Magda Kiehl, executiva: ‘Desafio da mulher é não desistir no meio do caminho’

20 de setembro, 2016

Diretora da rede AccorHotels, paulista esteve no Rio para participar do 2º Fórum de Empoderamento Feminino

(O Globo, 20/09/2016 – acesse no site de origem)

“Sou bacharel em Letras pela PUC-SP e bacharel em Direito pela USP, onde fiz também mestrado em Direito Internacional. Iniciei minha carreira no setor jurídico, em empresas da área de serviços e tecnologia, em 1996, até chegar ao setor hoteleiro,11 anos atrás. Sou casada e mãe de um filho. Uma de minhas paixões é viajar. Adoro esquiar.”

Conte algo que não sei.

Na França, as mulheres estão em menor número na área gerencial, com a meta de chegar a 35% dos cargos até 2017. Na América do Sul, em cargo gerencial, estamos igualitários. Não sei se é a mentalidade do brasileiro. Não há uma explicação para isso. Talvez pelo tipo de gestão, com as mulheres sendo mais estimuladas e tendo mais oportunidades.

Qual é, hoje, o principal desafio das mulheres no mercado de trabalho?

A realidade da mulher é sempre dividida. Ela quer buscar o lado profissional, porque gosta do que faz. Mas tem sempre a questão de conciliar com o lado pessoal, dos filhos e do marido. É um dos desafios que nós, mulheres, temos. E isso vale para as executivas e para a base, como as mulheres que trabalham como camareiras, garçonetes, na cozinha, na limpeza e no restaurante. Todas passam por esse mesmo dilema existencial. Não importa o nível em que esteja.

Mas as empresas podem ajudar nesse sentido, de conciliar as agendas?

É importante as empresas ajudarem as mulheres nessa caminhada de crescimento na carreira, de conciliação. É preciso criar projetos, apoiar com ações que são relevantes para o desenvolvimento profissional e para reter talentos. Sem o apoio da empresa e sem conseguir auxiliar, a mulher ou desiste da carreira ou larga o emprego. E não dá aquele passo a mais para crescer, para ter cargos e salários melhores.

Mas qual é o desafio?

Os homens ainda estão nos cargos mais altos (diretoria). Na empresa em que trabalho são 12 diretores, três são mulheres. Há muitas mulheres em cargos gerenciais. Elas são 50%. Hoje na empresa não há diferença de salário, mas temos o desafio de fazer as mulheres crescerem, atingirem cargos de diretoria, irem além do nível gerencial.

Como vencer essa barreira?

Elas vão bem até certo ponto. De repente, quando chega a hora de ter um filho, por exemplo, e quando ela tem que pôr uma energia maior, aí o homem decola e a mulher estabiliza. Mas, se ela tem apoio nessa hora, com horário flexível, talvez uma licença maior, uma compreensão com essa vida dupla, consegue-se reter esse talento. Se ela tem que pegar o filho na escola, pega o computador depois e trabalha. São coisas pequenas que fazem muita diferença. Temos um projeto para ter uma extensão de licença-maternidade. Hoje, são quatro meses. Estamos estudando ampliar.

Mas as mulheres estão cada vez mais preparadas.

As mulheres estão muito bem preparadas. Muitas vezes têm formação superior à dos homens. O difícil é manter esse ritmo, porque, dependendo da fase da vida da mulher, isso se dispersa. Para o homem é mais fácil. O foco é a carreira e acabou. O homem tem o drive do trabalho. E é valorizado por isso. E, como a mulher tem outras facetas, o desafio é ter perseverança, não desistir no meio do caminho.

É a favor de cotas para mulheres?

Sou contra cotas. Que vença o melhor. A mulher só precisa dessa flexibilidade em alguns momentos. Não é toda hora. O que as empresas têm feito em processo de seleção é que 50% das candidatas sejam mulheres. Dessa forma a escolha pode ser mais justa.

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