Pesquisa indica zika como causa de fissura labial em bebês

25 de outubro, 2016

Hipótese é de que afinidade do vírus com células do sistema neural pode dificultar ou modificar os seus mecanismos de proliferação e migração nos tecidos faciais

(JCNet, 24/10/2016 – Acesse no site de origem)

Na sexta feira, dia 21 de outubro, foram apresentados pela primeira vez à comunidade científica nacional e internacional três casos de bebês fissurados e filhos de mães com diagnóstico de zika e microcefalia, sem que apresentassem qualquer história familiar de fissuras labiais, palatinas ou faciais. São duas meninas e um menino nascidos no Maranhão e atendidos no Hospital Infantil Dr. Juvêncio Mattos em São Luís com fissuras labiais e palatinas.

O apresentação ocorreu no 13º Congresso Paulista de Cirurgia Bucomaxilofacial no Centro Tecnológico de Sorocaba por pesquisadores e clínicos da Secretária do Estado do Maranhão e da Faculdade de Odontologia de Bauru da USP. A explanação oral da pós-graduanda Géssyca M.M.F. Guimarães surpreendeu os numerosos presentes na plateia da sala Mario Gabrielli, em especial a banca de questionadores e examinadores.

Durante a explanação, os pesquisadores expuseram a hipótese de que a afinidade do Zikavirus com células do sistema neural e uma vez no seu interior, pode dificultar ou modificar os seus mecanismos de proliferação e migração nos tecidos faciais. As células neurais primitivas são essenciais para a formação da face, incluindo-se os lábios e palato. Entre estas células neurais, estariam as derivadas da crista neural.

Como assim? 

Quando o óvulo é fecundado pelo espermatozoide, esta primeira célula prolifera intensamente e depois de alguns dias se tem duas populações ou clones celulares. Ao redor do 13º ao 21º dia, o embrião tem uma terceira população ou clone celular. Neste momento, o embrião tem a forma de um botão pequeno de camisa ou de um comprimido de aspirina com três camadas: o ectoderma em cima, no meio o mesoderma e em baixo o endoderma. A mulher nem imagina que está grávida!

Ainda no primeiro mês de gestação, aparece uma depressão em forma de sulco no meio do comprimido para dar origem ao sistema nervoso central. Na crista ou beirada deste sulco no ectoderma, as células são as mais especiais possíveis e migram para o centro da camada média ou mesoderma para dar origem às mais especiais estruturas. Destas células da crista neural se formam nervos periféricos, órgãos dos sentidos, olho, dente, melanócitos e muitas outras partes sensíveis e especiais. A mulher ainda nem imagina que está grávida!

Lábios e placenta 

Lábios e palato se formam entre a 6ª a 8ª semana de vida intrauterina. A mãe nem imagina que está grávida. Por afetar células neurais primitivas e induzir microcefalia, o zikavírus pode afetar outras partes do corpo, em especial a cabeça, que também podem ser anômalas em bebês de mães grávidas que adquiriram a doença. A placenta intermedia a circulação e o metabolismo entre mãe e embrião ou feto e pode ser comparada a um filtro para certas substâncias e microrganismos, mas ela só amadurece e adquire capacidade filtradora completa apenas depois do terceiro mês de gravidez. A placenta não consegue segurar a infiltração de vírus no primeiro trimestre de gravidez e mães com rubéola na gravidez podem gerar filhos com severas anomalias. Se os vírus contatar a mulher grávida depois do terceiro mês, o risco não existirá mais. Na rubéola, o risco de anomalias será de 30 a 50% em contágio no primeiro mês, 25% no segundo, e 8% no terceiro mês de gravidez.

A face e sistema nervoso se formam primariamente nos dois primeiros meses, justamente, quando a mãe não sabe ainda que está grávida e não toma medidas preventivas ao ingerir medicamentos, bebidas, cigarros e drogas, nem evita contágios com pessoas contaminadas por certas doenças.

Sem gravidez planejada, a mulher viaja para lugares contaminados e com mosquitos vetores de doenças como dengue e zika. Sem gravidez planejada, a mulher pode expor o embrião à ação de vários fatores ambientais que induzem anomalias e doenças.

Nos bebês fissurados com microcefalia e filhos de mães com diagnóstico de zika apresentados no congresso, não havia histórico de hereditariedade na família como na maioria dos casos de fissuras labiais e ou palatinas. Isto reforçou a suspeita dos pesquisadores que estas fissuras labiais e palatais estivessem relacionados com a ação do zikavírus. Agora, novos estudos devem explicar melhor esta relação!

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