Caso Louise: estudantes entregam abaixo-assinado para reitor e pedem segurança

30 de abril, 2016

(Metrópoles, 30/04/2016) Alunos sugeriram medidas para ampliar o debate sobre violência de gênero e aumentar a segurança nos campi

A morte da estudante de 20 anos Louise Ribeiro chocou o Brasil e a comunidade acadêmica. Homenagens foram feitas, o feminicídio foi difundido na imprensa e denúncias de estupro na Universidade de Brasília (UnB) começaram a aparecer. Em uma tentativa de melhorar a segurança nos campi e debater sobre a violência de gênero, um grupo de alunos entregou um abaixo-assinado, com 2.839 assinaturas, para o reitor Ivan Camargo. O encontro ocorreu na sexta-feira (29/4).

Na ocasião, Marcelo Holanda, Gabriela Santos e Milena dos Passos, que também participaram da elaboração da petição (criada na change.org), conversaram com o reitor sobre a importância de debater o assunto. “Esse tema precisa permanecer nas salas de aula. Não podemos esquecer do que aconteceu. Temos que fazer um trabalho de conscientização e alertar, ainda, para problemas estruturais, como a falta de iluminação, mato alto e falta de segurança”, afirmou Marcelo, advogado e estudante de letras da UnB.

 

Os universitários contaram que, após a notícia da morte, uma professora de literatura abriu o debate durante a aula. Não faltaram relatos de mulheres que foram coagidas por ex-namorados. “Algumas falaram que andam com arma de choque na bolsa. Outras chegam a pegar até três ônibus para evitar andar sozinha na rua. É um problema grave que precisa de atenção”, frisou o aluno de letras.

Ivan Camargo confidenciou aos estudantes que o problema da violência de gênero precisa ser combatido antes mesmo de os universitários ingressarem na UnB. “Há casos de machismo durante os trotes e isso precisa ser combatido. Eu, como reitor, não consigo garantir que os trotes parem de ocorrer. Os estudantes precisam se conscientizar de que não é uma postura correta”, explicou.

“Fico satisfeito que essas ações (abaixo-assinado) estejam acontecendo. Mostra a vitalidade da UnB. É preciso combater todos os tipos de violência aqui dentro, desde destruição ao patrimônio público até o feminicídio”, completou. Ivan Camargo ressaltou que há esforço para resolver os problemas estruturais apontados pelos alunos, mas faltam recursos.

A petição será encaminhada para o Decanato de Assuntos Comunitários e discutida no Conselho de Segurança da UnB.

Confira as propostas sugeridas pelos estudantes:

1 –  Convidar alunos, alunas e professores a discutirem a violência de gênero em suas classes.

2 – Oferecer um circuito de palestras, dentro dos três campi, organizado exclusivamente para o fim de debater sobre o caso de Louise Ribeiro.

3 – Ouvir sugestões dos alunos sobre melhorias que precisam ser feitas na UnB.

4 – Reforma geral da iluminação pública nos ‘campi’, inserção de um circuito interno de câmeras para as áreas comuns, incluindo os laboratórios onde alunos e alunas têm acesso a materiais de potencial letalidade, como o clorofórmio utilizado pelo réu confesso Vinícius.

Manifesto

Marcelo Holanda também entregou um manifesto para o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) e para Secretaria Adjunta da Mulher, Igualdade Racial e Direitos Humanos falando sobre a importância de preservar e fazer valer os direitos das mulheres. “Como homem e integrante do grupo LGBT, me identifico com a causa. Pois todos acabamos sendo vítimas de uma sociedade cada vez mais machista e desigual.”

No manifesto, ele pede que sejam intensificadas as campanhas de violência contra a mulher, sugere que o caso de Louise seja levado para as salas de aula e que a violência de gênero ganhe espaço no currículo do ensino médio. O documento ainda cobra, dos órgãos que atendem vítimas de violência, a contratação de profissionais capacitados.

Denúncias

A relações públicas Milena Gonçalves, 27 anos, relata que foi perseguida pelo ex-namorado por cinco anos. “Era uma ameaça velada. Ele não falava comigo, mas acompanhava todos os meus passos”, disse. A jovem tentou registrar ocorrência na delegacia, mas encontrou obstáculos.

Sozinha, Milena foi até a unidade policial e relatou o que estava acontecendo. “Eles me perguntavam o tempo todo se eu tinha certeza que queria denunciar. Que aquilo poderia acabar com a vida do rapaz. Eu já estava fragilizada, não soube como proceder diante daquela situação”, desabafou. Ela só conseguiu viver tranquila depois que mudou de endereço.

Apesar do caso relatado por Milena, autoridades policiais ressaltam a importância de denunciar agressões, coerções e ameaças para evitar crimes hediondos. Os números do Brasil assustam. Nos 10 primeiros meses do ano passado, 63.090 denúncias de violência contra a mulher – o que corresponde a um relato a cada sete minutos no país. Os dados são da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República (SPM-PR), a partir de balanço dos relatos recebidos pelo Ligue 180.

Dos 4.762 homicídios de mulheres registrados em 2013, 50,3% foram cometidos por familiares, sendo que a maioria desses crimes (33,2%) tem parceiros ou ex-parceiros como autores. De cada sete feminicídios, quatro foram praticados por pessoas que tiveram ou tinham relações íntimas de afeto com a mulher.

Ligue

O número 180 da Central de Atendimento à Mulher recebe denúncias e orienta mulheres vítimas de violência. As denúncias recebidas são encaminhadas aos sistemas de Segurança Pública e Ministério Público de cada um dos Estados e do Distrito Federal. Após o recebimento da denúncia, a central dá início à apuração. As ligações são gratuitas e o serviço funciona 24 horas.

Mirelle Pinheiro

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