Chikungunya pode causar problemas neurológicos em crianças

17 de março, 2016

(Folha de S.Paulo, 17/03/2016) Crianças infectadas por chikungunya têm mais chances de apresentar déficit neurocognitivo no futuro, apontam estudos feitos na ilha Reunião, localizada no meio do Oceano Índico. A ilha enfrentou surtos de chikungunya em 2004 e 2010 e foi uma das primeiras a alertar sobre a transmissão vertical (de mãe para filho).

Em um desses estudos, publicado na revista científica “PLoS Neglected Tropical Diseases”, pesquisadores seguiram durante dois anos um grupo de 33 crianças infectadas pelo vírus no parto e o compararam com 135 crianças que não tiveram o contágio.

Mesmo isolando variáveis, como idade gestacional ao nascer e ter sido ou não amamentadas no peito, após dois anos de seguimento, as crianças que tiveram chikungunya apresentaram três vezes mais chance de atraso no desenvolvimento neurocognitivos, como dificuldade de coordenação e linguagem.

O quadro foi pior nas que tiveram algum tipo de paralisia cerebral (16 casos). Segundo a pediatra Alicia Moreira, a ideia é acompanhar o desenvolvimento dos bebês infectados por chikungunya na Bahia. “Como não é um problema visível, como a microcefalia, as famílias tendem a não se preocupar.”

Para ela, comunidade médica e científica está muito voltada para os casos de microcefalia associados ao zika mas também precisa estudar e acompanhar as gestantes e seus bebês infectados por chikungunya e dengue.

“Agora que o Brasil começa a ter mais casuística de chikungunya é que vamos ter condições de avaliar os seus efeitos”, diz a pediatra Consuelo Silva de Oliveira, pesquisadora do Instituto Evandro Chagas, na região metropolitana de Belém (PA).

TRÊS VÍRUS

Para ela, o que os estudos internacionais têm mostrado é que, com os três vírus circulando ao mesmo tempo, o país tem mais do que um desafio pela frente. “É uma tragédia mesmo. Um pode evoluir para óbito fetal, outro causa microcefalia e outro causa hemorragias.”

Embora haja estudos relatando a transmissão do chikungunya nos primeiros trimestres da gestação, o maior impacto do vírus parece ser no final da gravidez. “O bebê nasce bem, mas depois de três, quatro dias, pode ter exantema [manchas vermelhas], choro forte, apresentar hemorragias e comprometimento neurológico. É uma dramaticidade muito grande para recém-nascidos”, explica Consuelo.

Segundo a médica, os pediatras precisam estar atentos para o risco da alta hospitalar precoce de bebês cujas mães tiveram chikungunya no final da gestação. A Sociedade Brasileira de Pediatria prepara um protocolo sobre os cuidados recomendados nesses casos.

Cláudia Collocci

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