Países com zika deveriam liberar aborto, afirma parlamentar dos EUA

15 de março, 2016

(Folha de S.Paulo, 15/03/2016) Os países que estão no foco do surto de zika devem ser incentivados a investir no planejamento familiar, defendem membros do Congresso dos Estados Unidos.

Crenças religiosas não devem ser impedimento para o direito das mulheres de usar contraceptivos e de abortar em caso de fetos com microcefalia, afirmaram os parlamentares durante um evento sobre o vírus e suas implicações para os EUA realizado nesta terça (15), em Washington.
“Sabemos que são países católicos e que tem leis contra o aborto”, disse a deputada federal Katherine Clark. “Mas até o papa já admitiu o uso de contraceptivos durante o surto.”

Outra deputada, Susan Brooks, propôs incluir o vírus da zika na lista de prioridades da agência federal de medicamentos dos EUA para o desenvolvimento de tratamento e vacina contra a doença.

Ela citou a preocupação com a grande quantidade de americanos que devem ir ao Brasil para a Olimpíada e disse que o investimento em pesquisa sobre o zika é não apenas uma questão de saúde, mas também de segurança nacional, já que um vírus pode virar arma biológica por obra de terroristas.

Entre os palestrantes estava Jeffrey Crowley, que até 2011 era o “czar” do governo Barack Obama contra o HIV/Aids.

Para ele, uma lição do combate ao HIV para o surto do zika é lutar contra a estigmatização da doença e ouvir os infectados.

Um dos paralelos entre as duas doenças, segundo Crowley, é o desconhecimento em torno delas quando ocorreu o surto. “As pessoas têm medo. Não podemos esperar que as autoridades saibam tudo, mas elas têm que mostrar com clareza o que estão fazendo para enfrentar com o surto”, disse à Folha.

EFEITO DA CRISE

No Brasil, as crises econômica e política ajudaram a agravar o surto do vírus da zika, disse a socióloga Jacqueline Pitanguy, da organização Cepia (Cidadania, Estudo, Pesquisa, Informação e Ação), do Rio de Janeiro.

Segundo ela, houve “cortes drásticos” nos recursos públicos disponíveis para a saúde.

A socióloga observou ainda que a crescente força de grupos religiosos no Congresso Nacional limita os direitos das mulheres e lembrou que o Brasil “tem uma das leis anti-aborto mais restritivas do mundo”.

Além disso, afirmou, as prioridades políticas são outras. “O que o Brasil discute hoje é [a operação] Lava-Jato, disse.

O evento foi organizado por dois centros de estudo de Washington, Diálogo Interamericano e Instituto O`Neill de Direito de Saúde.

Marcelo Ninio

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