves relacionadas ao vírus, como microcefalia e Guillain-Barré, profissionais de saúde das esferas públicas e privada são obrigados, a partir de agora, a informar casos suspeitos e confirmados de infecção por zika. A determinação foi publicada no Diário Oficial da União desta quinta-feira.

Mortes e infecções agudas de zika em gestantes deverão ser comunicadas às autoridades de Saúde em 24 horas. Os demais casos terão de ser relatados semanalmente. O vírus zika se soma a dengue e a chicungunha, que já eram de notificação obrigatória no Brasil. As três doenças são transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti.

— É necessário que qualquer enfermidade epidêmica seja notificada. É de notificação compulsória para a gente saber exatamente o que está ocorrendo, em que quantidade está ocorrendo e onde está ocorrendo — afirmou o ministro da Saúde, Marcelo Castro.

O ministro participou na tarde desta quinta-feira de reunião entre autoridades sanitárias do Brasil e dos Estados Unidos para discutir ações contra o vírus zika e a microcefalia. Alguns dos objetivos são desenvolver uma vacina contra o vírus e pensar em novas formas de combate ao mosquito Aedes aegypti, transmissor de zika, dengue e chikungunya.

Marcelo Castro voltou a defender a relação – que segundo vários especialistas ainda não foi comprovada – entre o vírus e a epidemia de microcefalia. Mas destacou que ainda não se sabe se há outros fatores associados ao vírus para que a ocorrência de microcefalia, uma malformação em que os bebês nascem com a cabeça menor que o normal e, no geral, leva ao retardo mental.

— O que nos falta, e é um dos motivos principais do estudo dessa parceria entre o Brasil e os Estados Unidos, nossa equipe técnica e a equipe técnica do CDC (sigla em inglês para o Centro de Prevenção e Controle de Doenças, órgão federal dos Estados Unidos), que estão hoje associados à Secretaria de Saúde da Paraíba, é para estabelecer se o vírus zika sozinho é uma causa necessária e suficiente para o desencadeamento da microcefalia, ou se há necessidade de algum fator pré-disponente, ou algum fator contribuinte. É o vírus zika só, ou é o vírus zika associado com alguma outra coisa, ou é o vírus zika num organismo que tem essa ou aquela pré-disposição? Isso é uma questão em aberto — afirmou Castro.

MUDANÇA NA APRESENTAÇÃO DO BALANÇO

O último boletim do Ministério da Saúde, divulgado na quarta-feira, mostrou que o número de casos confirmados de microcefalia ou outras alterações do sistema nervoso subiu 10% em uma semana, de 462 para 508. Diferentemente do que vinha sendo feito, a pasta deixou de informar a quantidade de notificações em que a relação com o vírus zika ficou provada. No comunicado anterior, esses casos chegavam a 41. O ministro, que já tinha defendido a mudança na forma de apresentar os números, voltou a argumentar nesta quinta-feira que isso era necessário.

— Eu vi várias reportagens de televisão, com a repórter informando que 41 eram zika e os outros 400 e tantos confirmados não eram por zika. A ideia não é essa. Qual é a nossa ideia? É que a grande maioria – quanto, ninguém sabe, 80%, 90%, mais de 90%, ninguém sabe – que nós estamos tendo no Brasil hoje, esse número excessivo de microcefalia é provocado pelo vírus zika. Conseguimos identificar em 41. Por que não conseguimos identificar nos outros? Porque não é fácil. Porque as pessoas vão ter a criança depois. Antes, os médicos nem sabiam que existia esse vírus, nem sabiam diagnosticar a enfermidade — avaliou Castro.

MOBILIZAÇÃO EM COMBATE AO AEDES

O avanço das doenças relacionados ao zika tem feito o governo se mobilizar no combate ao mosquito. Amanhã, haverá uma campanha nas escolas de todo país, que receberão ministros. A presidente Dilma Rousseff vai a Pernambuco, epicentro da epidemia de microcefalia no Brasil que pode estar associada ao zika.

Também nesta quinta-feira, o Banco Mundial divulgou que vai liberar US$ 150 milhões (cerca de R$ 600 milhões) para auxiliar o combate ao vírus zika na América Latina e no Caribe. Os valores estão disponíveis para todos os países da região que sofrem com a epidemia e podem cobrir, por exemplo, o envio de equipes de especialistas aos países afetados. O banco deixou aberta a possibilidade de aplicar mais recursos para o combate à doença.

“Se for necessário um financiamento adicional, o Banco Mundial está pronto para aumentar seu apoio”, disse a nota, que não detalhou como deve ser o rateio entre os países da região e nem mesmo quanto o Brasil poderá receber deste montante.

O financiamento do Banco Mundial vai apoiar atividades como a vigilância e controle de vetores; identificação das pessoas em maior risco, especialmente mulheres e mulheres em idade reprodutiva grávidas; acompanhamento e cuidados durante a gravidez e pós-natal de bebês com complicações neurológicas; a promoção do acesso ao planejamento familiar, a sensibilização do público, medidas de autoproteção, a mobilização da comunidade; e outras atividades que irão garantir uma resposta robusta, bem orientada, bem coordenada e multissetorial.

Acesse o PDF: Notificação de casos de zika passa a ser compulsória no Brasil (o Globo, 18/02/2016)

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