Mídia trata novas ministras de forma pejorativa, dizem especialistas

13 de junho, 2011

(Agência Patrícia Galvão) Os diferentes adjetivos utilizados na cobertura sobre as nomeações das ministras Gleisi Hoffmann e Ideli Salvatti fazem pensar que o jornalismo brasileiro opera com uma forte expectativa sobre o comportamento das mulheres na política, esperando que elas sejam conciliadoras, ouvintes atentas, menos agressivas que os homens, menos competitivas, menos “tratores”. Parece haver, em relação às mulheres, um modelo idealizado sobre o comportamento feminino na política.

Ao mesmo tempo em que reconhecem que a política é uma área competitiva e agressiva, jornalistas e colunistas das editorias de Política e Poder criticam nas ministras atitudes consideradas “exacerbadas” para mulheres. Não estariam eles alimentando uma visão arcaica, romântica ou mesma preconceituosa sobre as mulheres na política?

A Agência de Notícias Patrícia Galvão ouviu especialistas no tema Mulheres na Política e colheu os seguintes comentários:


A MÍDIA EXACERBA CARACTERÍSTICAS DAS NOVAS MINISTRAS

claraaraujo130“Os comentários intolerantes e inflexíveis da grande mídia – não só nas notícias, mas nos artigos assinados por colunistas que se dizem progressistas – deixam muito visível o conservadorismo que se manifesta violentamente quando mulheres se colocam, dão um passo à frente. Ao exacerbarem as características das mulheres – prepotentes, inflexíveis, arrogantes – querem dizer, nas entrelinhas, que estão fora de seus lugares, que são inaptas para a política. Mais do que isso, há uma aposta de que elas não vão dar certo; como se a política fosse um mundo doce, das gentilezas, e não marcado por disputas, conflitos, asperezas. A imprensa faz uma reconfiguração do ambiente da política como se traços mais afirmativos e mais agressivos não existissem, quando são exatamente os que marcam esse mundo. Um homem no poder, ao se mostrar mais pacato, menos agressivo, é apontado como fraco, tanto que o ex-ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Luiz Sérgio, foi criticado e deixou o cargo exatamente por falta das características que, nas ministras, são exacerbadas e pejorativas. Raramente, um homem, ao assumir um cargo é julgado dessa forma; a mídia não exacerba suas características e aspectos físicos, mas pontua sua trajetória. Ambas Gleissi Hoffmann e Ideli Salvatti têm história política.”

Clara Araújo, socióloga, pesquisadora de pós-graduação do Departamento de Ciências Sociais e coordenadora do Núcleo de Estudos sobre Desigualdade e Relações de Gênero, ambos da UERJ.
Rio de Janeiro/RJ
(21) 8441.2719 – [email protected]


SEXISMO ESTAMPADO NA IMPRENSA

lenalavinas130“O sexismo estampado pela grande imprensa só reflete o quanto a classe política brasileira é conservadora. Até Veríssimo, que é um dos mais brilhantes dos nossos jornalistas, escorregou no uso pejorativo da palavra “bonitinha” ao se referir à nova ministra da Casa Civil, em sua coluna no jornal O Globo. Os novos acadêmicos e os não acadêmicos da imprensa têm revelado cotidianamente sua vulgaridade ao se referir às mulheres cuja competência, dignidade e brilho são características incontestáveis.”

Lena Lavinas – economista e professora associada do Instituto de Economia da UFRJ
Rio de Janeiro/RJ
(21) 8133.6804 – [email protected]

 

PERDA DE TEMPO E DE ESPAÇO

gustavoventuri“Vejo uma falta de prática da imprensa com essa nova situação, ou seja, um olhar machista por não estarem acostumados com tantas mulheres em cargo de poder e relevância. Buscam pautas paralelas e apelam para o estereótipo do feminino com comentários que não são feitos quando se referem aos políticos homens. Esse conjunto de observações sobre as ministras é reflexo da cultura política na qual a participação feminina é vista como incomum. Esta não é a questão central; não é o que realmente importa nem esta em jogo no desempenho delas. Portanto, há um desperdício de espaço (mídia impressa) e de tempo (mídia televisa), no qual poderiam estar destacando as propostas, metas, ações, e visão política das novas ministras.”

Gustavo Venturi, professor do Departamento de Sociologia da USP
São Paulo/SP
[email protected]

 

 

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