Mulheres marcham contra Cunha e impeachment e a favor do aborto

08 de março, 2016

(El País, 08/03/2016) A manifestação em celebração ao Dia Internacional da Mulher em São Paulo reuniu milhares de mulheres e homens no centro da cidade, e teve um começo tumultuado. Na concentração do ato na avenida Paulista, um grupo que defendia que a marcha levantasse apenas as bandeiras feministas – como a legalização do aborto – e não queria que o apoio ao Governo Dilma ou ao ex-presidente Lula entrasse na pauta, discutiu com lideranças que defendiam que a luta fosse também “contra o golpe” e o impeachment de Dilma Rousseff. Houve bate-boca no carro de som do ato e cada parte foi para um lado: um grupo desceu a avenida Brigadeiro Luiz Antônio, e outro, a maior parte, desceu a rua Augusta em direção à praça da República, no centro.

Essa segunda parcela de manifestantes era composta por movimentos sindicais, estudantis, de moradia, partidos políticos como o PCdoB e o PT e centenas de pessoas com faixas e cartazes com os dizeres “não vai ter golpe”. Fora do carro de som, a falta de consenso sobre essa última bandeira se repetiu também durante a marcha. “O movimento perdeu o foco”, disse a estudante secundarista Vanessa Cavalcanti. ” O que estava escrito no evento é que seria um ato feminista. Juntar várias causas enfraquece o ato”.

“[O ato] não é a favor do PT”, disse Lua Rosa, estudante que estava com Vanessa. “É contra o impeachment”. Para Ana Carolina Grassnann, também estudante que acompanhava as amigas no ato, “tirar o [Eduardo] Cunha é uma reivindicação feminista”. De fato, mais uma vez, as mulheres pediram a saída do presidente da Câmara, por colocar em votação e ser autor de projetos considerados conservadores e que ferem os direitos feministas, como a PL 5069, que dificulta o atendimento de mulheres vítimas de estupro. No ano passado, foram elas as primeiras a irem às ruas pedir seu afastamento.

O ato deste 8 de março pode ter sido uma espécie de termômetro para medir a temperatura da força dos movimentos de esquerda nas próximas semanas. Na última sexta-feira, manifestantes a favor do ex-presidente Lula, que naquele dia foi levado a depor na Polícia Federal em uma nova fase da Operação Lava Jato, anunciaram que o Dia Internacional da Mulher seria o primeiro de uma série de atos “contra o golpe”. O segundo está marcado para o dia 18 de março. “O golpe não é contra um partido”, disse Jacqueline Oliveira do Nascimento, da União Brasileira das Mulheres. “É contra o povo brasileiro, e seria um absurdo as mulheres não tomarem partido neste momento”. Ela carregava um cartaz com os dizeres “mulheres com Lula”.

Além da divergência inicial, a marcha foi marcada pela presença de muitas meninas e adolescentes, várias delas que militaram no movimento secundarista no ano passado contra a reorganização escolar. Elas aproveitaram o ato para lembrar do caso de corrupção na merenda do governo Geraldo Alckmin (PSDB): “que contradição! Aborto é crime, [mas] roubar merenda, não!”, gritavam, em frente à sede da secretaria de Educação do Estado, que fica na praça da República. Apesar das divergências, as vaias foram um consenso quando, na rua Caio Prado, o morador de um prédio saiu na janela para bater panela, uma já tradicional ferramenta que os movimentos contra o Governo usam para protestar. “Não vai ter golpe” foi a resposta que tomou conta da rua toda.

MARINA ROSSI

Acesse no site de origem: Mulheres marcham contra Cunha e impeachment e a favor do aborto (El País, 08/03/2016)

Nossas Pesquisas de Opinião

Nossas Pesquisas de opinião

Ver todas
Veja mais pesquisas