Zika pode permanecer no organismo por meses, segundo estudos

11 de junho, 2016

(O Globo, 11/06/2016) Para pesquisadores, vírus é capaz de afetar a memória e causar dificuldade de raciocínio.

O zika pode permanecer no organismo por mais tempo do que supunham cientistas. Casos investigados por uma rede de pesquisa no Rio mostram que o vírus é capaz de voltar a se manifestar em pessoas que desenvolveram síndrome de Guillain-Barré, encefalite e encefalomielite. Além disso, há sinais de que pode causar distúrbios cognitivos, como perda de memória e dificuldades de raciocínio, em alguns desses pacientes.

O neurologista Osvaldo Nascimento examina um paciente: ele coordena o grupo de estudiosos que investiga casos de distúrbios neurológicos – Hermes de Paula/10-8-2015

A rede estuda também casos de distúrbios neurológicos graves em pacientes com chicungunha. Um deles é o de um homem que morreu em março após desenvolver uma forma grave de Guillain-Barré. O coordenador da rede, o neurologista Osvaldo Nascimento, professor titular de neurologia da Universidade Federal Fluminense (UFF) e presidente da Associação de Neurologia do Estado do Rio de Janeiro (ABN-RJ/Anerj), conta que o paciente foi atendido num hospital do Rio, teve grave paralisia e acabou por não resistir.

— São casos mais raros, mas que, por sua gravidade, precisam de prioridade. Também temos observado uma espécie de persistência do zika e casos mais graves ligados ao chicungunha. O zika parece se esconder no sistema nervoso e reemergir meses depois, por gatilhos que ainda desconhecemos. Uma das possibilidades que investigamos é que ele se torne crônico em alguns casos. Como e por quê, não sabemos ainda — afirma.

EVENTO DISCUTIRÁ CASOS

Nascimento organiza hoje no Rio, no Instituto de Neurologia Deolindo Couto, da UFRJ, um fórum para pesquisadores sobre os distúrbios neurológicos associados ao zika e ao chicungunha. Alguns dos maiores especialistas do Brasil vão debater casos de síndrome de Guillain-Barré, encefalite e meningoencefalite, entre outros problemas neurológicos, vistos em pacientes que contraíram os vírus

A rede integrada por Nascimento reúne médicos e cientistas da UFF, UFRJ, Fiocruz, Dasa e PUC-RS, entre outras instituições. Eles têm acompanhado cerca de 50 pessoas com distúrbios neurológicos associados à infecção por zika ou chicungunha. Todos os pacientes são do Grande Rio, atendidos em hospitais das redes pública e privada.

Alguns pontos preocupam os pesquisadores. O primeiro é a persistência do vírus zika.

— Em alguns casos, a pessoa aparentemente se recupera. Mas a doença, a síndrome de Guillain-Barré, por exemplo, volta a se manifestar após semanas ou meses. Uma hipótese é que o zika se mantenha latente nos neurônios e algum fator de natureza imunológica o reative. Vírus como o do herpes-zóster fazem isso. Não sabemos como esses vírus realmente agem. Existe uma possibilidade de que possam causar uma espécie de doença crônica, uma Guillain-Barré de evolução prolongada. Isso é algo que precisa ser investigado — explica o médico.

SINAIS DE DEMÊNCIA

Outra preocupação dos pesquisadores é o aparecimento de comprometimento cognitivo em alguns desses pacientes.

— Temos observado casos de comprometimento da memória recente, dificuldades de raciocínio e até sinais de demência. Mas é cedo para saber o motivo e a evolução. Isso parece ocorrer em pequeno percentual de pacientes com distúrbios neurológicos relacionados ao zika. Esse será um dos destaques a serem debatidos no fórum — observa Nascimento.

Ana Lucia Azevedo

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