Casos de sífilis devem aumentar 256% este ano, diz Ministério da Saúde

28 de março, 2016

(Correio Braziliense, 28/03/2016) O crescimento de bebês contaminados na gestação pode chegar a 183% no período. Para especialistas, problema é depreciado no país

Com sintomas que podem passar despercebidos pelo paciente e até por profissionais de saúde, a infecção por sífilis toma formas preocupantes no Brasil. Segundo dados do Ministério da Saúde, em 2008, o Brasil registrava 7.920 casos de grávidas infectadas pela bactéria Treponema pallidum e, em 2013, 21.382. Os registros de bebês nascidos com a doença no mesmo período pularam de 5.728 (dois casos para cada 1 mil nascidos vivos) para 13.705 (4,7 para cada 1 mil). Um relatório da pasta assinado por Fábio Mesquita, diretor do Departamento de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST), Aids e Hepatites Virais, estima para este ano 28.226 diagnósticos prováveis da infecção em grávidas e 16.226 de sífilis congênita (5,6 a cada 1 mil nascidos vivos). Se confirmados e comparados à realidade de oito anos atrás, os aumentos serão de 256% e 183%, respectivamente.

O problema tem causas multifatoriais, que incluem a falta de penicilina no país, a qualidade do pré-natal e questões culturais de prevenção a doenças sexualmente transmissíveis (DST), avalia Juvêncio Furtado, coordenador científico do Departamento de Infectologia da Associação Paulista de Medicina e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia. “O Brasil é campeão mundial em sífilis congênita. A doença é negligenciada e, equivocadamente, associada à promiscuidade, mas é extremamente prevalecente em todas as classes sociais”, diz. O médico conta que, diariamente, atende entre três e quatro casos de pessoas infectadas. “Qualquer um que tenha relação sexual desprotegida pode se infectar, mas a doença é relegada a segundo plano. A verdade é que não temos a dimensão da sífilis no Brasil, só sabemos que é muito maior do que a gente imagina.”

Silenciosa, a infecção é conhecida como a doença das mil faces e pode levar à morte. “Tem também esse nome porque pode ser facilmente confundida. O primeiro sintoma, o cancro duro, pode aparecer na boca e ser confundido com afta; pode se manifestar intravaginal e a mulher nem notar; no ânus e ser vista como um machucado qualquer. Existem casos descritos na literatura científica de que a lesão se manifestou no dedo”, explica.

Transmitida pela relação sexual, incluindo o sexo oral, e também por transfusão de sangue, a doença tem como primeiro sintoma uma ferida (cancro duro) que não dói, não coça, não arde e comumente aparece nos órgãos sexuais de homens e mulheres, desaparecendo depois de um tempo. Na fase secundária, manchas vermelhas surgem pelo corpo, e a doença pode ser confundida com algum tipo de alergia. Como os sintomas também somem, geralmente em 10 dias, a pessoa não cogita a sífilis. “O médico não está habituado a associar esse sintoma à DST. Quando a sífilis não é diagnosticada nas fases iniciais, passa por uma latência sem nenhuma manifestação clínica que só é detectada em exames”, afirma Furtado.

Na fase terciária, a doença pode ficar sem apresentar sintomas por meses ou anos, até o momento em que surgem complicações graves, como cegueira, paralisia, doença cerebral, problemas cardíacos e morte.

Notificação tardia
Para além da dificuldade do diagnóstico, a sífilis adquirida só passou a ter notificação obrigatória no Brasil em 2014. Antes disso, o procedimento era compulsório para gestantes (desde 2005) e nos casos de sífilis congênita (desde 1986). Outro obstáculo está no fato de não ser comum entre a população sexualmente ativa a realização do teste rápido para diagnosticar essa DST justamente pelo fato de a doença ser assintomática na grande maioria dos casos.

O que ocorre na prática é a testagem nos doadores de sangue e nas grávidas. Dessa forma, antes da notificação compulsória para sífilis adquirida, a transmissão da doença no país só era percebida durante o pré-natal. O teste em gestantes deve ser realizado na primeira consulta da gestante e repetido no terceiro trimestre da gravidez e no momento do parto, independentemente de exames anteriores.

Valéria Mendes

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