A combatente curda morta em combate cuja luta contra o Estado Islâmico foi minimizada por conta de sua beleza

13 de setembro, 2016

Descrita como a ‘Angelina Jolie do Curdistão’, pela beleza análoga à da atriz americana, Asia Ramazan Antar não foi apenas vítima das atrocidades do grupo autodenominado Estado Islâmico, mas também, segundo companheiras de luta, de comparações sexistas da imprensa ocidental.

(BBC Brasil, 13/09/2016 – acesse no site de origem)

No mês passado, a jovem de 19 anos, natural da cidade de Qamishli, morreu alvo de ataques de militantes do grupo extremista no norte da Síria.

Mas, na opinião de seus compatriotas, apesar de ser uma aguerrida combatente, sua personalidade – marcada, segundo suas colegas, por sensibilidade e modéstia – foi minimizada por sua aparência física.

Asia era combatente das Unidades de Proteção das Mulheres (YPJ, na sigla em inglês), uma organização militar do Curdistão composta apenas por mulheres.

No ano passado, apesar da resistência de grupos religiosos conservadores, combatentes do sexo feminino pressionaram o Curdistão a aprovar leis progressistas que criminalizaram a violência contra as mulheres, o casamento forçado e a poligamia.

Um dos resultados desse novo arcabouço legal foi a criação da divisão militar totalmente integrada por mulheres.

Para os meios de comunicação no Curdistão sírio, Asia Ramazan Antar foi uma das muitas combatentes que perderam a vida lutando contra o EI.

Asia Ramazan Antar

Companheiros de luta de Asia dizem que sua personalidade foi minimizada por sua aparência física (Foto: Alberto H. Rojas)

Ela se uniu às Unidades Curdas de Proteção à Mulher em 2015, nas quais adotou o nome de Vivyan Antar.

Depois de completar seu treinamento militar, Asia foi enviada ao front de batalha contra os militantes de EI.

Participou de cinco batalhas nos arredores de Manbij, perto da fronteira com a Turquia, em 30 de agosto.

Funeral de Asia Ramazan Antar

Asia Ramazan Antar foi enterrada junto a outras combatentes que não receberam a mesma atenção da mídia ocidental (Foto: Alamy)

Durante os últimos dois anos, seis de seus primos e tios também morreram na luta contra o Estado Islâmico.

Assim como Asia Ramazan Antar, centenas de outros combatentes curdos morreram em combate. A maioria deles era jovem, em sua adolescência, mas ninguém recebeu a mesma atenção dos meios de comunicação que Viyan.

‘Representação sexista’

Choman Kannani é um dos combatentes curdos que criticaram a forma como Asia foi tratada pelos meios de comunicação ocidentais.

Ele é o responsável pela reconstrução da cidade de Kobane, ocupada pelo Estado Islâmico e destruída entre 2014 e 2015, antes de as forças curdas expulsarem os jihadistas.

Kannani perdeu muitos companheiros de luta, tanto homens quanto mulheres.

“Toda a filosofia das Unidades Curdas de Proteção à Mulher é lutar contra o sexismo e evitar o uso da mulher como objeto sexual”, disse.

Mujeres bajo la ley islámica en Siria

Integrantes das Unidades Curdas de Proteção à Mulher pressionaram autoridades curdas a criar leis a favor dos direitos femininos (Foto: Getty Images)

“Queremos dar a mulheres o lugar que merecem na sociedade e que elas sejam donas de seus próprios destinos. Viyan morreu por esses ideais. Nos meios de comunicação, ninguém falava dos ideais pelos quais ela morreu, nem o que Viyan fez pelas mulheres no Curdistão sírio nos últimos quatro anos”.

Agrina Senna é uma comandante das Unidades que perdeu uma das pernas na batalha para liberar Manbij. Também perdeu muitos de seus amigos.

Ela fez um chamado para que as pessoas se informem de suas companheiras de luta que morreram e que negaram se viver sob o jugo do ‘EI’ e da sharia (lei islâmica).

“Veja as fotos dela, são todas angelicais, todas lindas, não se pode escolher uma só por esta ser parecida com uma atriz de Hollywood, Angelina Jolie ou Julia Roberts”.

“(as atrizes) Não tem nada em comum com elas. Elas prefeririam morrer a viver sob o controle de um dos grupos mais misóginos do mundo”.

Com colaboração de Guney Yildiz, da BBC

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