Machismo e rancor da direita pesaram em queda de Dilma, diz jornal britânico

13 de maio, 2016

(BBC Brasil, 13/05/2016) A mídia internacional deu grande destaque à troca de poder ocorrida no Brasil na quinta-feira após o afastamento pelo Senado da presidente Dilma Rousseff.

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Como era esperado, a repercussão foi dominada pela percepção de que o governo de Michel Temer precisará investir pesado em um arrefecimento do clima de polarização política no país, ao mesmo tempo em que busca a estabilização econômica.

Mas novamente houve espaço para críticas ao establishment político brasileiro. Abaixo, um resumo da visão de algumas dos principais veículos de mídia do mundo.

The Guardian, Reino Unido
Em editorial com o título “O sistema político deveria ir a julgamento, não apenas uma mulher”, o jornal britânico diz que o Brasil “meteu-se em uma imensa bagunça e é difícil ver como pode sair dela”.

Apesar de ressaltar que a presidente cometeu erros que, na opinião do jornal, contribuíram para sua queda, o Guardian classifica o impeachment como prova clara de problemas estruturais na política brasileira. “Não foi apenas a carreira de Dilma que caiu, mas o sistema democrático brasileiro como um todo”.

Para o jornal, “o preconceito contra uma líder mulher e rancores de uma direita que nunca aceitou totalmente a ascensão do PT” tiveram papel nessa queda.

O jornal classifica o sistema político brasileiro como “disfuncional ao ponto de tornar a corrupção virtualmente inevitável e obstruir a boa governança”.

O Guardian defende a necessidade de mudanças constitucionais radicais para tornar a política mais executável e “honesta” no Brasil, mas disse duvidar da capacidade do governo Temer de fazer o que definiu como uma guinada.

New York Times, EUA
Com uma reportagem de seu correspondente no Brasil, Simon Romero, o NYT dá destaque para o anúncio do ministério de Temer, mencionando a ausência de mulheres, negros e a escolha do líder ruralista e megaprodutor Blairo Maggi para o Ministério da Agricultura.

Mas vê como positiva a escolha do ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles para a pasta da Fazenda, lembrando que este havia feito parte do governo de Luiz Inácio Lula da Silva.

Em editorial, o jornal diz que Dilma “está certa ao questionar as motivações e autoridade moral dos políticos que a querem tirar do poder”, apesar de classificar a agora presidente suspensa como uma “péssima política”. O NYT considera que Dilma parece destinada a pagar “um preço altamente desproporcional por seu problemas administrativos enquanto seus acusadores mais ardentes são acusados crimes mais graves”.

“Eles podem descobrir que muito da ira dirigida a ela poderá em breve ser redirecionada”, diz o jornal.

Wall Street Journal, EUA
Adotando um tom mais pragmático, apesar de identificar Temer como um “orquestrador” do impeachment de Dilma, a publicação americana diz que o principal desafio do presidente interino é demonstrar se a troca de poder poderá reanimar a economia brasileira tendo em vista sua falta de apoio popular e o fato de que terá pela frente o PT na oposição – que é o segundo maior partido do Congresso.

Financial Times, Reino Unido
Com o título “Novo líder do Brasil enfrenta crise tripla”, o FT volta a defender a realização de novas eleições e reforma política com a melhor saída para o país. Mas elogia a escolha do que chamou de “equipe econômica com credibilidade”, destacando a escolha de Henrique Meirelles para a Fazenda e prevendo uma mensagem positiva para o mercado.

O jornal britânico diz ainda que Temer precisa permitir que a Operação Lava Jato prossiga, mesmo que isso possa deixar o presidente interino “mais exposto”.

La Nación, Argentina
A publicação sul-americana destaca a troca de poder como uma “demonstração da face anacrônica de um país de aspirações modernas”.

“Na bandeira do Brasil há o lema ‘Ordem e Progresso’, mas a imagens deixadas pelas sessões do processo de impeachment de Dilma Rousseff mostraram o contrário”, escreve o correspondente no Brasil, Alberto Almendariz.

Le Monde, França
O jornal europeu desta a polêmica formação do ministério de Temer (“23 homens, todos brancos”), mencionando ainda as ligações da Operação Lava Jato com o novo partido do governo, o PMDB.

O Le Monde elogia a intenção de Temer de criar um governo de união nacional ao abrir espaço para Meirelles e José Serra. Mas diz ver o Brasil em uma crise de confiança e classifica a suspensão de Dilma como “resultado de manobras de uma classe política altamente desacreditada”.

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