Zika aumentou busca por aborto na América Latina, diz estudo

23 de junho, 2016

(O Estado de S. Paulo, 23/06/2016) Cientistas analisaram solicitações feitas à organização holandesa Women on Web, que dá auxílio para interrupção da gravidez.

A preocupação com as complicações na gravidez relacionadas ao vírus da zika aumentou a demanda por abortos em países da América Latina – com destaque para o Brasil -, de acordo com um novo estudo publicado nesta quarta-feira, 22, pela revista científica New England Journal of Medicine.

Os cientistas avaliaram os pedidos feitos pela internet à ONG holandesa Women on Web (WoW). A organização fornece acesso gratuito a medicamentos abortivos em países onde o aborto seguro não está universalmente disponível, por ser ilegal ou aceito com restrições.

O vírus zika é recente e foi inicialmente identificado em Uganda, em 1947, em macacos. Posteriormente, foi identificado em seres humanos, em 1952, em Uganda e na República Unida da Tanzânia. Surtos da doença são registrados na África, Américas, Ásia e no Pacífico.

O vírus zika é recente e foi inicialmente identificado em Uganda, em 1947, em macacos. Posteriormente, foi identificado em seres humanos, em 1952, em Uganda e na República Unida da Tanzânia. Surtos da doença são registrados na África, Américas, Ásia e no Pacífico.

De acordo com os cientistas, em quase todos os países onde há epidemia de zika e há restrições legais ao aborto, o número de pedidos para o auxílio ao procedimento foi bem maior que o esperado. No Brasil, no Equador e na Venezuela, os pedidos à ONG somam o dobro da expectativa.

Os pesquisadores analisaram os pedidos feitos à ONG entre 17 de novembro de 2015 – quando a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) declarou alerta epidemiológico para a zika no continente – e o dia 2 de março de 2016.

Segundo o estudo, antes do alerta da Opas, a expectativa da ONG era de 581 pedidos de brasileiras nesse período. Mas, depois do alerta, foram feitos 1.210 pedidos – um aumento de 108%.

Nos países onde não houve alertas de saúde relacionados à zika, as diferenças entre o número esperado e o número real de pedidos de aborto no período foram estatisticamente irrelevantes, segundo o estudo.

“É difícil obter dados confiáveis sobre as escolhas das mulheres grávidas na América Latina. Portanto, nossa abordagem pode estar subestimando o impacto do alerta de saúde pública sobre os pedidos de aborto, já que muitas mulheres podem ter utilizado métodos inseguros ou podem ter recorrido a fornecedores clandestinos”, disse uma das autoras do estudo, Abigail Aiken, da Universidade do Texas em Austin (Estados Unidos).

Outra autora, Catherine Aiken, da Universidade de Cambridge (Reino Unido), destacou que a Organização Mundial da Saúde (OMS) prevê quatro milhões de casos de zika nas Américas no próximo ano, o que fará com que o vírus inevitavelmente se alastre para novos países.

“Não basta que as autoridades de saúde alertem as mulheres sobre os riscos associados à zika – elas precisam também fazer esforços para garantir que essas mulheres tenham acesso ao aborto seguro e legal”, disse Catherine.

Participaram também do estudo James Trussel, da Universidade Princeton (Estados Unidos) e Marc Worrel e Rebecca Gomperts, da WoW (Holanda).

Entre os países da América Latina que têm casos de transmissão de zika e restrições legais ao aborto, todos tiveram aumento do número real de pedidos de abortivos em relação à expectativa de pedidos. A única exceção foi a Jamaica. Nesses países, o aumento dos pedidos variou de 35% (El Salvador) a 108% (Brasil).

No mesmo grupo de países, houve aumento de pedidos no Equador(107%), Venezuela (93%), Honduras (75%), Colômbia (38%) e Costa Rica (36%). Em países onde há restrições legais ao aborto, mas onde não houve transmissão interna de zika – casos de Argentina e Peru -, os pedidos de aborto ficaram 20% acima da expectativa.

Fábio de Castro – O Estado de S. Paulo

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