Pesquisadora potiguar analisa efeitos do vírus Zika no cérebro

13 de julho, 2016

(Novo Jornal, 13/07/2016) Aos 23 anos, a potiguar Rafaela Medeiros deixou o clima tropical brasileiro para seguir o sonho de ser cientista em uma das cidades mais frias dos Estados Unidos. Em agosto do último ano Rafaela chegou a Fargo para o mestrado na área de saúde pública e atualmente faz parte de um programa de estágio, onde pesquisa sobre o Zika Virus.

Ao longo de dez semanas, Rafaela se dedica ao trabalho no laboratório de pesquisa Southern Research, onde estuda a replicação do vírus no sistema neurológico.

O estudo é feito a partir da análise da reprodução in vitru e tem como objetivo compreender a preferência do vírus pelo sistema nervoso central, gerando mais informações para que a comunidade científica possa desenvolver uma vacina.

O trabalho teve início no final de maio deste ano e deve ter continuidade até o dia 05 de agosto com uma carga horária de 40 horas semanais.

A brasileira é graduada em biociências pela UFRN e desde agosto do ano passado mora nos Estados Unidos, onde cursa o mestrado em saúde pública na Universidade de Dakota do Norte. Desde o início da especialização se dedica ao estudo do Zika vírus para tentar entender o que acontecia no Brasil quando os primeiros casos foram surgindo junto à associação com o nascimento de bebês com microcefalia.

“Em novembro do ano passado fiz uma pesquisa sobre o zika porque foi mais ou menos na época em que os casos começaram a aparecer e as pessoas não conheciam o vírus. Todo mundo me perguntava sobre o que estava acontecendo e eu comecei a estudar muito sobre o tema porque me sentia na obrigação de poder explicar o que estava acontecendo no meu país. Desde então apresentei trabalhos sobre o vírus em todas as disciplinas do mestrado”, explica a pesquisadora.

Além das pesquisas individuais e apresentação de trabalhos e seminários, Rafaela travou vários debates com seus professores na tentativa incessante de descobrir mais sobre a doença. Durante este processo surgiu uma vaga de estágio que tem como foco observar a replicação do vírus no sistema nervoso central.

Os planos que Rafaela faz para sua carreira como cientista, incluem seguir com as pesquisas sobre o vírus ao longo do mestrado e do doutorado, com o objetivo de gerar conhecimento sobre a doença que pegou o mundo de surpresa. Dessa forma a estudante pretende aliar o sonho de fazer ciência, a vontade de ajudar as pessoas de seu país.

“É uma situação emergencial e a regulamentação científica tem seguido prazos diferentes. Existe uma ideia de que até novembro uma vacina deve começar a ser testada”, explica a estudante potiguar.

Rafaela se graduou em biociências pela UFRN e durante a formação estudou um ano nos Estados Unidos através Ciência Sem Fronteiras, programa do Governo Federal.

Rafaela Medeiros viajou no ano de 2012 para o estado Dakota do Sul, onde concluiu uma parte do curso na Augusta University. A experiência fez com que Rafaela apreciasse o modo de vida e a produção científica americana.

“Meu objetivo inicial é continuar morando aqui. Tem muita gente boa fazendo pesquisa no Brasil, mas aqui o financiamento é muito maior. Também existe um modo diferente de viver. Aqui trabalhamos muito durante a semana, mas nos finais de semana existe tempo para equilibrar isso a uma vida social. Vejo os meus amigos brasileiros que fazem pesquisa trabalhando sem descanso e por ser um trabalho muito difícil eu acho muito importante que haja esse balanceamento”, explica.

O sonho se concretizou quando concluiu a graduação no ano passado e escutou um amigo falando sobre o programa de mestrado em saúde pública ofertado pela Universidade de Dakota do Norte, no estado americano de mesmo nome.

Rafaela passou por todas as fases de seleção da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e juntou recursos próprios para realizar a entrevista pessoalmente, onde conheceu o pesquisador Nathan Fisher, professor de veterinária e de ciências microbiológicas da Universidade de Dakota do Norte.

“Eu acredito que ter a oportunidade de fazer a entrevista pessoalmente foi fundamental para a minha aprovação. Quando conversei com os professores eles puderam sentir toda a minha vontade de aprender e fazer ciência. Puderam perceber o quanto isso é importante para mim e eu não sei se teria sido demonstrado da mesma forma com uma entrevista online, por exemplo”, explica a potiguar.

A brasileira não só foi aprovada na seleção para o mestrado, como foi convidada para uma bolsa de doutorado onde poderia realizar as duas pesquisas paralelamente. O convite foi feito pelo professor Nathan Fisher.

A bolsa de doutorado precisou ser adiada quando o professor saiu da universidade para trabalhar na indústria, mas o processo segue em avaliação pela universidade e foi graças à mudança que surgiu o estágio para pesquisar sobre o zika.

“Existe um estágio obrigatório entre o primeiro e o segundo ano do mestrado. Quando concluí a primeira parte procurei o professor Fisher para saber se havia alguma vaga de estágio disponível e na mesma hora ele respondeu que eu poderia fazer pesquisas sobre o vírus. Eu estou muito feliz porque era algo que eu já vinha estudando e pretendo continuar as pesquisas”, conta Rafaela.

A potiguar se mantém nos Estados Unidos com recursos próprios. Os pais ajudam nas despesas da universidade, como mensalidade e seguro saúde e seu trabalho no laboratório de plantas da universidade é suficiente para custear as despesas básicas e o aluguel de seu pequeno apartamento na cidade de Fargo.

Apesar de já está bem adaptada à rotina, Rafaela ressalta a dificuldade de trabalhar com ciência e a vontade de seguir com as pesquisas até que um dia possa atuar como mentora da universidade, incentivando outras pessoas a seguir na área da produção científica.

Quando perguntada se esta dificuldade é maior ainda por ser mulher, a potiguar responde que nunca teve nenhuma oportunidade negada pelo gênero, mas ressalta a necessidade de mais igualdade.

“Nunca me negaram nada pelo fato de ser mulher, mas eu sei que esse tipo de coisa continua acontecendo e que as mulheres ainda sofrem preconceito em muitos lugares. É uma coisa que me deixa bastante triste e eu acredito em construir um mundo que seja mais igualitário”, ressalta a potiguar.

Rafaela é filha de médicos, o pai é infectologista e a mãe, pediatra. Além da influência dos pais, a brasileira ganhou um presente de aniversário que despertou a curiosidade sobre o mundo das ciências e da pesquisa.

Aos 11 anos de idade, Rafaela recebeu dos pais um microscópio da Barbie e desde então desenvolveu um fascínio pelo mundo microscópico.

“Era uma coisa muito diferente. Foi um dos meus brinquedos favoritos e despertou esse interesse intrínseco em saber o que está acontecendo no mundo microscópico”, conta Rafaela.

A mestranda conta que a brincadeira de criança foi junto com o ambiente familiar um fator decisivo para a escolha da profissão.

“Eu cresci em uma casa com muitos livros sobre medicina. Você vai crescendo com a ideia e parece algo natural. Uma coisa com a qual você se identifica. Eu fico feliz em seguir na mesma área dos meus pais”, finaliza.

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