Cláudio Gonçalves Couto

28 de fevereiro, 2011

(Agência Patrícia Galvão) Maior mudança na cultura política masculina talvez seja lidar com uma presidenta

claudio
Entrevista com Cláudio Gonçalves Couto
, cientista político
 (FGV/SP)

 “No Brasil, a conquista de espaço político pelas mulheres tem sido paulatina, embora lenta. A eleição da presidenta Dilma Rousseff representa um evento particularmente importante, especialmente a iniciativa de nomear um número de ministras “nunca antes visto na história deste país” e de adotar propositalmente ‘presidenta’ para marcar a distinção de gênero da nova chefa de Estado.

É, sem dúvida, um momento motivador da entrada de mais mulheres na política e fomentador de maior aceitação dessa participação pela sociedade como um todo. Isto pode representar um ganho não especificamente para a próxima eleição, mas para as futuras eleições.

Talvez o principal fator para a mudança na cultura política masculina dos partidos seja a necessidade de lidar, cotidianamente, com uma presidenta, tendo-se de deparar o tempo todo com essa condição para se fazer referência a ela. Um exemplo é o triste episódio em que dois parlamentares, Arthur Virgílio (PSDB-AM) e ACM Neto (DEM-BA), ameaçaram dar uma surra no presidente Lula. À época pegou muito mal. O desastre seria ainda maior se a ameaça se dirigisse contra uma presidenta mulher.

É um exemplo extremo, mas mostra como os políticos, em sua maioria homens dotados dessa cultura de poder masculino (que chega à lógica de ‘sair no braço’), terão de lidar de forma distinta com uma presidenta. Isto tende a transbordar para a vida política em geral, tendo em vista a importância que a relação com a Presidência da República tem para o imaginário político nacional.

A melhor forma de pressão que as mulheres organizadas podem exercer sobre os partidos é a cobrança de que eles apresentem mais candidatas. A legislação que prevê a cota feminina teve uma interpretação muito generosa, permitindo o entendimento de que não é preciso ocupar 30% das vagas sob a alegação de que elas não se apresentaram.

Um instrumento como a lista fechada facilitaria a participação feminina. A cada três nomes na lista, ao menos um deveria ser de uma mulher. Com isso, inescapavelmente, a participação feminina na política aumentaria.

Não considero que necessariamente haja uma marca própria ou estilo feminino de governar. Nem seria desejável um modo feminino de governar em oposição a um modo masculino. O mais importante são as instituições – como os partidos – e as culturas de cada espaço.

O que muda com uma mulher no governo é a sinalização para a sociedade de que mulheres podem se desempenhar tão bem em cargos políticos quanto os homens que tradicionalmente os ocupam.”

Para contato com o entrevistado:
Cláudio Gonçalves Couto
– cientista político, professor do Departamento de Gestão Pública da Fundação Getulio Vargas/SP
São Paulo/SP
Tel.: (11) 3799.3681 –
[email protected]

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